37| Entre términos e beijos

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O silêncio era ensurdecedor entre mim e ele, parecia haver uma parede enorme entre nós enquanto o rapaz dirigia ao meu lado. Sua atenção estava fixa em um ponto qualquer na estrada, os punhos apertando fortemente o volante. O corpo rígido feito uma rocha e os olhos tão vazios quanto uma noite sem estrelas. Senti vontade de tocá-lo até que a tensão que carregava fosse embora. No entanto, eu não podia.

Dean não merecia minha preocupação, muito menos meu toque. Ele estava me traindo a sei lá quanto tempo, e ainda quase matou um cara com quem estava prestes a assinar um contrato importante. E por nada...

Durante três anos de casados ele nunca havia demonstrado qualquer comportamento violento. Apesar de ser alguém muito ocupado, quando estava em casa sempre era gentil e paciente. Mas talvez eu só não o conhecesse tanto assim...

― Para onde estamos indo? ― Perguntei vendo que estávamos saindo da estrada.

― Meus filhos não podem me ver assim... ― Murmurou sem me olhar.

Desci o olhar até suas mãos sujas de sangue e senti vontade de vomitar pela segunda vez, só aquela noite. Não falei mais nenhuma palavra, apenas encostei minha cabeça no vidro da janela e fiquei observando as árvores ficarem para trás. Uma hora depois, Dean parou o carro de frente a um chalé no meio da floresta e desceu do mesmo sem dizer uma palavra. O segui em silêncio enquanto analisava o lugar. Apesar de estar bem escuro dava pra ver que se tratava de uma casa bonita. Provavelmente mais uma das propriedades Stones que eu ainda não conhecia. Subi os degraus até a varanda e passei pela porta, fechando a mesma com cuidado.

Estava tudo escuro dentro do chalé, e precisei ficar tateando as coisas para não me esbarrar em algo. No fim do que se parecia um corredor, havia uma luz saindo por uma das portas e deduzi que meu esposo estivesse lá.

Adentrei o lugar me deparando com um quarto bem decorado, mas Dean não estava nele. Sentei na cama tirando os saltos que maltratavam meus pés; o alívio foi quase instantâneo. Suspirei quando lembranças da noite me bombardearam todas de uma vez. A mentira. Samara. O rosto de Marcos... Meus olhos queimavam tanto que eu não sabia dizer por quanto tempo mais aguentaria me manter firme.

Um barulho de chuveiro sendo ligado inundou o cômodo, me fazendo, finalmente, notar uma porta trancada do outro lado do quarto. Me deitei na cama procurando não surtar com tudo, mas sempre que fechava os olhos tudo o que enxergava era ele tocando aquela mulherzinha como fazia comigo.

Como ele pôde fazer algo tão baixo?

O som da porta do banheiro sendo aberta fez meu corpo ficar em alerta e rapidamente voltei a me sentar no colchão.

A tensão no ar era quase palpável.

Eu não me sentia muito bem em olhá-lo diretamente, não queria de forma alguma que ele achasse que "estava tudo bem", porque não estava. Mas não consegui manter a pose por muito tempo, precisava saber o que se passava na cabeça daquele idiota, se ele tinha se acalmado mais com o banho...

De canto de olho, dei uma espiada de leve em sua direção. Dean estava em pé ao lado da cama, próximo ao criado mudo. Ele continha uma toalha sobre os ombros e com a mão direita passava o tecido entre os fios molhados. O tronco estava despido, enquanto trajava um simples calção de surfista. Estava curiosa para saber onde o havia arrumado, porém, preferi permanecer calada.

― Está doendo? ― A pergunta foi feita quase no automático ao perceber os machucados em sua mão.

Burra.

Seu olhar desceu até a mão direita, e dando de ombros respondeu:

― Vou ficar bem.

― Claro que vai. ― revirei os olhos me sentindo patética pela pergunta.

Sempre | Melhores momentosWhere stories live. Discover now