CAPÍTULO 28

646 51 8
                                    

Josh

Permaneci deitado como morto, sem me mover, até umas duas horas depois de ouvir Any bater a porta de casa e ir para o trabalho. O tesão veio e foi embora enquanto eu repassava na mente todas as imagens da noite anterior. Ainda estava difícil de acreditar em tudo que tinha acontecido. Any e eu transamos como dois coelhos dentro de um banheiro público. Só aquele detalhe, para começar, já se afastava muito da minha realidade.

Esfreguei os olhos, forçando-me a despertar de uma vez por todas. Meu estômago já protestava pelo tempo em que ficara sem receber comida e, como não tinha nada em casa, se eu quisesse comer, precisaria ir na rua.

Venci a disputa contra a preguiça e sentei na cama, observando o lado em que Peach tinha dormido a noite toda. Sorri, com o cheiro de sexo impregnado em cada canto do meu corpo e naqueles lençóis. Quando coloquei os pés no chão, acabei pisando sobre a calcinha de Any.

— Essa aqui você não vai ver nunca mais — falei, perdido em devaneios, girando a lingerie no dedo e pensando num bom lugar para guardá-la como souvenir.

Depois de arrumar a cama e tomar banho, saí para fazer umas compras e abastecer a geladeira. Como Any passava boa parte do dia fora, sempre sobrava para mim o papel de dona de casa.

Algumas pessoas do bairro que me conheciam, fizeram questão de me cumprimentar. Alguns comentavam algo sobre um dos meus livros que estavam lendo, outros queriam saber dos novos projetos e, duas ou três pessoas que seguiam minhas redes sociais já estavam sabendo do contrato cinematográfico.

Demorei mais do que o esperado para voltar pra casa e minha primeira refeição do dia acabou sendo o almoço. Em seguida, tranquei-me no escritório para tentar escrever alguma coisa. O monitor me encarava e minha mente buscava o próximo parágrafo da saga de Melanie.

Ao pensar na minha protagonista, os olhos de Any entraram em foco. O que, exatamente, eu tinha na cabeça quando decidi criar uma personagem parecida com minha melhor amiga? Era óbvio que eu arrumaria problemas.

Talvez eu devesse mesmo mudar a cor do cabelo de Melanie. Poderia também colocar-lhe olhos mais claros, que diferenciassem um pouco mais. Até então, eu não tinha parado para pensar que estava descrevendo, minuciosamente, o corpo de Peach para todos os meus leitores. Era compreensível que ela tivesse ficado puta quando descobriu.

  Eu adorava os pais de Any e sempre me sentia muito acolhido quando estava com eles. Como já tinha bem mais de um mês que eu não aparecia na lanchonete, resolvi dar um pulo lá para ver Paul e Samantha.

Inspirei o cheiro de café do local assim que passei pelas portas de vidro. Peach estava atrás do balcão, sorrindo para uma senhora idosa que esperava pelo troco. Quando me viu, as bochechas coraram instantaneamente e eu sorri.

Eu me debrucei sobre o vidro quando a senhora foi se sentar numa das mesas e olhei para Any. Ela estava prendendo o sorriso e tentando ser profissional, pois sempre era muito séria no ambiente de trabalho.

— Seus pais estão aqui? — perguntei, girando um canudo entre os dedos. — Estou com saudade deles.

— E de todos os dias do ano, você escolheu hoje para matar a saudade.

— Exatamente — sorri e pisquei para ela.

Eu dei a volta pelo balcão e adentrei o seu espaço de trabalho. Alcancei-a por trás e beijei-a no rosto, sem deixar de apertar seus quadris com meus dedos.

— Vou lá atrás falar com eles — avisei.

Entretanto, não foi necessário. Um segundo depois de soltar Any, ouvi a voz de Samantha atrás de mim.

— Josh! — Ela me abraçou antes que eu conseguisse cumprimentá-la e era engraçado, pois Samantha era tão miúda quanto a filha. A cabeça dela ficava na altura das minhas axilas. — Eu estava ontem mesmo falando de você para Paul. Por que sumiu, rapaz?

Sam me soltou e arrumou minha camisa, sem perceber que ela já estava amarrotada antes do abraço. Depositei um beijo no topo de sua cabeça e sorri para aquela senhora que, provavelmente, era a mais simpática que eu já tinha conhecido.

— Comecei a escrever um livro novo — respondi, encolhendo os ombros. — Mas hoje quis abrir uma exceção e vim visitar vocês.

— Ele não tem vida social quando começa a trabalhar em algum projeto — Any queixou-se sem se dar ao trabalho de olhar para nós dois. — Aliás, ele não tem vida social nunca!

Sorri para Sam e me voltei para a criaturinha ranzinza no caixa. Apertei meus braços ao redor do corpo dela e encostei meu queixo em seu ombro. Como trabalhava de tênis, minha coluna protestou com a diferença de tamanho.

— Ontem eu saí com você, não foi? E lembro que nossa noite foi incrível — comentei, alto o bastante para ela saber que a mãe estava ouvindo. — Qual foi o momento do qual você mais gostou, Peach?

— Vocês saíram ontem? Bom garoto. — Soltei Any e me virei para Samantha, que apertou minha bochecha. — Fico mais tranquila por saber que Any teve companhia. Morro de preocupação só de pensar nessa menina saindo sozinha à noite. Você está tão bonito, Josh!

— São seus olhos, Sam.

— Ora, eu enxergo muito bem. Não se faça de humilde. — Vi que ela lançou um olhar na direção de Any, que estava de costas para nós. — Infelizmente, não são todas as mulheres que enxergam tão bem quanto eu. Você é um exemplar raro!

Quis me encolher com a indireta. Sempre que encontrava com os pais de Any, nós dois costumávamos sofrer uma avalanche de indiretas sobre relacionamento. Se dependesse de Sam e Paul, estaríamos casados e criando três filhos.

— Acho que vou lá atrás dar um oi para Paul — disse, tentando me desvencilhar da mãe casamenteira.

— Olha aí! — Sam agarrou meu braço quando eu comecei a me distanciar e me puxou na intenção de fofocar. — Esse homem vem quase todos os dias aqui, está obcecado pela Any.

Lancei um olhar na direção da porta e reconheci o cara de cabelo escuro que se aproximava do balcão. Era o baterista da banda de ontem. O sorriso que ele abriu denunciava o quanto estava caidinho por Peach, mas a reação dela não foi igual. Ela olhou rapidamente para trás e encontrou meu olhar antes de se virar para atendê-lo.

— Boa tarde, Any!

— Oi — respondeu. — Expresso e croissant?

— Ela se faz de forte, mas venho notando que aos poucos ele está conseguindo acesso a ela — Samantha cochichou para mim, com um sorriso faceiro. — Já que ela não namora, né? Outros vão aparecendo...

Deixei a mulher falando sozinha e me aproximei de Any por trás, colocando um braço de cada lado do corpo dela, apoiando minhas mãos sobre o balcão à nossa frente.

— Você já almoçou? — perguntei.

David levantou o olhar para mim, pois era mais baixo do que eu. Senti a fúria em seus olhos negros e devolvi com um sorriso no rosto. Pude notar a tensão em cada centímetro do corpo de Any e eu sabia que, se ela pudesse, chutaria minhas bolas.

— Já — respondeu ela, monossilábica.

— E aí? Tudo bem? — Estiquei minha mão para David. — Prazer, sou Josh.

Ele me lançou um olhar desconfiado, mas correspondeu ao gesto e apertou minha mão.

— David.

— Josh é meu amigo — Any explicou.

— Melhor amigo — consertei. — Moramos juntos.

Nem eu mesmo entendi a necessidade de dar explicações ao cara e sabia que Any devia estar puta pela minha intromissão. Assim, tomei a decisão de dar espaço a ela e sair de perto. Pedi licença e fui procurar por Paul Soares.

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Where stories live. Discover now