As quatro agendas

Lisa Keims

- Não tem como continuar sendo secretária, não agora que nos casamos. - Lisa diz, servindo o prato de seu recém marido.

Usando sua camisola de renda preta, Lisa quase some na cozinha, cujo armários, fogão, geladeira, paredes e chão são da mesma cor. Isto realçava seu corpo, mesmo sua pele bronzeada, seus seios enchiam a renda e suas pernas pareciam desenhas com o contraste.

-Nada mudará lá, o fato de ter que contratar outra pessoa de confiança é muito perigoso e prejudicial, não só para mim quanto para meus irmãos. - Nathan, usando somente a calça social e blusa desabotoada respondeu num tom sério demais,  odiava ter que falar assim com ela, mas sempre que o assunto era trabalho, parecia automático.

-Mor, você me entende, né? - Lisa coloca o prato na mesa e senta-se de lado no colo de Nathan, passando a mão em seu cabelo com carinho.

-Estou querendo não entender. - Ela ri, dando tapinhas no peito dele. - Fico cansado só de pensar em ter que contratar alguém de confiança, porque ninguém nunca é.

-Eu fui.

-E olha como deu errado, me casei.

-Casar em outro país não conta, aqui você está solteiro. - Lisa beija o pescoço de Nathan, mordendo de leve, arrepiando do tornozelo até a cintura.

-É isso que eu ganho tentando ser romântico. - Nathan envolve a cintura de Lisa, inclinando a cabeça levemente para a direita, facilitando os beijos e chupões no pescoço. - Tenho 10 minutos para sair e você quer me provocar assim?

-Como sua secretária ainda, sinto em lhe informar que tem uma reunião marcada para daqui 2 minutos, naquele quarto ali.

Nathan riu, riu como nunca riu com mais ninguém, riu com um frio gostoso na barriga por finalmente amar e ser amado, como nunca antes.

-Hoje será seu último dia como secretária. - Nathan levanta da cadeira pegando-a no colo.

-Meu último dia.

Era seu último dia.

-Soube é que seu último dia. - Jessie apareceu na sua mesa com olheira arroxeadas e fundas, lábios escuros como se estivesse com hipotermia.

-Está se sentindo bem?? Parece doente. - Lisa se levanta e põe a mão em sua testa, que contrariamente está bem quente. Assim que seus dedos tocaram sua testa, Jessie fechou os olhos sentindo aquele toque. O que a fez parar de tocar imediatamente.

-Estou bem. - Diz, contradizendo seu tom de voz arrasado.

-Jessie, sei que evitamos falar sobre isso, mas acho importante sermos sinceros e abertos um com o outro. - Jessie apoia os cotovelos sob a mesa e joga a cabeça de lado, fazendo uma cara de anjinho que acabou de ser expulso do céu injustamente. - Estou com Nathan há um tempo já, porque minha saída faria diferença?

-Sei que não faz, mas não consigo evitar. - Diz com a voz baixinha e chorosa, como uma criança que faz manha.

-Jessie...

-Não, não precisa me consolar, Lisa. Eu nem estou triste por você não ser apaixonada por mim, sabe? Estou triste por ninguém ser, é algo comigo.

-Ninguém estar apaixonada agora é culpa sua, Jessie. Você que não se permite, você só teve contato comigo por causa do trabalho, por isso, assim que deixar alguém se aproximar, verá como és uma pessoa apaixonante.

-Fiquei com você primeiro, eu só fico remoendo o fato de ter tido a chance, de poder ter feito você se apaixonar e...

-Jessie, não é por ordem de chegada.