Eu estou afundando.

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***

Eu estava caminhando na varanda do meu quarto, pensando se eu mandava a 26° carta que eu havia escrevido para Jean. Queria poder ligar, mas vir para Tanium incluía ficar sem celular ou qualquer coisa parecida.

Ela não respondeu nenhuma das minhas cartas e isso me deixava paranóico. Pois eu não sabia se ela estava bem, meu pai prometeu que não a machucaria se eu viesse.

- Mandou me chamar, senhor?- Lohan, o mordomo do castelo surge na porta. Eu o entrego a carta.- Mais uma?

- Ora, não reclame. Só quero apenas uma resposta, só isso.

- Meu senhor, já faz meses.

Meses?

Acho que perdi a conta dos dias quando vim para cá. Esse lugar fazia com que você perdesse a noção do tempo, mexe com a sua cabeça até o ponto em que você não se preocupa mais com o mundo lá fora, mas apenas com o seu mundo aqui dentro.

- Não importa.- digo cruzando os braços.- Quero que mande para o correio imediatamente. Pode solicitar que seja entregue nesse mesmo endereço, assim como as outras.- eu aponto para o rodapé do envelope.

Ele dá um pequeno suspiro, mas concorda.

- Estou indo levá-la agora.

- Lohan, mais uma coisa.- peço calmo.- Meu pai deu alguma notícia da Transilvânia?

Ele nega com a cabeça.

- Com todo o respeito, alteza. Mas o senhor deve focar na sua estadia aqui, tenho certeza que o seu pai irá lidar com os problemas que surgirem na Transilvânia.- diz.- Afinal de contas, ele é o Drácula.

- É, ele com certeza é.- digo voltando para a varanda.

- Lohan.

- Senhorita, Olive.- responde ele com um sorriso, logo em seguida deixa o quarto.

- O que ainda está fazendo de roupão?- ela pergunta.

- Não estou afim de sair hoje.

- Ah qual é...- sinto as mãos dela na minha cintura.- Hoje as ruas vão estar lotadas de gente, você tem que vir.

- Olive.

- Nós podemos...

Eu agarro os punhos dela e depois a empurro com cautela.

- Eu não bebia direto da veia há séculos, prometi a mim mesmo que eu não o faria. Aí veio você e Dylan me atiçarem para beber de humanos enquanto estamos aqui.

- Não te obrigamos a nada, você se alimentou daquele cara por vontade própria.- diz dando de ombros.- E eu vi pelos seus olhos. Você amou.

- Sinto saudades da Safíre.- confesso em voz alta.- Ela entendia bem isso, então me afastava. Agora vejo que deveria ter a valorizado mais.

Aquilo cutucou Olive de alguma forma.

- Me desculpe... Eu só quero que você se divirta.

- Você quer me extasiar, para que eu esqueça mais rápido dela.

- A conversa fluiu para a Jean?- seu deboche era óbvio.- Agora tudo se trata sobre ela.

- E você só descobriu agora que tudo se trata dela?- eu exalto a voz.- Estou aqui por causa dela, meu pai está pirando por causa dela, meu povo, meu reino podem ser dela também. E no final de tudo eu não consigo odiá-la.

- É isso o que eu não entendo!- ela esfrega o rosto revoltada.- Jean é praticamente a razão pela qual você pode perder tudo, E ainda assim, só de ouvir o nome dela você amolece como um cachorrinho!

- Cuidado...

- Se não o quê?- ela me afronta.- Eu faria qualquer coisa por você, Vlad. E ainda assim você não me ama.

- Não amo. E sinto muito, talvez nunca irei amá-la.

Ela aperta os lábios.

- Então por que me tornou sua noiva?

- Para te salvar. Meu pai mataria as duas se eu não te transformasse.- explico.

- As duas?- ela arregala os olhos, pude sentir a raiva em sua voz.- Então... fez isso por ela.

- Não foi isso.

- Mas é claro que foi! Eu já estava morrendo! Você só me transformou para salvá-la, não para me salvar.

- Ela te ama.- digo depois de um tempo.- Jean iria sofrer com a sua morte.

Por um breve momento, vi compaixão nos olhos dela. Mas ela endireitou a postura e tornou o seu olhar frio.

- Eu queria nunca ter a conhecido.

Olive virou as costas e foi embora. Fiquei parado ali, pensando em como ela havia mudado. Posso não ter a conhecido bem antes da sua transformação, mas tenho quase certeza de que ela era uma boa pessoa. Agora parece que toda a bondade se tornou uma completa escuridão dentro dela.

Fiquei escrevendo mais algumas cartas para a Jean, em várias delas eu contei sobre o que eu tenho feito na Itália. Em outras, pedia urgentemente uma resposta, estava cansado de me encher de preocupação.

Quando vi, já tinha escurecido e ainda estava na escrivaninha segurando a caneta na mão. Não importava quanto tempo eu gastava escrevendo para ela, desde que ela respondesse, no final terá valido a pena.

Depois de um longo banho na banheira, eu me joguei entre os lençóis e pensei em casa. Se passaram meses e eu nunca senti tanta saudade como estou sentindo agora.

- Vlad?- alguém sussurrou no meu ouvido.

Dou um pulo da cama e me deparo com uma mulher sentada na beira. Ela estava grávida, acariciando a sua barriga com um lindo sorriso no rosto, o seu cabelo loiro estava trançado de um jeito suave e o seu vestido branco de seda com a cauda espalhada pelo chão.

- Como entrou aqui?- pergunto confuso.

Ela se levanta e vem na minha direção bem devagar, de repente começa a gritar de forma agonizante.

- Me ajude!- ela cai no chão e eu tento desesperadamente ajudar.- Por favor! Socorro, o meu bebê não!

- Lohan!

- Estão me rasgando!- ela grita mais alto.

- Lohan por favor me ajude!- eu o chamo.

Eu vejo a garganta dela se rasgar e sangrar sem parar. Coloco a minha mão no pescoço dela na esperança de estancar a hemorragia.

- Não mate o meu filho...- ela estava morrendo.

- Eu nunca mataria o seu bebê.

Ela esgasga.

- Não mate o Vlad.

Acordo suando no meio da noite, eu havia caído no sono. Minha garganta estava apertada e eu não parava de tremer. Aquilo foi um pesadelo, o mesmo que eu tenho tido todas as noites.

Só que ficava cada vez pior.

Vou até a varanda e me sento bem na entrada. Não queria voltar a dormir, estava com medo de fechar os olhos e sonhar de novo.

Meu vizinho se chama Vlad Where stories live. Discover now