Capítulo I

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O céu azulado tinha poucas nuvens, a brisa soprava os campos de arroz que se estendiam até o começo de pequenos bosques e alguns morros eram visíveis no horizonte. Dentro de um carro vermelho, Tsubaki observava a paisagem interiorana atentamente com seus olhos negros detrás dos óculos de armação redonda, o longo cabelo negro dela estava preso em um alto coque e um chapéu ovalado sobre seu colo combinava com o quimono branco.

–Poderia melhorar essa expressão?– Perguntou Isamu, de hakama branco, era quem dirigia o automóvel.

–Ela está nervosa, querido– Respondeu a suave voz de Akemi, que era semelhante à filha, exceto pelo cabelo grisalho e pelas poucas rugas ao redor dos olhos. –Não se preocupe, Tsu-chan, tudo ficará bem.

–Katsuo pode ter apenas dezessete anos, mas dentro de um mês fará dezoito e você, Tsubaki, o fará um homem de verdade– O sacerdote não demonstrava, mas entregar sua filha para o rapaz não era agradável.

–Deveriam esperar até o aniversário dele, assim ele e a Tsu-chan poderiam se conhecer.

–Não será um bom mês para se realizar um casamento, e também as chances dele desistir depois de conhecer nossa filha serão menores se evitarmos que eles conversem antes de se casar.

–Isamu, eu não acredito que seja capaz de falar isso na frente dela.

–Não é como se nossos queridos familiares não tivessem dito isso para ela antes de mim.

Akemi cerrou os dentes e segurou a mão da filha, que arrumou os óculos com a mão livre.

–Não repreenda o pai, minha mãe, ele não está mentindo– A voz levemente estridente da jovem não demonstrava emoção alguma. –E espero que o Ryu não esteja incomodando o Shin no outro carro.

–Espero que eles se comportem na cerimônia– A mãe sorriu, virando o rosto para ver o carro branco que vinha atrás.

A pequena discussão se encerrou e a viagem silenciosa seguiu por algumas horas, um imenso templo xintoísta ficou visível no meio de um morro repleto de árvores, ele era de madeira branco e o telhado vermelho possuía as beiradas levantadas como se fosse um chapéu. Os dois veículos pararam no começo de uma longa escadaria que levaria até a construção, ali em baixo já havia inúmeros carros e pessoas vestidas com hakamas e quimonos, cores neutras para os homens, coloridos e decorados para as mulheres, Akemi pegou o chapéu e o colocou na filha, escondendo o cabelo dela, depois entregou um pequeno punhal, que foi escondido dentro do quimono na altura do peito da moça, uma carteira branca com um espelho de mão e um leque prateado, a jovem sacerdotisa agradeceu e desceu graciosamente, saindo a procura dos irmãos, que acabavam de descer do outro veículo, o mais alto tinha apenas treze anos de idade e o mais rechonchudo havia completado seis anos há poucos dias, mas a cabeleireira e olhos eram igualmente negros, Isamu chamou os filhos e esses caminharam rapidamente até ele, sem brigas ou brincadeiras.

–Isamu-dono, vejo que chegaram bem.

O quarteto se virou e viu Takeshi, ele não vestia nada diferente apesar de ser uma cerimônia importante, o líder do clã estava acompanhado de um alto e robusto rapaz, o longo cabelo negro estava preso em um baixo rabo-de-cavalo e ia até a linha do quadril, algumas mechas menores caíam sobre o hakama escuro, cuja calça larga era branca com listras verticais negras, duas gêmeas vestidas com hakamas brancos com as calças vermelhas, idêntico aos de mikos (sacerdotisas) e de uma baixa japonesa vestida com um quimono azul-claro com flores brancas.

–Katsuo– Takeshi gesticulou para o filho.

O rapaz apressou o passo e parou diante da pequena noiva, que o encarou, ela não acreditava que aquele era o miúdo garoto tímido que vivia escondido atrás da mãe durante as poucas reuniões que participaram durante a infância, o jovem samurai fez uma reverência, temendo fraquejar por causa do nervosismo.

A Dança das Camélias (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora