Capítulo VI (parte dois)

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A viagem continuou com pouquíssimas conversas, Tsubaki queria se concentrar no caminho e Katsuo preferia permanecer em silêncio. O casal chegou na grandiosa casa um tanto retirada da cidade grande no final da tarde, a sacerdotisa esperou o imenso portão de madeira se abrir e adentrou os muros que cercavam a antiga mansão, a estrada de pedras brancas era cercada pela grama verdejante e por arbustos floridos e logo Isamu foi avistado na varanda da casa principal, ele vestia um quimono branco e observava a minivan estacionar próximo dele.

–Venham comigo– Ele ordenou assim que o casal desceu do veículo.

Os dois seguiram o patriarca pelos corredores de paredes brancas e chão avermelhado até que chegaram em uma sala, onde Akemi estava sentada à mesa baixa e redonda, bebendo chá-verde enquanto observava os dois filhos mais novos lerem velhos pergaminhos, Isamu pediu que Tsubaki ficasse com a mãe e irmãos e que Katsuo o seguisse, o samurai assentiu e foi atrás do sogro, eles chegaram em uma sala afastada das demais, onde apenas uma baixa mesa decorava o ambiente.

–Como Tsubaki está agindo?– Perguntou o patriarca, sentando–se de frente para o genro.

–Ela é atenciosa... mas... parece sempre... calma, quase indiferente– Respondeu Katsuo, timidamente. –O senhor aumentará o nível dela no ranque?

–Veremos isso com os demais ramos da família, aguarde até a reunião, rapaz– Falou Isamu, sério. –Ela te contou sobre o feito no colégio?

–Eu presenciei... peço desculpa por não ter podido ajudá–la, eu estava desarmado.

–Não peça desculpa, ela consegue se virar sozinha... você sente que algo mudou desde que se casaram?– O patriarca estreitou os olhos.

–Conversamos um pouco mais... mas sinto que... ela não me vê como um marido.

–Já quer que ela te veja como marido?

–Não nesse sentido, senhor!

–Espero que não– Isamu fechou os olhos por um momento. –O que te contarei ficará apenas entre nós, se pensar em falar para outra pessoa, sua língua cairá e suas cordas vocais se romperão.

–Se-senhor– Katsuo arregalou os olhos, não acreditava que o sogro estava lançando uma maldição.

–Tsubaki nasceu depois de dois anos de casamento e duas filhas natimortas, era e é tão pequena que temo pela vida dela, eu errei quando pensei que estava a protegendo, fui rigoroso demais e fiz da minha única filha um objeto, algo que não sabe expressar o que sente e que tem em mente o desejo de ter mais poder, agora tento me redimir quando converso com ela e também na maneira que trato meus filhos mais novos, mas sei que é quase impossível, a vejo daquela maneira... temo que essa busca por poder a mate ou que a transforme em um demônio, se isso acontecer, eu tenho medo de que não haja exorcista para pará–la porque acho que nem mesmo os deuses sabem o que existe no que ela chama de "reino", um lugar onde todos os Shikigamis dela ficam– O sacerdote encarou o genro. –Te darei a missão de salva a Tsubaki desse destino, eu não sei como nem quando, mas você irá mudá-la, você deve.

–Senhor, eu... eu não sei nem se vencerei o demônio que enfrentarei quando completar dezoito anos e... estou de mãos atadas, como posso mudá-la se não sou capaz de fazê-la se interessar no que digo? Ela não mostra uma expressão quando assistimos filmes nem quando a elogio, e tenho certeza de que ela me acha patético, me vê como uma criança.

–Você é o marido dela, ela deve ser a pessoa mais importante agora, nunca cometa o mesmo erro que eu cometi, não pense que um casamento arranjado te dá o amor da esposa no momento em que o sacerdote finaliza a cerimônia, você deve ir atrás, deve entender que a mulher que deita ao seu lado sofre e sofrerá mil vezes mais do que você, tudo que você fazer, dizer e pensar cai sobre ela e não há pedido de perdão que faça milagre, o costume nos faz ter nossas esposas como subordinadas, nos faz deixá-las de lado em qualquer decisão... eu tento conquistar a minha esposa todos os dias desde que descobri que a amo, dois anos depois que nos casamos– O patriarca respirou fundo. –Demorei dois anos para dizer que me apaixonei e até hoje não recebi a declaração dela, mas a culpa é minha, dei preferência para a tradição, para o que os outros pensariam e para estragar a vida da minha única filha, Akemi não fala, mas eu sei que ela me culpa, ela me diz que teme pela vida da Tsubaki e eu sei que ela quer dizer que a culpa é minha, se eu não tivesse pensado nos outros e na tradição, minha filha não seria assim e nem se casaria contigo, Katsuo.

A Dança das Camélias (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now