17| Bonequinho de plástico

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Enquanto Lis tenta lidar com os indesejáveis sentimentos que ela ainda nutre por seu vizinho e com o luto de duas pessoas muito importantes para a mesma, Alec Adams, o capitão do time de futebol da sua faculdade, passa a fazer da vida dela uma coisa ainda mais emocionante e caótica.

Enquanto Lis tenta lidar com os indesejáveis sentimentos que ela ainda nutre por seu vizinho e com o luto de duas pessoas muito importantes para a mesma, Alec Adams, o capitão do time de futebol da sua faculdade, passa a fazer da vida dela uma coi...

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― O que a pobre caixinha de suco te fez? ― Adams apareceu no meu campo de visão, tirando-me da minha discussão interna.

Olhei para a caixinha de suco de laranja que tinha em mãos e entendi a que ele se referia. Sem que eu percebesse, em algum momento, comecei a amassar a caixinha entre meus dedos com força. ― Sorte que estava vazia. ― Subi meu olhar até o rapaz sentado de frente para mim, sorrindo feito um idiota.

― O que está fazendo aqui? ― cuspi entre dentes.

― Vim conversar, óbvio. ― disse. ― Por favor, me diga que essa sua fama de mulher das cavernas é apenas fama...

― Do que diabos você está falando?

― Ah, você sempre parece presa em um outro mundo, uma caverninha imaginaria onde somente existe você e seus segredos. Não importa quem bata a porta, você nunca a deixa entrar... não é cansativo ou solitário?

― Porra, você é um babaca sem noção. ― Murmurei enquanto juntava minhas coisas com as mãos trêmulas e me levantava da mesa.

Que se danasse quem diabos o bonequinho de plástico achava que era, garoto de ouro ou presidente da república, minha vida não era da conta dele e nem de ninguém. Viajei os olhos pela cantina, percebendo que a atenção das pessoas estava sobre nossa mesa. Merda. Eu odiava isso...

― Não torça sua calcinha por tão pouco, Anna Lis. Achei que tivéssemos avançando de nível... ― Sorriu com divertimento.

― Não sou a droga de um vídeo game para avançar de nível. E não estou deixando-o entrar na minha caverninha... não é o ideal para garotinhos tão bem criados como você. ― seu sorriso murchou e levei isso como um incentivo para continuar. ― Não vou falar outra vez, então preste muita atenção: Conversamos no outro dia por conveniência. Não pretendo ser uma de suas peguetes, amigas ou conhecidas. Seja sensato e não volte a me incomodar uma terceira vez. ― deixei o refeitório sem dar ao menos uma chance para o garoto dizer algo.

♡♡♡

― Obrigada, Adams. ― retirei o cinto de segurança e o encarei.

― Não foi nada... ― Ele esboçou um sorriso meia boca e me senti horrível por isso. Adams não deveria fingir um sorriso, logo ele que tinha um tão expressivo e contagiante. Mesmo que a intenção deles fosse molhar calcinhas.

Fiz menção de abrir a porta do carro, quando ele voltou a falar.

― O que te fez levantar muros tão altos?

― Do que está falando? ― perguntei.

― Não é algo de que eu me orgulhe, Anna Lis, mas já magoei garotas antes... algumas pelo simples fato de não sentir o mesmo e outras por ser inevitável. Mas com você é diferente. É como se carregasse essa dor por tanto tempo que não conseguisse mais escondê-la. ― E lá estava o olhar de pena outra vez, mas esse não me fez sentir mal. ― Você é uma mulher linda e inteligente, mas parece não se dar conta disso. Sempre que te olho, só consigo enxergar uma pessoa que vive se lamentando... alguém que não consegue ser feliz. Então, o que diabos fizeram com você?

Em algum momento, as lágrimas que tanto segurei durante o dia, vieram à tona, mostrando o quanto Adams estava certo. Eu odiava isso. Odiava que alguém que mal me conhecesse, no final, soubesse tanto sobre mim. Alec Adams precisou de apenas dois dias pra descobrir a farsa que eu era... Levei as mãos no rosto quando os soluços aumentaram. Era horrível como o som dos meus soluços dominavam o pequeno espaço, e como o garoto estava tão silencioso.

Fiquei surpresa quando braços me embalaram e uma mão foi posta em meus cabelos, massageando os fios com carinho. A outra fazia movimentos circulares em minha costas. O abracei de volta, encaixando minha cabeça na curva do seu pescoço e inalei seu perfume.

Era uma sensação completamente nova chorar nos braços de alguém que não fosse o casal vinte. O sentimento que o ato me proporcionava era de pertencimento. Era bom. Era ótimo. Contudo, era uma mentira. Adams estava certo sobre ser cansativo deixar todos longe da minha caverninha. E foi por isso que o mesmo conseguiu me ler tão bem nos últimos dias, eu estava simplesmente exausta. Isso não quer dizer que eramos íntimos ou que ele me entenderia em algum momento da vida. O rapaz sabia que tinha algo quebrado em mim e deduziu que foi por um cara. Mas Alec não sabia toda a história, desconhecia as circunstâncias, e não fazia a mínima ideia de que não se tratava apenas de um coração partido. Me sentia quebrada porque era somente eu contra o mundo. Nada de família ou namorado. Não havia me sobrado nada além de uma casa vazia e uma única visita dos meus amigos no final do mês.

Era muito mais que um coração partido.

Me soltei do abraço do rapaz e enxuguei as lágrimas.

― Quer entrar? ― perguntei, me afastando dele. ― Ainda tenho aula em menos de vinte minutos e vai ser difícil arrumar um táxi...

Sei que eu podia ter sido mais direta ao pedir uma carona, mas pedir favores era algo novo pra mim.

Alec sorriu e assentiu com um leve balançar de cabeça.

Sempre | Melhores momentosWhere stories live. Discover now