Capítulo 19

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Ocupo um quarto duplo no Alojamento Tau House. Depois de muita pesquisa, foi o local que mais me identifiquei: aqui o objetivo é manter uma atmosfera caseira e bem organizada. A parte social do alojamento dispõe de mesas de ping-pong e sinuca, TV e uma cesta de basquete. Talvez eu nunca desfrute deste setor. Talvez um outro alguém possa desfrutar por mim.

Estou ansiosa para conhecer minha colega de quarto, mas ela ainda não chegou. As camas estão arrumadas, como se fossem receber alguém muito importante. O quarto é  absolutamente simétrico. O que tem de um lado, tem de outro, tão perfeitamente igual,  que parece refletido em um  espelho. A cabeceira da cama está encostada à parede embaixo da janela, onde há uma persiana, caindo aos pedaços. O restante dos móveis estão em bom estado. Além das camas, 2 mesinhas de estudo com 1 gaveta e uma cadeira e 2 guarda-roupas de 2 portas e algumas gavetas internas. O único espelho está na porta, que fica estrategicamente entre os guarda-roupas. É como se demarcasse o espaço que cada uma deve ocupar. 

O lema deste alojamento é a união entre os membros, através do esporte, atividades culturais, redes sociais e serviços filantrópicos. Isso me deixa bastante animada, porque com exceção do esporte, são  exatamente as atividades que eu gostaria de me inserir. O que será que trouxe minha colega de quarto para cá? 

 A noite durou mais tempo do que eu esperava que durasse. Liguei para casa, tive que fazer um tour com a Kitty pelo quarto. Depois foi a vez de conversar com Peter. Ele estava tão cansado que respondia a tudo com sim, não e ahã. O alojamento ainda está bem vazio, então o silêncio é um pouco angustiante. Os únicos barulhos que se ouve, são os sons da natureza.

Ao acordar, uma grata surpresa. Minha colega de quarto chegou. Ela está arrumando suas coisas em absoluto silêncio. 

-Oi. Bom dia.

-Bom dia. Desculpa. Te acordei? Eu tentei fazer o mínimo possível de barulho.

-Não.  Não me acordou. Não ouvi nenhum barulho, acordei por acordar.

-Que bom. Eu sou a Kelly.

Me levanto e a cumprimento com um aperto de mão. Kelly é negra, alta, tem os olhos amendoados e uma pele incrivelmente perfeita. 

-Prazer. Me chamo Lara Jean. 

Eu fico meio atordoada. A beleza dela é estonteante. Seu cabelo está preso no alto, com cachos muito volumosos que adornam sua cabeça como se fosse uma explosão vulcânica. Eu tenho quase certeza que muitas mulheres chegam na esteticista para fazer preenchimento e ficar com a boca igual a dela.

-Que foi? Não esperava dividir o quarto com uma mulher negra?

Eu devia estar perdida no meio de sua beleza. Mas fico chocada com seu questionamento. Meu queixo cai.

-O quê? Não! Tá doida? Eu tô impressionada com a sua beleza, não com o fato de ser negra.

Ela abaixa a cabeça e aperta os lábios. 

-Me desculpa. Eu tô tão acostumada aos olhares de questionamentos pela minha raça que às vezes esqueço que a maioria das pessoas conseguem ver além dos estereótipos. 

-Eu sinto muito por você. Definitivamente isso é uma merda.

Ainda é estranho para mim falar palavrão. Não é algo que costumo fazer, mas não vejo outro adjetivo para o racismo ou qualquer tipo de preconceito que não seja esse.

-Você como oriental deve saber um pouco como é difícil. 

-Sim. Certamente não tão difícil quanto os negros. Mas nós sempre somos chamados de Japa  ou China. Como se não houvesse mais nenhum outro país oriental no mundo.

Me marca, sou todo seu Parte IWhere stories live. Discover now