BÔNUS - UM CONTO DE EMBIEZ

6.8K 461 85
                                    

EMBIEZ LEBLANC

House of memories do Panic! At the disco está tocando nas caixas de som do centro cirúrgico, balanço lentamente minha cabeça enquanto enfio minha mão dentro do corte aberto e com delicadeza retiro a parte do estômago onde o câncer havia se espalhado. Meu auxiliar está com a bandeja pronta ao meu lado, deposito o estômago e volto meu olhar para a cavidade interior do paciente, analisando se será preciso retirar ou não o baço dele. Amy, a enfermeira que trabalha comigo desde que assumi a chefia da oncologia do hospital, estica uma pinça para mim, após trabalhar anos com ela, o fato de Amy parecer ler meus pensamentos não me assusta mais. Apenas para não ficar com peso na consciência, cutuco o baço dele e assinto ao saber que minha suspeita está certa e felizmente não precisarei tirar mais nada de dentro do homem.

– Equipe, parabéns, mais uma remoção de câncer feita com sucesso – anuncio e alguns deles emitem barulhos de comemoração.

Como protocolo, me afasto da mesa e deixo o grupo de enfermeiros juntamente com os internos seguirem com a realização da sutura do corte e a preparação pós cirurgia. Caminho pela sala com o objetivo de chegar no lixo contaminado, ao mesmo tempo que arranco minhas luvas que estão sujas de sangue e desamarro o nó da roupa cirúrgica, assim que paro na frente da lixeira, jogo o par de luvas e a roupa, e por último tiro a máscara de proteção, que por ter sido contaminada com sangue, vai para o mesmo destino dos outros acessórios. Finalmente saio da sala de cirurgia e vou para a pré-sala, realizando a higiene das minhas mãos e me preparando para receber inúmeros abraços no momento de contar para a família do homem que acabei de operar que ele está livre do seu câncer e que agora eles podem aproveitar cada momento da vida juntamente com ele.

– Foi uma ótima cirurgia, doutor LeBlanc – Amy diz parando ao meu lado, nem havia reparado que ela saiu do centro cirúrgico.

– Hoje é um dia especial – comento e com as mãos levantadas, vou até o dispenser de papel toalha – é apenas uma vez na vida que iremos ter o primeiro casamento – Amy solta uma gargalhada, porque sabe que a frase foi para ela, visto que a enfermeira já está no terceiro casamento.

Assim que seco minhas mãos e jogo os papeis toalhas fora, saio inteiramente do centro de cirurgia, feliz em saber que consegui salvar uma vida no dia do meu casamento. Cantarolo baixinho uma canção em francês, os corredores do hospital estão uma loucura, como sempre estão, vou andando em passos rápidos até o vestiário, onde irei tirar a roupa que usei durante a cirurgia e colocarei uma roupa limpa e o jaleco com meu nome bordado. Não sou muito fã em dar o feedback do paciente pós cirurgia, principalmente quando ocorre óbito, mesmo tendo anos de serviço, nunca sei e saberei como agir em situações assim.

Mas hoje é o dia do meu casamento e nada, absolutamente nada, irá tirar a felicidade que circula em minhas veias e artérias. Pego meu celular e vejo as dezenas de mensagens dos meus pais e principalmente do meu irmão mais novo, Davis, que está super preocupado com seu discurso como padrinho, porém mesmo não tendo lido nem uma vírgula do discurso, sei que ele está incrível, porque tudo que Davis faz é incrível. Faltam exatamente cinco horas para a cerimônia e depois a luxuosa festa que acontecerá nas dependências do resort dos meus pais. Sei que minha noiva está em um nervosismo puro e que mesmo que hoje seja o dia mais feliz da sua vida, deve estar sendo também o dia mais estressante. Gostaria muito de poder ajudar em cada mínimo detalhe do casamento, mas sendo o chefe da ala de oncologia, não podia me dar esse luxo e os preparativos ficaram aos cuidados da minha noiva, da minha mãe e da minha irmã.

– A cirurgia foi um sucesso – digo para os familiares de Bunton Morgan, um homem de 53 anos que desenvolveu câncer no estômago a poucos meses – daqui a pouco já poderão vê-lo.

Uma troca de favores Où les histoires vivent. Découvrez maintenant