Capítulo 10

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Deixei Peter em frente a Belleview para que ele pegasse seu carro, e sigo para casa. Vamos nos ver mais tarde.

Quando entro, estão todos reunidos na sala.

Meu coração se enche de alegria, uma cena tão bonita. Uma família completa. Não é a minha mãe ali sentada, e a falta que ela faz, nunca vai passar. Eu tenho as melhores lembranças de D. Evie. Margot também. 

Kitty era tão pequena, as memórias que tem da mamãe, são imagens que ela criou na cabeça e no coração a partir de nossos relatos e algumas fotos. Ela merecia uma figura materna que não fosse a irmã mais velha. E Trina veio para isso, não para ocupar o lugar da mãe que faleceu, mas para ser uma referência e um ninho de amor para Kitty. Elas se adotaram. Tri gosta de mim e da Margot, mas a caçula é seu xodó. Eu não posso julgá-la por isso.

Meu pai está no sofá lendo jornal, com os óculos escorregando pela ponta do nariz, Trina está ao lado dele fazendo palavra cruzada e Kitty largada no sofá com a cabeça no colo de Tri, um balde de pipoca sobre a barriga, ouvindo músicas no celular. O som está tão alto que consigo ouvir o chiado de longe.

-Kitty, você vai ficar surda.
Eu falo alto o bastante para  saber que era com ela que eu estava falando, mas ainda assim não me entende. 

-O quê?
Ela grita. Consequência de quem não tá ouvindo direito.

Trina fala com carinho para Kitty, mexendo em suas trancinhas.
-Sua irmã está dizendo que você vai ficar com a audição prejudicada caso continue ouvindo música com o volume tão alto.

Kitty olha pra mim com a testa franzida.
- Você disse isso tudo?

Caímos na gargalhada. 
-Sim. Foi o que eu quis dizer.

Não há lugar para mim no sofá. Então me deito no tapete e coloco os pés sobre Kitty,  que reclama, mas não me afasta.

Fico alguns minutos em silêncio. Pensando tanta coisa, em tantas decisões que devo tomar que minha cabeça começa a doer.

-Pai?

-Hum?
Ele me responde, mas continua lendo seu jornal.

- Você teve mais de uma opção para entrar na faculdade?
Como você escolheu? Você se arrependeu?
Se Peter estivesse aqui, me chamaria de metralhadora de perguntas, com certeza. 

Meu pai abaixa o jornal e me olha por cima dos óculos.
-Porque eu tenho a ligeira impressão que essas perguntas não são despretensiosas?

-Só responde pai. Com sinceridade.

Kitty curiosamente abaixa o volume de suas músicas, e disfarça ao prestar atenção na conversa.

-Eu vou fazer um café. 

Trina se levanta, com a desculpa de ir para a cozinha. Mas ela pode e deve participar.

-Fica Tri. Não precisa sair. Eu só estou perguntando.
Trina permanece conosco. Eu olho para meu pai, esperando que ele fale como foi sua experiência. 

-Minha época era mais difícil. Eu não tive todas as facilidades que vocês tiveram.

Kitty tira os fones e se dirige ao meu pai, um pouco indignada:
-Você considera crescer sem a mãe, fácil?

Um silêncio paira no ar. Meu pai se entristece pensando em suas palavras e dá razão a Kitty.

- Você tem razão minha filha. Todas as dificuldades que passei com a minha família na minha infância e juventude, em nada se compara ao que passaram sem a mãe de vocês. Eu sinto muito por isso todos os dias.

Me marca, sou todo seu Parte IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora