Mariah - "Desculpa a demora"

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Na rodoviária compro a passagem para o lugar mais longe que eles têm, e mesmo assim não chego nem ao Estado do lado, no máximo atravesso cinco cidades, mas lá deve ter outra rodoviária.

Só consigo ficar mais tranquila, quando entro no ônibus e me acomodo na última poltrona. Olho pela janela, como se a qualquer momento algum dos Keims pudesse aparecer correndo, tento encostar e fechar os olhos, mas não consigo, fico encarando a janela paranoica.

Não quero pensar sobre mais nada, e quanto mais tento, mais se repetem as cenas na minha mente. Tipo aqueles episódios de série que mostra as melhores partes de cada personagem, bem assim, imagens de Jessie sendo o cara mais legal do mundo dês do primeiro dia que o conheci. E Nathan, que mesmo me dando arrepios, nunca pensei que fosse terminar assim, querendo me matar. Sem esquecer de Ian, e os mistérios que procuro resolver com as poucas memórias que tenho com ele.

Mesmo não querendo pensar sobre nada, ainda prefiro me torturar pensando neles, do que no cara que abandonei agora a pouco, o cara que tem uma pintinha charmosa no pescoço bem abaixo da orelha. Que se minha vida fosse uma história, ele estaria nas primeiras páginas, porque antes dele, não havia história. Só havia eu.

O ônibus finalmente saiu, consigo ficar menos nervosa, estou sem celular, sem documento, sem nada. Sem nem lugar pra ir ou ficar. Fugir não está me dando o alívio que pensei que fosse encontrar.

Eu não sei como consegui, nem que horas, mas adormeci. Soube apenas quando acordei com o sol nascendo e o ônibus estacionando na rodoviária. Desço e compro outra passagem, que quase acaba com o dinheiro todo, mas agora vou para outro Estado. Como um salgado seco e um suco péssimo naquelas máquinas, entro no segundo ônibus.

O salgado me deixou enjoada. Como estava quase na divisa, cheguei rápido ao Estado do lado, preciso de lugar para ficar, procuro um banco, e após um processo longo e estressante, consigo tirar um pouco de dinheiro da conta. Procuro um hotel, tomo um banho e adivinha? Imprimo currículo e saio para entregar pelo centro da cidade. Passo a tarde fazendo isso, tentando me ocupar, para não desenvolver ideias melhores como a morte ou ficar meses assistindo netflix.

Apesar de que, estou cansada de andar e vou acabar na netflix de qualquer forma.

Assim que escureceu, procurei alguma lanchonete para comer algo mais molhado do que o último salgado, sento num banco da bancada e aguardo o Chinês trazer meu pastel.

Eu olho o pastel, o pastel me olha, já estou sentindo minhas reservas de lágrimas se movimentarem, até que aguentei bastante tempo a famosa bad. Estou até que orgulhosa! Larguei um casamento, um emprego foda e provavelmente o amor da minha vida pra comer um pastel de origem duvidosa enquanto um cara de olho puxado me encara.

Estou encarando o Chinês com uma carranca pra vê se ele se toca e para de ficar me regulando, quando alguém senta no banco exatamente ao meu lado, aquele lugar estava praticamente abandonado e vejo só o movimento de alguém sentando-se ao meu lado.

Se me perguntasse que eu achasse que fosse aparecer quando eu fugisse, não acertaria nem em um milhão de anos.

-Oie, o que faz por aqui? - Pergunta, com um sorriso simpático e olhinhos brilhantes de anime.

-Jhey? Não pode ser coincidência. - Ela olha para o lado e volta a me encarar, parece um gesto do tipo "não entendi". - Você veio atrás de mim?

-Como assim? Sim, acho que sim, pelo menos eu não comeria aqui. - Ela ri. - Eu estou comendo ali do outro lado, macarronada, muito melhor, vai por mim.

-Está comendo com quem? - Sinto um aperto no coração, imaginando um dos meninos com ela.

-Com minha mãe... Você tá estranha. - Nasci estranha, Jhey. - E você está com quem?

As quatro agendasWhere stories live. Discover now