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CHIPRE WOODS

Deixo o livro na mesa de cabeceira da cama, minha cabeça está estourando e quando fecho meus olhos, sinto a cama rodando, como se estivesse bêbada. Respiro fundo e encaro a porta, os dias estão passando lentamente e minha barriga está ocasionando dor em todos os ossos do meu corpo. Pego o copo de água e tomo um grande gole, sentindo um frescor por completo em mim. Embiez chuta forte e faço uma careta de dor, ultimamente seus chutes estão sendo mais doloridos do que no início, sei que ele está ansioso para sair, porém ainda não é a hora.

Emma entra dentro do quarto com uma bandeja cheia de comidas, principalmente frutas. Mas é um envelope branco que chama minha atenção, vejo pela sua expressão facial que a carta vem do continente africano, mais precisamente dos meus pais. Murmuro um agradecimento para ela, que deposita um beijo em uma testa, entre todos nós, Emma e Marc são os mais animados para o nascimento do meu filho. Pego uma maçã e dou uma mordida, mastigando lentamente a fruta, em seguida pego a carta, observando a letra totalmente delicada da minha mãe.

Por mais que não queira abrir, preciso fazer isso antes que meu filho nasce, porque depois, não quero mais ter contato com eles dois. Desdobro lentamente as folhas de papel, engulo um seco e ponho a maçã mordida em cima da bandeja.

Querida Chipre,
Você nasceu em uma manhã chuvosa, as gotas caiam tão violentamente que por um momento achei que aconteceria uma tempestade tão horrível que acabaria a luz na cidade inteira. Porém, inexplicável, assim que você deu seu primeiro choro de vida, a chuva parou e um lindo sol nasceu, juntamente com um arco íris, foi assim que ocorreu um dos melhores dias da minha vida. Começou com uma manhã chuvosa e terminou com um belo sol.

Quando Colin nasceu, por um minuto, a sala inteira ficou em silêncio, ele não havia dado seu choro de vida, não havia mostrado que estava vivo e foi nesse momento que eu e seu pai soubemos que Colin seria diferente de você. E ele foi diferente... só que não fomos diferentes em sua criação, isso custou sua vida e a nossa.

Nós matamos nosso filho. Pensamos que não seria nada sério, já havíamos criado você e sua saúde era perfeita, logo, do Colin também seria, mas não foi. Era apenas um resfriado, lembra que estava tudo sob controle? Lembra, filha, que achamos que não seria nada? Pois é, não foi apenas um resfriado, foi uma doença que levou meu filho de seis anos embora para sempre.

Não me orgulho de como cuidamos de Colin e muito menos do que fizemos com você. Porém, o luto é algo difícil de se entender. Eu olhava para você e me sentia um fracasso como mãe, como pude criar uma linda filha e deixar meu garotinho morrer? Como pude ser um mostro como meu próprio filho? Foi difícil, Chipre, tão difícil, que vários dias me peguei com vários comprimidos na mão, na esperança de acabar com a minha dor. Não pensei em você, no seu pai ou na vovó, eu só queria ter meu filho novamente comigo, ter uma chance de ser uma mãe melhor.

Então um dia seu pai chegou com a ideia de virmos passar um pequeno tempo na África, mas precisamente na Argélia, ajudar pessoas que precisam ser ajudadas, para assim, tirarmos a ideia de que matamos nosso filho. E nós fomos, você sempre se deu tão bem com a vovó que na nossa cabeça, tudo bem você passar alguns meses com ela. Nós iríamos voltar com a cabeça e coração melhores e finalmente seríamos bons pais para você e honraríamos a memória do seu irmão.

Só que aqui, vivemos em meio a essas pessoas que precisam de ajuda mais que tudo, uma parte minha não se sente culpada pela morte de Colin. E novamente sendo egoísta, decidi que queria ficar aqui, porque meu amor, nós nunca iremos entender o luto por completo e mesmo fazendo alguns anos da morte do seu irmão, eu ainda estou de luto por ele e sei que ficarei eternamente, até o dia que irei encontrá-lo no céu.

Uma troca de favores Where stories live. Discover now