CAPÍTULO 4

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Josh


Any era aquele tipo de leitora que deixava todas as suas emoções transparecem em seu semblante. Por isso eu gostava de observá-la enquanto lia meus primeiros rascunhos; a usava como um termômetro para ter noção de como o grande público reagiria.

Grande público. Isso ainda soava muito estranho em meus ouvidos. Lancei meu primeiro livro de forma tímida e humilde, numa livraria de um bairro decadente, com um punhado de leitores que eu podia contar em duas mãos. A tiragem de 100 exemplares tinha sido excessiva para o tamanho do meu público.
Eu não me importei, no entanto. Escrevia por uma questão de realização pessoal e, o que viesse depois disso, era lucro. Naquela época, estava dando aula de escrita criativa de forma que pudesse sustentar minha vida sem luxos.

Foi uma surpresa quando o manuscrito do meu quarto livro, Na Mira da Morte, chamou a atenção da Perkins Books, uma das dez maiores editoras do país. Entrei de cabeça numa nova realidade enquanto via os exemplares serem vendidos que nem água no deserto e os críticos elogiando o meu trabalho como escritor. Eu ficara extasiado com a hipótese de que, um dia, realmente poderia viver de escrever livros. Existia gente no mundo que comprava minhas histórias porque elas eram boas, não porque queriam me agradar.

O fenômeno aconteceu com Degraus, meu último livro. Ainda não tinha aprendido a administrar a fama que veio junto com o título de “um dos melhores romancistas contemporâneos”. Eu não era a pessoa mais extrovertida do mundo e ficava sem graça toda vez que alguém me reconhecia na rua e pedia autógrafo.
Abrir minhas redes sociais então, tinha se tornado um caso à parte. Não conseguia dar conta dos comentários, mensagens, fotos de livros, tudo que chegava a cada minuto para mim. Fora os presentes. Eu recebia presentes.

Muitas, muitas cartas e as mais diversas lembrancinhas fofas — além das esquisitas. Já recebi calcinhas, sutiãs, pedidos de casamento, nudes.

Essa era a parte que mais me assustava, porque eu não conseguia entender. Eu não era tão bonito. Toda vez que eu dava alguma entrevista e aparecia na televisão ou em vídeos na internet, sentia vontade de enterrar minha cabeça num buraco e nunca mais sair de casa. Eu podia aceitar que se apaixonassem por algum personagem meu, mas não pelo cara que os criava.

Lancei um olhar para Any, que estreitava os olhos enquanto lia os primeiros parágrafos do prólogo. Ela dizia que eu era “gato” e que precisava me acostumar com a ideia de ter fãs. Na visão de Sarah, estava na moda ser nerd.

Fácil falar, sendo ela uma pessoa completamente diferente de mim. Eu tinha mais de 1,80m e era magro, sem esses músculos de frequentador de academia.
Meu cabelo loiro parecia sem graça alguma. Meus olhos azuis não eram daqueles que tinham mil e uma colorações como os personagens literários e minha íris não possuía nada de espetacular. Não usava roupas da moda e também não era fotogênico. Eu gostava de silêncio, de casa, conforto e poucos amigos.
Sempre me sentia um peixe fora d’água nos eventos literários ou em qualquer outro tipo de evento. Podia parecer arrogância, mas era apenas timidez.

Any era pequena, do tipo que cabe em qualquer lugar. A cabeça dela batia em meu peito e, normalmente, meu abraço cobria ela por completo. Era fácil gostar de Any. O cabelo comprido e castanho contrastava com a pele muito negra. Seu rosto me lembrava o de um pássaro que necessitava cuidados.
Grandes e redondas bolas pretas cobertas por cílios longos e espessos como se fossem postiços. O nariz fino e muito delicado e um sorriso largo formado por lábios grossos. Ela tinha esse rosto de lolita que enfeitiça e azucrina a vida de qualquer homem. Quem não a conhecesse direito, pensaria logo que era meiga, fofa e delicada. Encantadora.

Ela arrotou na minha frente e se ajeitou no sofá. Imaginei que estivesse na parte em que Melanie se encontra com o cliente dentro do reservado. As bochechas ganharam uma coloração rosada e seus dentes prenderam o lábio inferior. Ela se remexeu, parecendo desconfortável naquela posição e dobrou as pernas sob o corpo.

Prendi a risada quando vi seus olhos se arregalarem e um pigarro ecoar em sua garganta. Como estava sem sutiã, foi fácil notar que não eram apenas os pelos dos seus braços que estavam arrepiados. Era isso que eu estava esperando acontecer, pois minha intenção era atingir o público feminino. Exatamente do jeito que elas gostavam.

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Where stories live. Discover now