Os irmãos Keims

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Espero do lado de fora, observo as meninas trabalharem, imagino-me ali com elas, colocando os chocolates nas prateleiras e vendo chocolate suíço 24 horas por dia.

Não é o emprego dos sonhos, mas é um dinheiro legal por agora. Só até o ano que vem, quando conseguirei voltar para faculdade e me formar em Administração.

-Pode entrar. - Avisa uma das funcionárias, assim sigo pelo corredor; uma garota loira faz o caminho inverso, deve ser uma concorrente, pareceu-me muito felizinha, isso me incomoda.

Chego até a porta do entrevistador, estou nervosa, mal consigo controlar minhas mãos, mantenho-as fechadas apertando os dedos com força.

-Desculpa, moça. - Diz o homem que me atropelou com um carrinho carregado de caixas, caio de bunda em cima da porta que se abre.

Levanto depressa, coração acelerado no ritmo de uma reza de misericórdia, "que ninguém tenha visto isso", mas já há um tele espectador me encarando. 

-Bela entrada. - Diz o homem de bom humor.

-Desculpa, o carrinho... - Começo a me explicar e desisto, paro no meio da frase com a mão erguida apontando para trás, fico sem ação por um momento, odiando-me por ter caído.

-Pode se sentar. - Diz.

Faço o que ele pede, o homem tem o cabelo castanho normal, recém cortado pelo visto, em cima um pouco mais alto e baixinho dos lados. Usa blusa branca com finas listras azuis, de botão com uma gravata azul marinho combinando, você pode me achar doida, mas ele tem uma pintinha no pescoço abaixo da orelha, acho engraçado eu reparar nisso, mas reparo.

-Você é a Maria? - Pergunta com uma folha na mão, o que parece ser o currículo que entreguei esses dias.

-Na verdade se fala, Má Riáh. Me chamo Mariah Vinz.

-Maria... - Ele continua falando errado. - Qual a qualidade que você mais preza em outras pessoas?

-Eu prezo? Mas é você que... Hãnnn. - Embaralho-me toda, que porcaria. - Sinceridade, é... isso, ser sincero é importante.

-Então, serei sincero com você. - Ele desabotoa os dois primeiros botões da blusa e desfaz o nó da gravata.

-O que o senhor...?

-Estou sendo informal, já que não irei te contratar... - Ele põe os cotovelos em cima da mesa, bem relaxado. - Estou sendo sincero, não há nenhuma chance de você ser contratada hoje.

-Ah. - Digo babacamente. - Tudo bem então... - Afinal o que mais eu poderia falar. - Quer que eu me retire? - Ameaço levantar, sem entender nada.

-Vai desistir assim?

-Você disse que não tenho chance. - Dou de ombro.

-E não quer nem saber o porquê? - Ele franze a testa.

-Porque eu não tenho chance? - Pergunto, já irritada sem ter certeza se é tudo uma brincadeira.

Ele pega uma monte de papéis e espalha pela mesa.

-Aqui estão as trinta meninas que entrevistei hoje, e já escolhi as duas que preciso antes mesmo de você entrar na minha sala caindo.

-Mas você escolheu sem me conhecer? - Digo claramente brava, já não me importando com a situação de estar numa entrevista de emprego.

-Para uma menina que entrou caindo, não acho que possa ser melhor que as duas que já escolhi.

-Tenho certeza que uma das escolhidas é a loira que acabou de sair. - Reviro os olhos.

As quatro agendasWhere stories live. Discover now