CAPÍTULO 59

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Josh

— Por que sua mão está suada? — ela perguntou quando tocamos a campainha na casa dos pais, num sábado à noite. Any levantou o rosto e exibiu um sorriso divertido.

— Temos alguém nervoso aqui?

— Estou com calor.

— Conta outra, Josh — debochou, apertando os dedos nos meus. — Sinceramente, não sei pra que tanta preocupação. Meus pais talvez te amem mais do que amam a mim.

Assim que Samantha abriu a porta e nos recebeu, a filha já me puxou para dentro enquanto cumprimentava a mãe.

Naquela manhã, Any tinha recebido a ligação do pai, nos chamando para jantar com eles. Estávamos mesmo planejando divulgar a novidade há algumas semanas, mas nunca encontrávamos o momento certo.

Além do mais, eu precisava tirar Any de casa porque ela estava atazanando meu juízo. De hora em hora perguntava se eu já tinha escrito o capítulo final de Identidade e, obviamente, eu não trabalhava sob pressão.

— Meu amor, como você está? — Sam segurou meu rosto e beijou minha bochecha, esticando o corpo todo para me alcançar. — Any está dando muita dor de cabeça?

— Apenas o de sempre. — Encolhi os ombros e sorri quando Any revirou os olhos para a mãe.

— Perguntar se eu estou bem, você não pergunta, né? — ela reclamou, deixando-nos para trás e indo abraçar o pai.

— Não preciso perguntar, pois sei que Josi cuida bem de você. — Sam passou um braço por dentro do meu e caminhou comigo. — Se não fosse ele, você ainda moraria conosco, porque não sabe nem fritar um ovo.

Achei graça da expressão enfezada de Any, mas me ocupei mesmo em saber como eles estavam. Tinha muito tempo que não conseguia parar para ir até a lanchonete.

— O que tem para o jantar? — a esfomeada perguntou, sem deixar que a gente conversasse direito antes de comer.

Eu me sentei ao lado dela enquanto Paul tomava seu lugar na cabeceira e Samantha ia até a cozinha. Voltou trazendo uma travessa fumegante e sorrindo.

— Fiz a lasanha que você adora.

Bem, Any não fazia cerimônia na hora de comer e, portanto, colocou no prato um pedaço que era o dobro do tamanho do meu. O que me deixava sempre numa situação chata, pois os pais dela estavam acostumados com a comilança e achavam que eu devia acompanhar.

— Está animado com o filme, Josh ? — Paul perguntou, enquanto enchia o copo com suco de limão. — A Sam não para de falar sobre isso.

— Claro! Porque agora eu finalmente vou poder conhecer alguma história dele — ela se justificou e depois olhou para mim com um olhar arrependido. — Sabe que não sou de ler, não é querido? Tenho certeza que seus livros são os melhores do mundo, mas não consigo arranjar paciência pra ficar presa numa leitura.

— Eu sei, Sam. — Pisquei, descontraído. — Já ficarei feliz por vocês assistirem à adaptação. E sim, estou bem ansioso para o lançamento.

Infelizmente, ainda faltam alguns meses.

Any virou o rosto para mim e sorriu enquanto me observava discursar. Eu retribuí, segurando a mão dela por baixo da mesa.

— É um mundo completamente novo para mim e eu sei que, provavelmente, posso vir a me estressar em algum momento por causa do roteiro, mas...

Travei os dentes quando senti a mão de Any tocar em meu pau. Ela só podia estar me sacaneando!

A safada ao meu lado continuava com o sorrisinho no rosto, mas olhava na direção da mãe dela. Respirei fundo e lancei um olhar rápido para meu colo, na tentativa de ver o que estava acontecendo ali, mas a mão de Any estava escondida sob a toalha da mesa.

— Josh? — Sam me chamou, esperando que eu terminasse de falar.

— É... — Onde eu estava mesmo? Pigarreei e me ajeitei na cadeira. — É isso.

O casal me olhou como se eu tivesse saído de órbita, o que não era totalmente mentira. Sorri, tentando pensar em alguma coisa para puxar outro assunto enquanto rezava em silêncio para que nem Paul nem Sam percebessem o que estava acontecendo.

Ao meu lado, a maligna Any usava a mão direita para remexer a comida no prato.

— Estou te achando diferente, querida — disse Samantha, perdendo alguns segundos enquanto analisava a filha. — Desde que vocês passaram por aquela porta, senti que estava mais feliz. É impressão minha?

— Deve ser porque estamos namorando — ela largou a bomba de repente, como se fosse uma informação corriqueira.

A sala ficou em silêncio e os olhos de Samantha se esbugalharam quase prestes a saltarem das órbitas. Primeiro, ela olhou para mim, depois para Any, depois para Paul. Meu atual sogro estava sorrindo, tranquilo.

— AH MEU DEUS DO CÉU! — Sam se levantou de supetão e sua cadeira caiu para trás. Os braços para o alto e a boca escancarada pareciam indicar que ela estava pronta para muitos abraços.

— Estou muito feliz por vocês — disse Paul, se inclinando e dando tapinhas no meu ombro. — Sempre achei que formam um belo casal.

Engoli em seco quando vi que Samantha estava dando a volta na mesa e minha situação entre as pernas estava, digamos, endurecida. Empurrei com pressa a mão de Any e olhei para ela de cara feia. A filha da mãe piscou para mim e se levantou, interceptando sua mãe pelo caminho.

— Ah, querida! Essa é uma notícia digna de comemoração! — As duas se abraçaram. — Se vocês tivessem avisado antes, eu teria feito um jantar fabuloso! Teria comprado uma garrafa de vinho para brindarmos e...

— Mãe, estamos namorando. Não é uma festa de noivado.

— Por enquanto, não é? — Sam piscou para mim por cima do ombro de Any.

— Pelo amor de Deus, Samantha — Paul estalou a língua e descansou os talheres no prato. — Pare com esse exagero ou vai espantar o Josh.

Apalpei minha calça com a discrição que me era possível e olhei para o sogro. Alguém ali embaixo precisava voltar a dormir.

— Na verdade, falando assim de casamento, é capaz de Sam assustar a própria filha — murmurei, debochado. — Essa é dura na queda, mas vocês já sabem disso.

— Ah, tá! Falou o cara que é expert em relacionamentos — Any zombou, soltando a mãe e se aproximando de mim. Senti um peteleco de leve na nuca e segurei aquela mão pequena antes que ela escapasse.

Para não precisar levantar e correr o risco de passar vergonha, puxei Any para meu colo e ela se sentou de lado, deixando escapar uma risada. Com os braços ao redor do meu pescoço, ela beijou meu rosto.

— Ele é um nerd tão bonitinho, não é papai?

— Não o chame de nerd, Any — minha sogra ralhou e deu um beijo no topo da minha cabeça. — Bem-vindo de volta à nossa família, meu querido!

Ah, sim. De volta. Eles nunca esqueceriam nosso namoro fake e isso me incomodava um pouco, pelo fato de Paul e Sam não saberem que estávamos vivendo tudo pela primeira vez.

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Where stories live. Discover now