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VIVI

Acordei péssima mais tarde! Toda vez é isso, ajo na emoção e depois tô chorando. Fiquei em pé no balcão quase que dormindo atendendo o pessoal, péssimo.

Trabalho em farmácia há algum tempo e faço faculdade de farmácia também.. tô no quinto semestre, na metade do curso.

Minha vida nunca foi fácil, não é nem questão de se lamentar nem nada, é a verdade. Sempre morei com a minha mãe, meu pai também... mas ele morreu quando eu tinha doze anos de acidente de moto.

Depois disso as coisas passaram a se complicar pra minha mãe e meu irmão, a falta de dinheiro dentro de casa. Mesmo minha mãe sempre trabalhando, era um salário pra três pessoas e nossa, venhamos e convenhamos que um salário não dá pra porcaria nenhuma.

Mas a gente ia se virando, eu comecei a vender brigadeiro na escola, salgado, meu irmão vendia geladinho e assim íamos vivendo.

Dois anos depois eu engravidei e tudo desmoronou, não só pra minha mas pra minha mãe.

Eu jovem, inocente... me apaixonei por um vagabundo fudido que só fez me iludir. Fez toda a minha cabeça e eu realmente achava que ele me amava, apresentei ele pra minha mãe que não aceitou nosso namoro e mesmo assim continuei vendo ele escondido.

Minha mãe não foi com a cara dele de primeira!

Continuei ficando com ele às escondidas, até ele tirar minha virgindade. Eu otaria, não tomava remédio nenhum, tampouco camisinha. Ele dizia que pele na pele era mais gostoso e eu idiota, caia na dele.

Cada dia que passava eu me apaixonava mais por ele, fazia planos da gente ficar junto pra sempre e ele ainda alimentava dizendo que eu era a "mulher da vida dele".

E não demorou pra eu engravidar, questão de uns dois meses. Foi um pesadelo pra mim!

Descobri e contei pra ele, e sabe o que ele fez?

Me deu um belo de um pé na bunda, não assumiu e ainda inventou mentiras dizendo que não podia ter certeza que era dele.

Contei pra minha mãe, que ficou muito decepcionada comigo, muito mesmo. Não me bateu nem nada mas só o olhar dela acabou comigo.

Sentou e conversou comigo. Disse que a partir dali eu ia deixar de ser uma menina e ia virar uma mulher, mesmo que seja na tora.

Parei de estudar... as coisas se apertaram lá em casa e eu saia procurando emprego que nem uma condenada, tomando sol quente na cara e nada... ninguém queria da emprego a uma adolescente grávida, ninguém.

Continuei vendendo os salgados e os doces pra ver se adiantava alguma coisa mas tava complicado... até que meu irmão entrou pro crime.

Outra decepção pra minha mãe, pegava ela chorando várias noites sozinha e eu chorava mais ainda por saber que também tinha culpa.

Mas em nenhum momento pensei em interromper a gravidez. Foi um erro meu mas arquei, mesmo com todas as dificuldades eu tive o meu Kevin.

E mesmo o meu irmão tendo ido pro lado errado, hoje eu entendo que foi pela gente, por mim e pela nossa mãe, pela dificuldade que a gente passou na época.

Outro PatamarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora