Capítulo 21

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O relógio na mesinha de cabeceira marca 22h 15min. Kelly já dormiu.  Eu rolo na cama de um lado para o outro. Nem uma mensagem ou ligação de Peter ainda.

Digito no celular: distância entre São  Francisco e Stanford.
43 minutos de carro. Pouco mais de 1hora de trem. Fico quietinha, buscando um sono que não vem.

O telefone vibra sob o travesseiro. Não preciso olhar para saber que é ele. Mas não consigo atender da primeira vez.  Fecho os olhos, mantenho a respiração até que caia na caixa postal novamente.  Chega um alerta de mensagem:

-Amor, cheguei. Me atende. Quero ouvir sua voz.

-Kelly está dormindo.

-Vai lá fora rapidinho. Deixa eu te dar boa noite. 

-Espera.- Respiro fundo. Meus pulmões devem estar bem loucos, nunca trabalhei a respiração tantas vezes em um único dia.

Visto o casaco e me sento no chão do corredor  enquanto disco o número de Peter.

-Porque não ligou por vídeo? Queria ver você. 

-Eu estou despenteada e com a cara meio inchada. -

Mentira. Não quero que você veja minha expressão de serial killer que vou fazer dependendo da sua resposta. Quer dizer, eu  não vou perguntar nada. Me sinto muito, muito nervosa. Mas tento me conter.

- Você já acordou comigo algumas vezes Covey. Eu já vi você descabelada e de rosto inchado. Aliás, não vejo a hora de acordar com você de novo.

Sorrio, fraquinho, mas fico com o coração mais aquecido. 

-Como foi seu dia? - Noite, eu quero saber noite. Me fala sobre o que aconteceu agora a noite. Penso nervosa.

-O Alef disse que você ligou. Eu esqueci o telefone aqui.

-Sim. Eu liguei. Não nos falamos direito mais cedo. E aí?- Acho que estou disfarçando bem.

-Eu fui em São Francisco. A irmã dele começa em Stanford amanhã e precisava de uma carona.

Carona? Carona é quando o motorista está indo para algum lugar, e leva o passageiro até algum ponto dentro se seu caminho. Não quando sai de casa só para isso.

-Uhum. E você foi como? 
Minha voz é tranquila, impassível.  Mas só por fora. Por dentro eu continuava incomodada. Mesmo vendo toda inocência de Peter. 

-Com o carro do Alef. É rápido daqui até São Francisco. A estrada é boa. 

Se a irmã é do Alef, e o carro é do Alef...porque o próprio Alef não foi buscar?

-Porque você foi e não ele?

-Ele se contundiu no treino hoje mais cedo. Acho que estirou o posterior da coxa. 

-Entendi. Ele pediu para você pegar ou você se ofereceu?

-Não. Ele perguntou se eu ia fazer alguma coisa e se dava para eu quebrar essa pra ele. 

Não falei? Peter é solidário, não deixaria alguém que estivesse precisando, na mão.  Essa sempre foi uma das características que eu sempre admirei. E devo continuar admirando.

- Vocês já se conheciam? Deve ser estranho estar em um espaço tão pequeno como um carro, com alguém que você nunca viu na vida.-
 A menos que você seja um taxista ou motorista de aplicativo, o que não é o caso.

- Você sabe que para mim isso não é problema. Eu vim falando de lá até aqui. Ela que é tímida, e ficou muda a viagem inteira. Acho que a garota não vai mais querer olhar na minha cara.

Me marca, sou todo seu Parte IWhere stories live. Discover now