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BLASE LEBLANC

Afrouxo o colarinho da minha camiseta social creme, o sol queima meu couro cabeludo enquanto ando pelo campo de golf. Clientes esnobes e cheios de dinheiro reclamaram das condições dos tacos, que aliás, estão em perfeitas condições, então tive que sair do meu escritório com ar condicionado para andar no calor insuportável de Palm Beach. Prefiro mil vezes passar o dia inteiro enfiado no escritório do que cuidar do terreno do resort, às vezes tenho raiva de termos uma propriedade tão grande, além é claro da parte reservada a praia. Eu só queria ter tido a oportunidade de escolher o que faria pelo resto da minha vida.

A parte do campo de golf é a mais longe possível do mar, para dar mais tranquilidade aos jogadores, por isso não consigo escutar as ondas quebrando. Entre jogar tênis ou golf, prefiro bem mais golf, passei boa parte da juventude com meus amigos aqui, bebendo enquanto jogávamos, ou apenas com meu pai, em um momento de lazer nosso. Faz tempo que não temos um momento só nosso juntos, anoto mentalmente para reservar o campo de golf um dia para nós, sinto falta de passar um tempo com Marc, ainda mais agora que vou precisar de muitos conselhos sobre como ser um bom pai.

Tiro a chave do carrinho de golf que temos para usar dentro do resort, apenas a equipe. Bufo chateado com todo o transtorno que os clientes fizeram, a pior parte de trabalhar com público é isso, a ignorância das pessoas, mas como estamos envolvidos no ramo da hotelaria, o cliente sempre tem a razão, mesmo quando não tem de fato. Devagar vou dirigindo pelo meu resort, sempre tive muito orgulho dos meus pais por terem conquistado tudo isso sozinhos e mesmo que às vezes reclamo por ter que administrar isso, sou grato por ter algo para administrar.

Murmuro uma letra do Frank Ocean, a tarde está um pouco abafada e sinto minha camiseta social grudar em meu corpo, a minha nuca já está suada. Estou passando pela frente de um dos gramados quando enxergo a cabeleira de Chipre, ela está sentada em cima de uma toalha, rabiscando freneticamente alguma coisa em um caderno, a morena vive com um caderno para cima e para baixo agora. Desde o ultrassom, percebi que Chipre vem estando mais afastada, parece que ela está apenas vagando, sem se importar onde está ou com quem está. Decido parar o carrinho e fazer companhia para ela, temos que ter um bom relacionamento.

- Posso? - digo assim que paro em sua frente, cobrindo o sol que atacava seu rosto, Chipre está usando um shorts e uma camisa de alcinhas.

- O resort é seu - ela murmura pegando um lápis de cor no tom azul, reviro meus olhos - pode sim, Bale.

Sento ao seu lado na toalha, observando pelo canto do olho ela desenhando, uau, ela desenha muito bem. Chipre está recriando a paisagem a nossa frente, dando um ou outro detalhe diferente. Seus dedos são um pouco longos, o que facilita o trabalho, não sou o maior conhecedor artístico, entretanto sei que ela não aplica muitas técnicas, acho que Woods nunca estou a fundo arte, mas ela possui um talento e isso já conta muito. Abro os botões da minha camiseta, para circular um pouco de ar pelo meu corpo.

- Não sabia que você desenhava - comento apoiando meus cotovelos na grama - você desenha bem.

- Fazia tempo que não desenhava mais - a morena explica com a ponta da língua para fora - tinha o costume de desenhar bastante na sala de aula.

- Ah, isso eu também tinha, principalmente em física - conto e ela ri baixinho - por que não desenhava mais?

Chipre segura o lápis contra o papel, pensando em como responder a minha pergunta. Ela não se conhece, viveu por muito tempo em um relacionamento abusivo e sua personalidade era a personalidade que seu namorado queria que fosse, acredito que se ela não estivesse grávida, Woods ainda estaria com ele. Um suspiro pesado escapa de seus lábios, analiso sua fisionomia, suas sobrancelhas estão franzidas e seu olhar é duro.

Uma troca de favores Donde viven las historias. Descúbrelo ahora