XIX

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Lauren


Vou descendo pelas ruas, segundo as direções do meu telefone até a Cervejaria Hitchhiker.
Estou cheia.
Camila estava certa, frittatas eram como omeletes, mas melhor.
Reconheço a cervejaria das minhas pesquisas no Google, uma antiga fábrica transformada em bar/cervejaria.
Jim ainda não chegou, o que faz sentido já que Camila praticamente me empurrou porta a fora para eu não me atrasar.
Me sento na calçada e, como tenho tempo para matar, ligo para Natalie. Já que Nat dorme tarde e vou estar ocupada a noite inteira com o trabalho, essa é a hora perfeita.
Seguro o fôlego enquanto o telefone chama.
Uma. Duas vezes.
- Lauren? - ela fala quando atende, pulo em pé no minuto que escuto sua voz, mas ela não parece tão animada quanto eu imaginava que estaria. Tem vozes abafadas no fundo da ligação e o som de um baixo tocando algumas notas.
- Oi, baby! Como você está?
- Porque está me ligando agora? - ela pergunta e meu cenho se franze em confusão, tiro o telefone da orelha e olho o nome da tela para confirmar.
- Você me disse para eu te ligar.
Ontem. Enquanto eu tomava um sorvete.
- Sim - ela responde - Mas não quis dizer agora. Tenho um show hoje a noite. Preciso me preparar.
- Eu sei. Em Kansas City - fiz a conta do fuso na minha cabeça - Mas não começa daqui tipo… seis horas?
Qual a chance de ela precisar de seis horas para se preparar? Não quando sei que ela não ajuda carregar nenhum dos equipamentos.
Natalie solta um suspiro.
- As coisas são diferentes na estrada, Lauren. Você não entenderia. - as vozes no fundo diminuem, ela deve estar indo para um lugar mais quieto - Mas acho que podemos conversar agora, já que esse horário é bom para você.
- Se você não pode, tudo…
- Não, não. Pode falar - ela me corta.
- Consegui um emprego em um food truck. Tem sido bom até agora. Boas gorjetas, tudo em dinheiro. Estou esperando meu turno de hoje começar - chuto uma pedra pequena no chão.
- Ah. Legal.
Ela não me pergunta nada e o silêncio que segue é ensurdecedor. Então decido perguntar algo para ela.
- E como está a turnê?
- Tem sido ótimo. As pessoas realmente conhecem nossa música! Eles cantam juntos e tudo mais. Tem sido surreal.
- Parece maneiro. Mal posso esperar pelo show em Pittsburgh - digo, segurando meu ar.
- É, eu também. - Natalie fala, as palavras dela colocam um sorriso no meu rosto. Especialmente depois de um começo difícil de conversa.
- Mais 20 dias.
- Falta só isso? Uau - ela fica em silêncio por um segundo - Então, você já tem uma namorada nova ou…?
As palavras dela parecem um soco no meu estômago. Ainda não comentei com ela sobre o que eu e Camila estamos fazendo e pelo comentário dela, talvez não seja o melhor momento. Não quero que ela entenda errado ou fique brava comigo por nada.
- Muito ocupada pensando em você - digo, vendo o food truck virar a esquina, os pneus traseiros batendo violentamente na calçada. Pulo para longe do caminho antes que Jim me atropele.
- Mm-hmm - ela responde desconfiada.
- Você vai ver quando chegar aqui - digo enquanto vejo Jim sair pela porta dos fundos do carro para acender o cigarro pré-trabalho dele.
- Espero que sim. Preciso ir. Vamos ensaiar ‘Sleepy Girl’ algumas vezes, já que Ethan errou o tempo do baixo no último show
- Eu amo essa música
- Claro que ama - ela fala e consigo ouvir o sorriso em sua voz - Escrevi ela para você
Consigo escutar o nome dela sendo chamado.
- Boa sorte no show hoje.
Digo para ela e ela ri, uma vibe totalmente diferente de quando estávamos conversando por mensagem.
- Se Ethan errar de novo hoje, ele que vai precisar de sorte. Te ligo mais tarde, okay? Amanhã talvez.
- Me parece bom.
Nos despedimos e vou até onde Jim está encostado.
- Essa bicicleta é sua? - ele pergunta apontando para a bicicleta laranja que comprei no Facebook Marketplace, trancada do lado de fora do prédio.
Aceno com a cabeça., mesmo que tenha sido ele que tenha me sugerido comprar uma, depois que descobri que levaria uma hora e meia de ônibus para o lugar que o food truck ficaria essa semana e quinze minutos de bike.
- É feia pra porra - ele fala jogando a bituca de cigarro fora antes de entrar no food truck.
Reviro os olhos e sigo ele para ajeitar as coisas, um silêncio confortável entre nós enquanto nossa rotina começa. Jim prepara os ingredientes enquanto eu coloco o menu para fora, deixo a caixa registradora pronta e abro a janela.
Pouco tempo depois clientes começaram sair da cervejaria para fazerem seus pedidos.
Minha mente desliga um pouco enquanto começo a anotar pedidos, me sinto mais leve depois da ligação, mas ainda inquieta com a situação de Camila.
Ela levou duas semanas para conseguir o número de Cora.
E Natalie vai estar aqui em três semanas.
Sei que o plano é centrado na Camila, mas não tenho tanto tempo. Não posso ficar de gracinha brincando de cozinha e tomando sorvete quando Natalie chega em 20 dias. Natalie precisa ver que consigo me relacionar com pessoas, ter amigos que são só amigos. Que as pessoas podem se abrir comigo que não vou sair correndo.
Ela não vai acreditar se eu disser que estou passando tempo com uma garota, ajudando-a a conseguir uma namorada. A garota precisar estar com a namorada ou perto disso.
Quando o movimento diminui, pego o meu celular e mando uma mensagem para Camila:
Vamos fazer o passo 2. Amanhã. Estarei aí às 10h30
Preciso de provas e rápido.
Camila não é a única que quer conquistar uma garota.
Nesse caso (re)conquistar.

She Gets the GirlWhere stories live. Discover now