Não tem pra onde correr.

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- Vampiros não existem.- digo abalada.- São apenas histórias que contam para criancinhas malcriadas dormirem.

- Acredite no que quiser.- ele vai até a lareira.- É verdade.

- Não, não é possível.

- O que não é possível, é você ser imune a persuasão.- ele diz e pude sentir a irritação em sua voz.

Eu suspiro.

- Você tentou me persuadir.- digo lembrando das palavras.- Queria que eu esquecesse do que houve, colocando lembranças novas no lugar.

- Mas você resistiu.- rebateu.- E você nem precisou se esforçar.

- Essa não é a questão, tá bem? Você podia ter me deixado ir, mas ao invés disso escolheu me atacar.

- Eu não tive escolha. Os humanos não podem saber sobre nós, é uma das regras do equilíbrio. Se souberem, devemos fazê-los esquecer, ja basta os lobisomens. Eu sei que é injusto, mas é assim.- ele diz.- E eu estou muito encrencado, por que você já sabe demais.

- Lobisomens também existem?

- Eles estão em extinção. A última alcateia apareceu na Pensilvânia há alguns anos.

- Tudo tá girando.- eu me apoio no corrimão da escada, ele sai de perto da lareira e me pega pelo braço.- Você é um vampiro. Que cliché.

Ele ri.

- Acabo de dizer quem eu sou e você responde "cliché"

- Não entendo.- digo baixinho.

- Me perdoe pelo alvoroço disso tudo.

Ele abaixou a cabeça e depois foi em direção a parede cheia de pinturas.

- Quantos anos você tem?

- Dezoito.- Ele responde.- Na verdade tenho 172, mas...

Meu queixo caiu.

Ando rapidamente até a porta.

- Aonde você vai?- ele pergunta vindo atrás de mim.

- Eu vou pra casa.- eu paro na varanda.- Isso é loucura.

- Eu não contei tudo.

- Não precisa.- digo levantando as mãos para interrompe-lo.- Sério, isso é demais. Vai que é um sonho. Eu devo mesmo ter tropeçado e batido a cabeça na calçada.

Saí da varanda apressada para chegar em casa. Tudo era um absurdo, por um momento eu quis acreditar naquilo, que ele era um vampiro. Parecia que havia uma parede de concreto bloqueando a verdade de mim. E eu não me esforçava para derrubá-la, por que eu tinha medo do que mais poderia ter do outro lado.

****

Procurei Olive por todos os corredores da escola e não a encontrei, no banheiro feminino não estava, no ginásio não estava, até na sala de aula ela não estava.

Ontem Vlad me contou que ele era um vampiro, e a minha reação não foi a melhor. Eu não estava me preocupando tanto com isso, eu apenas queria viver com a mesma visão de antes. Mas eu não podia mais, por que eu enxergava o mundo diferente agora.

Droga... esperei tanto que fosse apenas um sonho ou que eu estava em coma.

- Ah, eu te achei.- diz Olive vindo em minha direção.

- Eu que te achei, procurei você por toda a parte, onde você estava?

- Eu estava no refeitório.

- É eu não procurei em toda a parte...

- Você está bem?- Ela pergunta tocando o meu rosto.- Está meio pálida.

- Deve ser o tempo. Está muito frio últimamente.

- Se deve ser isso...- olhei para os corredores que estavam vazios, pensei ter visto alguém passar perto do portão que levava ao ginásio. Uma sombra.- Terra chamando Jean.

Balanço a cabeça e presto atenção em Olive.

- Desculpe.- eu esfrego os olhos.- Não tive uma boa noite.

- O que houve?- Ela pergunta preocupada.

Olive era a minha melhor amiga, eu confiava nela de olhos fechados e de mãos atadas. Eu queria contar que Vlad era um vampiro e que vampiros e lobisomens existiam. Mas isso só a faria achar que eu estava ficando maluca, e de qualquer forma, não era um segredo meu. Se eu contasse, alguma coisa ruim poderia acontecer.

Como eu poderia contar?

- Eu só fiquei trabalhando até tarde no projeto.- menti.- Nada demais.

- Se você diz.- ela dá de ombros.- Liam está no campo sul, treinando pro próximo jogo da temporada. Eu vou vê-lo, quer ir?

Faço que sim com a cabeça e sigo Olive até o corredor que levava ao campo. Há alguns dias eu me sentia confortável andando por esses corredores, eles não eram nada para mim. Mas alguma coisa mudou, talvez era só uma bobagem, mas eu não conseguia mais enxergar humanamente as coisas humanas, eu poderia esbarrar em um vampiro a qualquer momento e eu nunca saberia.

- Por favor me diga que o Aaron não vai estar lá.

Ela me encarou.

- Não, ele anda meio estranho ultimamente. Mas aquele garoto, Vlad, provavelmente vai estar.

Um calafrio passou pela minha espinha.

- O que tem ele?

- Você não soube? Ele entrou pro time de lacrosse.

- sério?- aperto os lábios.- Não diga....

Meu vizinho se chama Vlad Onde as histórias ganham vida. Descobre agora