Me marca, sou todo seu Parte I

Capítulo 23

Quando volto para meu quarto, Kelly está assistindo ao filme O ódio que você semeia, sobre uma adolescente negra que vive uma vida dupla, pode-se dizer. Ela estuda em uma escola de elite, com jovens brancos e mora em um bairro negro da periferia. O ponto chave é a execução de um jovem negro por um policial branco, durante uma abordagem. O título do filme é chocante, mas é exatamente  essa conclusão que chegamos quando termina.

Peguei o filme bem no começo, então consegui compreender tudo. Nós discutimos sobre o tema e a Kelly me ajuda a perceber nuances racistas que estão enraizadas na sociedade, que ninguém vê. Viver com essa menina vai ser uma aprendizagem sensacional. 

Pouco antes de dormir eu pergunto a Kelly sobre Collin, com sinceridade e sem rodeios.
Não sei se ela vai se abrir, eu posso inclusive estar sendo insistente. Mas sinto que ela quer falar, mas falta coragem.

-Eu queria que você me respondesse com sinceridade, se você quiser responder, se não quiser, eu não vou mais insistir:
Qual o problema entre você e o Collin?

Ela se joga de costas na cama. Primeiro sorri, mas logo depois fecha o semblante, me deixando confusa.

-Hoje eu estive com ele de manhã.  Quando saí daqui corri para pegar um carro de aplicativo e namorar um pouco, antes do treino dele da tarde. 

-E foi bom? Porque você voltou feliz.
Ela tenta conter o sorriso, mas não consegue disfarçar.

-É sempre demais estar com ele Lara Jean. Quando a gente tá junto eu sinto como se pudesse fazer qualquer coisa. Por um tempo. Depois eu sinto como se tivesse fazendo a coisa errada.

-Porque? Ele é comprometido?
Ela joga o travesseiro em mim, como se estivesse ofendida.

-Tá louca? Eu nunca ia me apaixonar por um cara que tem outra pessoa. 

-Qual o problema então? Ele não gosta de você?

-Gosta. E cada vez mais me pressiona para assumir um namoro sério.  Da outra vez que estivemos juntos ele me pressionou para conhecer minha família, já que eu já conheço os pais dele. Disse que se eu não o quisesse como namorado, a gente não ia mais se ver.

-É você que não quer assumir um compromisso com ele então.  Só não entendo o porquê.  Chegou aqui feliz e seus olhos brilham quando fala dele, pelo menos quando não tenta fugir do assunto. 

-Você disse que não ia insistir. 
Ela deita se vira para a parede e dá o assunto como encerrado quando cobre a cabeça com o lençol.

-Boa noite Kelly.

-Boa noite.

**

O domingo passa como um raio. Isso não é exatamente ruim,  é um dia a menos que me separa de ver Peter.

Terminei de ler Teto para Dois, ainda bem que persisti. Os personagens são apaixonantes e dá vontade de ler mais sobre eles. Até quando fala sobre o relacionamento abusivo, é de forma leve, embora seja também esclarecedor.  Assisti aos 5 episódios da primeira parte de Lupin, porque Peter cismou que temos que ver a segunda parte juntos. Fiz o trabalho de Educação Financeira, lançando todas as entradas e saídas desta semana e li um texto dissertativo da matéria do Sr. Carlton.

 À tarde, Kelly e eu fomos ver o pôr do sol na Marina de Berkeley.  O visual é realmente deslumbrante. Envio uma foto para Peter com a legenda.

-Ah, você aqui comigo…

-No próximo final de semana, é aí que eu vou estar. 
Me alegro com a resposta, e começar a fazer planos com ele, é inevitável.

- Não vejo a hora. Saudades.