VII

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Lauren

- Aquilo foi maior que um pequeno encontro de amigos - falo para Cora enquanto nos sentamos no banco do ponto de ônibus, Ally pesquisa pelos horários no celular. Já passou das 2h da manhã e as ruas estão escura e vazias, com exceção de pequenos grupos de estudantes que passam, de vez em quando, rindo.
- Talvez só um pouco - ela ri e pega meu braço e se apoia em mim.
Luto contra o instinto de puxa-la para perto e me afasto um pouco.
- Estamos ferradas - Ally fala atrás de nós enquanto guarda o celular no bolso - O último ônibus passou já fazem
minutos.
Nem preciso abrir o Google Maps para saber que até meu apartamento são pelo menos 2km. Aqui não é Philly, não vou sair andando por aí em um lugar que mal conheço, depois da meia noite. Ainda mais depois de dois drinks.
- Podemos chamar um Uber. - Cora sugere.
Um uber, definitivamente estaria fora do meu orçamento. Passagens de ônibus são de graça para estudantes e uma corrida à essa hora, o preço estaria muito alto.
Começo a criar coragem de ir andando, quando um carro branco para na nossa frente. A janela abaixa devagar, revelando gentis olhos castanhos, idênticos aos que estavam na minha frente pela maior parte da festa.
Camila.
Nunca fiquei tão feliz de ver uma garota tão estranha na vida.
- Oi - ela fala enquanto coloca o cabelo atrás da orelha - Vocês querem uma carona?
Ela mal termina de oferecer e já estamos entrando no carro, agradecendo.
- Você está salvando nossas vidas! - Cora fala e percebo as bochechas de Camila corando com toda aquela atenção.
Nos acomodamos e falamos para ela para onde estamos indo. Cora e Ally dividem quarto no Nordenber, o prédio com as acomodações mais burguesas do campus. Muito diferente do meu simples apartamento.
De alguma maneira eu acabo voltando apertada no banco de trás, mesmo sendo bem mais alta que Ally, que foi no banco da frente. Pego meu celular e checo meu Instagram para ver se Natalie respondeu a foto que enviei para ela. Visualizado, mas nenhuma resposta.
Maravilha.
O carro desacelera e vejo um prédio com fachadas de vidro aparecer no caminho, deve ser o dormitório. Camila acha uma vaga próxima a entrada e para o carro e então Cora olha fundo nos meus olhos.
Ah não.
A mão dela desliza pela minha perna.
- Você pode subir se quiser - ela sussurra enquanto se aproxima.
Eu congelo. Eu poderia beija-la, seria fácil, mas não quero mais o caminho fácil. Superficial, sem sentimento. Quero uma conexão real.
Dou um pequeno sorriso e balanço a cabeça.
- Eu, ah … tenho namorada.
- Ah - ela se afasta com o olhar surpreso - Garota de sorte - Ela sai do carro e vai até a janela do motorista - Obrigada pela carona, Cami.
Pego de relance o olhar triste de Camila e vejo ela acompanhar Cora enquanto ela caminha até a entrada do prédio. Olho de uma para outra umas três vezes até meu cérebro conseguir processar o que está acontecendo.
- Ai meu Deus - digo enquanto pulo do banco de trás para o da frente. - Camila. Fala com ela, pede para usar o banheiro.
- Nossa, o quanto você bebeu? - Ela fala enquanto esfrega o braço que meu cotovelo acabou de acertar no caminho para o banco da frente. - E eu não preciso usar o banheiro.
- Eu sei - Falo enquanto olho Cora se afastar. Ela não tem muito tempo se quiser tentar alguma coisa, Cora já está quase na porta. - Mas Cora não sabe! Pergunta se pode usar para subir. Tente sua chance. Eu posso andar pra casa.
Estamos apenas a uns dois quarteirões do meu apartamento. Olho nos olhos de Camila, vejo que ela está pensando sobre. Ela vira e olha para Cora de novo, que já está abrindo a porta de entrada.
- Agora é tarde demais - ela fala, vejo ela apertar o volante com força.
- Só porque você demorou muito
- Onde você mora? - ela pergunta me ignorando completamente.
Eu aponto em direção ao meu apartamento.
- Por ali, Rua Atwood, 530 - me encosto no banco e começo a cantarolar - Você gosta da Cora
Camila revira os olhos e começa a dirigir.
- E você claramente não gosta, não sei porque ficou enrolando ela a noite inteira.
Me ajeito no encosto.
- Não é minha culpa você não ter tomado uma atitude
- Fica difícil ter atitude quando expõem sua virgindade - ela fala com raiva transparecendo em seus olhos castanhos.
Sei que atingi um nervo e que não é a primeira vez que faço isso essa noite, mas não vou deixá-la ficar me julgando como fez a noite inteirando, me encarando.
- Fica difícil quando você já inventa desculpas antes mesmo de tentar.
Espero outro comentário sarcástico, mas isso não acontece.
- Você tem razão - ela diz virando na rua do meu apartamento.
Então percebo, que ela não estava me julgando, só estava frustrada. Frustrada de não ter conseguido se aproximar de Cora.
Lembro do jogo de Eu nunca, todas as partidas que ela ficou lá com todos os dedos levantados. Todas as rodadas que ela ganhou, desde de eu nunca fumei um cigarro, até eu nunca fui em um show.
Agora me sinto como a maior babaca do mundo pelo que eu disse. Especialmente por ela estar aqui, fazendo a única coisa que eu não consigo. Sendo honesta e vulnerável, mesmo sendo um assunto sensível e difícil.
É um exemplo perfeito de tudo que Natalie me disse. Eu ignorei completamente os sentimentos de Camila, como fiz com os de Natalie por meses. E como minha primeira tentativa de fazer amigos foi um desastre, com Cora passando a mão na minha perna alguns minutos atrás. Para mim teria sido fácil ficar com Cora, mas e para Camila? Que realmente tem sentimentos por essa garota? Seria como escalar uma montanha.
Então a ideia perfeita me atinge.
- Eu - minha voz some enquanto checo novamente comigo mesmo. Olho para o rosto de Camila, ela não poderia estar menos interessada em mim. E dessa vez minhas intenções são genuínas - Eu posso te ajudar - falo animada apertando o braço dela - Posso te ajudar a fazer Cora se apaixonar por você.
Isso é perfeito, eu ajudo Camila, me mantenho longe de problemas e quando Natalie passar por aqui mês que vem, apresentarei uma amiga que ajudei a conquistar a garota pela qual ela é apaixonada.
Camila me olha, claramente nada interessada.
- Como?
Aponto para a entrada do prédio e ela para o carro na entrada.
- Bom, ela me queria, então sei do que ela gosta.
Imediatamente percebo como o que eu falei, não vai me ajudar em nada.
Ela revira os olhos, destranca o carro e nem se dá o trabalho de me responder. Claramente a conversa acabou.
Ótimo começo.
- Obrigada pela carona - eu falo enquanto saio do carro.
Ela não me responde e sai com o carro me deixando na calçada.
Mas não vou desistir, ainda mais quando o plano é perfeito como esse.
Só preciso mostrar para a Camila o que posso fazer por ela.

She Gets the GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora