CAPÍTULO 2

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Any

Cheguei na cozinha vestindo minha calça rosa de pijama e uma regata preta, atraída pelo cheiro de cebola e alho sendo refogados. Enrolei meu cabelo úmido num coque alto e parei ao lado do cozinheiro, observando sua desenvoltura com a panela.

— Vai demorar muito? Estou com um buraco no estômago.

— Você está sempre assim... — ele murmurou, entortando a boca num sorriso.

— Digamos que hoje ele está o dobro do tamanho.

Passei por Josh e peguei pratos e talheres para arrumar a mesa. Depois me sentei na banqueta de frente para a divisão da cozinha americana, apoiando os cotovelos na bancada e tomando conta do que ele fazia.

— O livro novo já tem título? — perguntei, sabendo que Josh considerava essa uma das etapas mais difíceis no processo de um livro novo. Ele podia demorar um dia ou semanas até achar o nome ideal.

— Ainda não.

— Quando vou poder ler? Você está trabalhando nele há umas duas semanas e ainda não me mostrou um capítulo sequer.

Eu fiz biquinho, mesmo sabendo que ele estava de costas e não podia ver.

Joshua Beauchamp me acostumou mal, isso sim. Era normal que ele imprimisse os capítulos conforme ia escrevendo e deixava que eu lesse para dar minha opinião.

Era apenas um feedback, mas ele nunca mudava um detalhe ou incluía alguma coisa só pelo meu ponto de vista. Era um bicho de cabeça muito dura. Mas, sempre fazia sucesso.

— Estou saindo um pouco do meu estilo nesse livro, então, por enquanto, não quero que você leia. Talvez quando eu já tiver escrito mais da metade...

— O quê? — aumentei o tom de voz para chamar a atenção dele, que se virou para me olhar. — Você vai me fazer esperar esse tempo todo? Isso é sacanagem, Josh!

— Não é não. É bem compreensível.

Vi quando ele despejou o macarrão cozido dentro da panela com outros temperos e começou a mexer. O cheiro estava impregnado por todo o apartamento e me fez salivar. Por um instante, eu esqueci o assunto do livro e me concentrei em mirar na direção do fogão e fazer com que minha força do pensamento preparasse a comida mais rápido. Talvez tenha funcionado, pois dez segundos depois, Josh apagou a chama e despejou o macarrão aos quatro queijos dentro de uma travessa.

Ele trouxe para a mesa e nos servimos em silêncio. Minha fome era muita para que eu perdesse tempo usando a boca para qualquer outra coisa que não fosse comer. O filho da mãe era um bom cozinheiro. Não gostava de ir para a cozinha e nem se aventurava em nada muito trabalhoso, mas sempre que cozinhava, a comida ficava com um sabor maravilhoso.

Eu estava terminando de raspar o prato e olhei para ele, que comia e olhava o celular ao mesmo tempo.

— Então, vai me contar pelo menos do que se trata o livro? — Eu era insistente.

— Talvez.

Estreitei meus olhos na direção dele e vi abrir um sorriso naquele rosto presunçoso. Escritores costumavam se achar a última bolacha do pacote, não é mesmo? Só porque suas mãos ditavam a vida e a morte de muitas pessoas queridas. Fictícias, mas queridas.

— Eu vou precisar tacar algum sapato na sua cabeça para que você desembuche? — perguntei, irritada. — Por que está fazendo tanto suspense com esse livro? Você sempre me conta tudo!

Josh soltou os talheres e se recostou à cadeira. Ele cruzou os braços atrás da cabeça e o sorriso aumentou, elevando também a minha irritação, pois parecia óbvio que o idiota estava se divertindo às minhas custas. Se pelo menos ele tivesse dentes feios... Mas nem isso. Ele tinha aquele tipo de grande sorriso Colgate com dentes perfeitos. E covinhas. Malditas covinhas. O tempo era mesmo o melhor amigo de uma pessoa, porque só o tempo para transformar aquele patinho feio e desengonçado nesse homem lindo.

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Where stories live. Discover now