Vlad.

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Minha visão estava embaçada e sentia dores na cabeça, eu havia acordado com a nuca completamente dolorida.

Me sento na cama olhando em volta.

Fotografias se espalhavam pelas paredes do quarto, partituras de música e livros didáticos de literatura francesa estavam em cima de uma penteadeira cinza, e uma corrente de pisca pisca de árvore de Natal estava acesa e envolvida na cabeceira da cama.

Eu estava no meu quarto.

- Mas o que...- digo esfregando os olhos. Eu quis entender como eu fui parar no meu quarto, por que eu não me lembrava de ter entrado por aquela porta.

- Você baba enquanto dorme.- uma voz familiar falou no fundo do quarto.- Não deve ser com tanta frequência, eu acho.

Me viro quando reconheço a voz rouca. O garoto que me atacou, estava sentado em uma das minhas poltronas de borracha, como se estivesse estado ali por horas. Ele tinha cabelos loiros escuros e usava uma blusa preta com mangas curtas, que definia bem seus músculos. Um colar envolvido em seu pescoço tinha um pingente, que parecia ser uma rosa prateada.

- Você.

Levanto da cama rapidamente para tentar fugir.

- Eu não faria isso.- ele se levanta da poltrona e vem na minha direção com passos lentos.

- Fica longe de mim!- grito.

Sua expressão calma e sorridente me assustaram ainda mais.

Corro para o outro lado do quarto e alcanço a tesoura que estava em cima da penteadeira.

Ele dá um sorriso malicioso e para bem na minha frente com um ar confiante.

- Não vou machucá-la.- diz chegando mais perto. Eu aponto a tesoura mostrando para ele se afastar.

- Você já me machucou, ontem à noite.

Ele recua surpreso e com as mãos levantadas.

- Você se lembra.- Sua voz mal saiu.

- Claro que eu me lembro.- respondo apavorada.- Como eu iria esquecer?

Ele não é assustador, eu pensei. Nada nele era.

Ele parecia normal, um adolescente normal, mas de uma forma mais bela e sedutora do que qualquer outro. E isso era irrelevante naquele momento.

- E do que exatamente você se lembra?- ele pergunta de braços cruzados.

Você vai se esquecer de tudo...

- Ah meu deus..- as minhas mãos começam a tremer.- Os seus olhos...

Me lembro vagamente dos olhos azuis anormais que se fixaram em mim na noite passada.

Ele tenta se aproximar de mim, mas eu ergo a tesoura.

- São encantadores, não são?.- ele diz se afastando com um sorriso.- Ô, calma, você caiu e bateu com a cabeça.

- Não, eu não caí!- rebato com os olhos arregalados.- Você me derrubou, eu senti. Eu estava fugindo e você me atacou...

- Está imaginando coisas.

- Estou? Por que pareceu bem real, assim como os gritos vindos da sua casa.

Ele dá um suspiro e abaixa as mãos.

- Como é possível?- ele diz em um sussurro para si mesmo.- Como é possível você se lembrar?

- Mas do que é que você está falando?

Ele dá uma última olhada para mim, pude ver melhor as pupilas dos olhos dele. E não estavam como antes, elas não estavam brilhando e nem dilatadas.

- Eu preciso ir.

Abaixo a tesoura quando ele sai do quarto, percebi que minha respiração estava completamente desregulada.

Ele ficou tão surpreso quando eu disse que me lembrava de tudo o que aconteceu. Como se não lembrar daquilo, fosse o que ele queria para mim.

Mas eu lembrava.

- Espera!- digo indo atrás dele. Desço até a metade das escadas e me deparo com ele parado perto o suficiente do meu rosto.

- Sim?- ele espera uma resposta com a expressão divertida. O quão ele estava perto, o tom de seus olhos azuis mudaram para algo mais forte. Um azul brilhante. Chego mais perto, quase não deixando espaço entre nós dois. Eu podia sentir a sua respiração bater em meu nariz, me sentia pequena perto dele.

- Você está mentindo para mim- disparo.

- Estou?- ele finge surpresa.- Acho melhor você voltar para cama...

- Pare com isso.- eu peço.

Ele sorri, um sorriso fajuto.

- Com o que?

- Não faça eu parecer uma maluca.- digo ainda assustada.- Não seria justo.

Seu sorriso desapareceu e seu ar calmo se foi. Ele aproxima seu rosto do meu ouvido, me fazendo lembrar da noite passada como se eu estivesse a revivendo.

- Ninguém vai acreditar em você.-Ele se afasta do meu ouvido para encarar meu rosto.- Acredite, é um caso perdido.

Ficamos nos encarando por alguns segundos, quando ouvimos passos vindos da sala.

- Jean?- minha mãe aparece com o celular no ouvido direito.- Você acordou. Está tudo bem?

- Diga, Jean.- ele diz baixinho sem desviar seus olhos dos meus.- Diga, está tudo bem?

Permaneci imóvel, eu apenas segurava o corrimão. Dou um sorriso para a minha mãe e concordo com a cabeça.

- Eu estou bem.- volto a olhar para ele.

Ele sorri satisfeito e depois se vira para descer o resto da escada. Respiro profundamente, encarar uma situação como aquela não era fácil. Na verdade, encarar, não era bem a palavra que eu usaria.

- Sra. Mohrelly.- ele se despede gentilmente.

- Mais uma vez, obrigada Vlad.- diz ela agradecendo.

Me sento na escada quando ele vai embora, fiquei abalada com o queixo caído. Eu não conseguia processar o que tinha acabado de acontecer. Eu não fazia ideia do que realmente estava acontecendo. Mas de uma coisa eu tinha certeza, aquele cara era perigoso.

- Mas o que diabos foi aquilo?- ela exige saber depois de fechar a porta.

Meu vizinho se chama Vlad Onde as histórias ganham vida. Descobre agora