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Rogê

Meu peito doía só de saber que a única pessoa que eu tinha pra tomar conta, eu vacilei e deixei passar por mil traumas, tá ligado?

Eu tinha obrigação de cuidar dela, eu prometi pra minha mãe que ia cuidar dela, como que eu dou um vacilo desses? Dessa vez ela sobreviveu e na próxima?

São perguntas que me deixa confuso pra caralho, e a minha maior vontade é de mandar ela pra bem longe, prefiro longe e segura do que perto e a todo momento tá de olho.

De alguma forma ela se sentia sufocada, eu fui dar uma brecha, e aconteceu nisso.

Eu sou da paz mermo, não tenho guerra com morro nenhum, mas sou muito mirado pela milícia, e meu maior medo era de tocarem no meu bem mais precioso, e aconteceu o que eu mais temia..

Isabella: eu tô bem, para com isso- não aguento não, ela sabe que quando se trata dela eu fico totalmente vulnerável. Fiz carinho no cabelo dela e respirei fundo engolindo seco- a gente precisa conversar.

Rogê: não pode ser depois?- ela negou com a cabeça e eu respirei pesado.

Isabella: a Hanna, ela que me ajudou a sair de lá também, eu queria ajudar ela de alguma forma, entede...

Rogê: fica suave.

Fiquei conversando com ela, até a menina entrar, mó cara de mendinga, tava mó lindinha, é gostosa de corpo também.

Isabella: e você vai pra onde mulher?

Hanna: Acho que vou voltar pra minha cidade

Isabella: sem documento?

Hanna: Vou dar meu jeito- se olhou no espelho.

Rogê: chega aí- chamei ela saindo da sala.- quanto tu precisa?- ela apertou o olho e ficou me encarando seria- da teu valor.

Hanna: e porque estaria recebendo esse valor?

Rogê: salvou a vida da minha irmã, é o máximo que eu posso te ajudar- ele sorriu negando e fez menção em sair, mas eu segurei o braço dela.

Foi um ato totalmente de impulso, a menina encheu o olho d'água e começou a chorar, eu fiquei todo sem jeito, não sabia se saia dali ou se ficava.

Fui tentando abraçar ela aos poucos, rebateu, me machucou mermo, balancei ela querendo rir mas fiquei sério.

Hanna: me solta- falou com voz de choro, continuei abraçado com ela, chorou de soluçar, quando ela começou a se acalmar eu soltei- eu não quero dinheiro por pena.

Rogê: tem outra opção?

Hanna: Trabalho, eu vou achar um.

Rogê: sem documento?- cruzei os braços- para de ser maluca, aceita essa porra logo- respirei fundo tentando não xingar ela- consigo um trampo pra ti.

Hanna: em que?

Rogê: vai trabalhar pra mim.

Enfermeira: pode anotar a papelada do pagamento?- dei uma assinatura falsa e entrei com a enfermeira pra ela dar medicação pra Isabella.

Isabella: sabe o dia que eu vou ter alta?

Enfermeira: possivelmente na semana que vem.

Isabella: fala isso não tia- fez cara de sofrida, ela sorriu e eu de braços cruzados prestando mais atenção no que ela fazia do que na conversa- me conta.

Rogê: não dá pra ajudar quem não quer ser ajudado- falei sentando no sofá, quando a mulher tinha saído- tá na merda, mas não tira a marra.

Isabella: ela é meia brutinha assim mesmo, um pouco orgulhosa também, mas eu converso com ela.

Rogê: vê essa meta aí e me avisa- levantei- vou voltar pro morro, vou dar bobeira não, amanhã volto pra te levar pro hospital do morro. Na garantia que você esteja melhor.

Isabella: eu tô bem uai, é só um furinho- brincou e eu fiz cara feia- se cuida, amo você.- beijei a cabeça dela e enterrei o boné na cabeça.

Quando eu saí, a doida não tava ali não. Tava tranquilo que minha parte eu fiz.

Hanna: ei- me chamou na porta do hospital- vou dormir com ela, mas depois a gente conversa sobre o assunto do emprego. Acenei com a cabeça e liguei a moto.

Voei até a cdd e já parei na boca pra fumar um. Antes de ir relaxar, refiz a contagem das drogas e mandei pro aliado que pediu emprestado, quero ver só como esse cuzão vai pagar.

Bagulho de facção é complicado pra caralho, porque vai além do teu morro, tu tem que pensar também nos aliados, se não o comando todo cai em cima de você.

E por mais que tu tenha as armas mais fortes, oito favelas conta uma é de fuder irmão, tu cava tua morte.

Eu vou no que eu acho certo, certo pelo certo sempre, até agora não tive problema, e espero não ter futuramente.

Galego: falai irmão, chamou?

Rogê: tua quantia pelo socorro- entreguei uma bolsa de dinheiro.

Galego: qual foi, tu sabe que eu considero a gurizinha uma irmã, precisa disso não.

Rogê: Cê que sabe.- peguei a bolsa de volta.

Galego: qual foi, era só você insistir mais- puxou a mochila da minha mão- é a gente sempre patrão, eu por você, e você por nós.

Rogê: Cobrança, teu turno começa agora- entreguei fuzil.

Galego: tu é muito filha da puta- falou rindo e eu fiquei serinho- se pá eu vou pensar se vou.

Rogê: Brinca pô, se tu acha que tu aguenta- acendi meu baseado.

Galego: fica esperto, meus filhos tão pra nascer.

Rogê: cada um com seus problemas, adianta o seu, se quiser acompanhar os primeiros dias.

Galego: Jae.

Fiquei fumando meu baseadinho na paz, sem ninguém incomodando, e ficando na minha onda tranquilão.

No amor & na dor.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora