18| Palavras vazias e desesperadas

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Dean viu Anna Lis com o Alec, e, por não segurar o ciúme, ele vai até a casa dela para tirar satisfação.
Super tóxico, sim.


Continuei a olhar para a tela do celular, pensando no que responderia quando senti a sensação de estar sendo observada. Engoli à seco ao me deparar com a figura alta e esguia do meu vizinho. Dean Stone estava parado na minha varanda, as mãos escondidas nos bolsos da calça e o olhar fixo em mim. Ele era o mesmo cara de cinco anos atrás, e ainda sim, tinha um presença completamente diferente. Seu traje eram as mesmas roupas formais de hoje mais cedo, e me senti intimidada pela superioridade que o terno caro e a postura aristocrática despejava sobre minha cabeça. Mas isso já era de se esperar, certo? Havia se passado muito tempo, afinal.

― Também mentiu sobre estar bebendo, Scott?

Quando a frase me atingiu, parei de examiná-lo e encarei seus olhos. Olhos aqueles que me fulminavam como se desejassem queimar minha alma. Franzi o cenho sem entender onde queria chegar. O cretino não tinha o menor direito de vir até a minha casa e me acusar de coisas sem sentido.

― O que diabos está fazendo aqui? ― perguntei rude. ― Achei que tivéssemos esclarecido tudo noite passada.

Dean passou a descer os poucos degraus da minha varanda, sem tirar o seu olhar raivoso de mim. Engoli à seco quando sua figura se tornou mais nítida, e senti meu coração errar uma batida assim como acontecia anos atrás. Ele sempre foi o meu calcanhar de Aquiles, o que me deixava extremamente indignada comigo mesma. Deveria ser crime alguém ter tanto poder sobre alguém como ele tinha sobre mim.

― Perguntei primeiro, Anna Lis. ― Rebateu friamente, parando a dois passos de mim e me encolhi internamente. Fraca. No entanto, não demonstrei nenhum pouco. Ele poderia ter me tirado tudo, menos a coragem.

― E o que te faz pensar que pode vir até a minha casa e me exigir alguma coisa?

O rapaz contraiu a mandíbula e cerrou os punhos, lembrando muito um cão raivoso. Mas não me importei. Afinal, o que diabos eu devia a ele?

Simplesmente, nada.

― Estou feliz, Stone. Minha vida está ótima... ― Nos últimos anos eu tinha ficado boa nisso. Mentir. ― porquê você teve que voltar e abalar tudo?

― Feliz ? ― seus olhos, lábios, tom de voz e expressão, tudo berrava "mentirosa".

― Como nunca antes. ― dei de ombros.

― Então, porque os e-mails diziam o contrário?

Lá estava o olhar de pena outra vez.

― Ou tudo o que tinha nos e-mails era mais uma de suas mentiras? ― proferiu com escárnio.

― Do que está falando?

― Estou falando do cara que abriu a sua porta hoje mais cedo e dos malditos e-mails, Scott. De todas as coisas que escreveu...

Então, Alec estava certo. Stone havia ficado incomodado com a presença do rapaz, e eu não sabia se gargalhava ou se mandava o idiota para o inferno. Ele estava noivo, porra.

― Os e-mails foram um erro e minha vida pessoal não é da sua conta.

O rapaz deixou o olhar cair sobre os próprios sapatos e riu com escárnio. Mas a dor estava lá, consumindo seus gestos mais simples; o arranhado na voz, o brilho amargo em seus olhos ou os lábios levemente frouxos.

Mas isso não bastava para mim...

― Como pode suportar tudo o que aconteceu nos últimos cinco anos? ― pisquei uma dezena de vezes ao ser pega de surpresa, e mesmo sabendo ser um erro, decidi que queria ser sincera dessa vez.

― Não o fiz.

― Mas disse que estava feliz! ― Falou contrariado.

― Stone, olhe pra mim. ― pedi, abrindo os braços. ― Veja o que me tornei e me fale se pareço com alguém feliz. A única pessoa que sempre me amou e protegeu acabou sendo tirada de mim por um câncer fodido, e ainda me culpo todos os dias por não ter estado ao lado dela quando ela mais precisou. E ainda tem essa droga de casa que parece mais uma caixa de tortura onde tenho que reviver as lembranças diariamente. Durante toda a minha vida tudo o que fiz foi perder aqueles que amava... Você me quebrou, Dean Stone, mas o mundo simplesmente me destruiu.

Um silêncio ensurdecedor recaiu sobre o ambiente. Não sei se por vergonha ou qualquer outra coisa, mas Dean não fez menção de me responder.

Um suspiro por exaustão escapou de meus lábios.

― Quer saber, você devia ir embora... isso aqui está começando a ficar patético. ― aconselhei resignada, enquanto contornava seu corpo e retomava meu caminho para casa.

― Me mandar ir embora é tudo o que você sabe fazer. ― murmurou, fazendo-me parar onde estava.

― E ir é tudo o que você faz. ― Sua mão agarrou meu braço abruptamente e ele me virou em sua direção, rapidamente, travando seu olhar irado e caótico no meu.

― Não pense nem por um instante que essa merda foi fácil pra mim. ― Rosnou, seu hálito quente fazendo cócegas em minhas bochechas.

Foda-se.

― Mas foi a porra da sua escolha. ― Bradei furiosa com lágrimas grossas embaçando minha visão. ― Me deixar aqui sozinha enquanto o mundo caía sobre a minha cabeça, foi escolha sua.

O olhar dele caiu.

Dean suspirou.

― Eu não devia ter vindo.

― Não, não devia.

― Mas eu vim mesmo assim... e não me pergunte o motivo, eu só senti que precisava.

Por causa do Alec e da possibilidade do meu coração não ser mais seu. Não me quer por perto, mas ainda me quer sua, certo? Meu cérebro acusou.

― Você realmente foi capaz de me amar algum dia? ― as palavras pularam dos meus lábios.

E com essas palavras consegui que ele finalmente me olhasse nos olhos. Seu rosto expressava algo entre ansiedade e desespero, como se não soubesse se deveria me responder.

― Em um dos emails contei sobre o sonho que tive e nele você ia embora. Mas não cheguei a contar que o motivo de ter me pegado chorando naquela noite foi, porque, quando acordei e não te encontrei em lugar algum, me desesperei. Senti como se um vazio estivesse se instalado em meu peito e nunca mais pudesse ser tirado de lá. E então, você apareceu na porta do banheiro e toda escuridão foi embora. Foi naquele momento em que me dei conta de que ainda te amava, e no segundo que me abraçou acreditei ser recíproco. Mas você foi embora no dia seguinte e passou cinco anos sem dar notícias. Fiquei me perguntando se havia imaginado tudo...

Dei um sorriso meia boca, tentando mostrar que estava tudo bem, mas não foi o bastante quando as lágrimas voltaram a ganhar a batalha sangrenta. Mordi o lábio inferior.

― Eu nunca te amei, Anna Lis. Quando descobri que estávamos estudando no mesmo colégio, aproveitei a oportunidade de zoar com você. Mas as coisas saíram do controle e achei melhor ir embora antes que grudasse em mim como quando eramos crianças.

Senti um frio na espinha ao escutar o tom frio e desumano com que as palavras foram ditas. Me senti em pedaços ao ver seu rosto inexpressivo e sem remorso algum. No final das contas, eu estava certa, Dean nunca havia mudado.

― Entendo... preciso entrar, agora! ― me apressei em dizer quando senti a beira do precipício.

Antes que Dean voltasse a proferir algo tão doloroso, passei por ele e praticamente corri até a porta de casa. Não olhei para trás, nem hesitei, apenas fechei a porta, deixando o vilão da minha história do lado de fora.

Sempre | Melhores momentosWo Geschichten leben. Entdecke jetzt