14| Traidor

71 3 0
                                    

Esse capítulo foi a pedido de uma leitora. Espero que aproveite, Sarah.

***

Max estava errado.

Minha alma santinha, como ele mesmo havia se referido, já tinha frequentado algo semelhante ao que tínhamos à nossa frente. Foi apenas uma vez, no entanto. Mas o suficiente para me fazer desejar nunca mais pôr os pés em um lugar como aquele.

Parada no meio da rua, sentindo um frio subir lentamente por minha espinha, olhei mais uma vez na direção em que meus amigos estavam caminhando, uma mansão com muitas pessoas bêbadas no jardim. Mais que merda. Meus dedos se fecharam em volta da bainha de meu suéter vermelho vinho, e rangi os dentes em desgosto. Se arrependimento matasse, eu teria caído dura assim que pus os pés para fora do maldito carro. Como uma boa amiga, achei que minha responsabilidade aquela noite deveria ser ajudar Mari a esquecer, pelo menos por algumas horas, o ex e toda a sua toxicidade. Mas, naquele momento, meus pés pareciam presos no concreto da rua, um bolo enorme subindo por minha garganta e suor frio escorrendo pela cavidade em minhas costas. A imagem de olhos verdes e raivosos me encarando com nojo, brilhou em minha mente e engoli a seco. Não importava quão fundo tentasse enterrar as lembranças daquela noite dois atrás, elas sempre voltavam de uma forma ou de outra. Mas estar em um lugar tão igual... parecia, apenas, fazer tudo queimar mais forte.

Confesso que fui estúpida não imaginando que topar sair com os patetas me levaria a isso. A verdade é que eu estava confiante de que o lugar não importava; eu tinha passado pela social na piscina sem nenhum problema, afinal. Eles tinham bebidas e aglomerações, assim como a festa na minha frente, então, porque estava entrando em pânico? Essa noite está muito mais parecida com a de dois anos atrás. Porra, sim. A pior merda que fiz na minha vida tinha começado comigo saindo escondida também, e a casa à minha frente chegava a ser assustadoramente semelhante à das minhas memórias. Essa era a resposta para o meu cérebro pifando... meu inconsciente tinha ligado todos os pontos muito antes do resto da minha cabeça. E não ajudava em nada que meus ouvidos repudiavam música alta e minha parte social odiava aglomerações. O lugar à minha frente tinha os dois de sobra.

― Vou pegar um táxi. Não estou entrando aí nem morta. ― Informei alto o suficiente para que o casal alguns metros à frente pudessem ouvir. Eles pararam de andar no mesmo instante.

― Nem ouse. ― Mariana franziu a testa em reprovação.

― Eu não me encaixo nisso. ― Ergui o queixo na direção da casa.

Max, que estava um pouco mais afastado, apenas levou as mãos aos bolsos da calça e lançou-me um olhar estranho. Desde que o encontramos no estacionamento ele estava agindo como se fosse outra pessoa. Fria e retraída.

― Estamos em uma festa, Lis, onde jovens costumam vir para fazer coisas irresponsáveis e divertidas. Sei que pode fazer algo assim essa noite.

― Vocês dois não estão entendendo... eu não posso. ― Troquei um olhar desesperado entre eles. ― Já tentei uma vez e foi um desastre total.

― Provavelmente tentou errado, então. ― Mari se aproximou com um olhar doce, e entrelaçou seu braço no meu. ― Essa noite será muito melhor, eu prometo.

Com isso, ela saiu me arrastando pelo jardim até a porta luxuosa da mansão, tirando-me qualquer chance de uma objeção. Suspirei pesadamente quando o frio em minha barriga se intensificou. De uma forma impossível, o som que já era estridente no jardim, dentro ficava pior. Havia pessoas bêbadas onde quer que se olhasse, e o cheiro misto de maconha, suor e álcool estava fazendo minha bile vir à garganta incontáveis vezes em um intervalo de meio segundo. A única coisa boa era que a ambientação interna tinha uma atmosfera completamente diferente da primeira festa que compareci. O lugar à nossa volta, felizmente ou infelizmente, não foi feito para amadores. A vibe que passava era que qualquer coisa seria possível ou legalizada enquanto se estivesse ali dentro. Fiz uma careta ao ver um casal quase transando contra uma parede ainda no hall de entrada. Os movimentos pelo menos lembravam vagamente a ação.

Sempre | Melhores momentosWhere stories live. Discover now