XXXVI

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Camila

Meus pés estão congelando no chão de mármore enquanto olho para garota parada na minha frente.
Um vestido longo e verde e decotado, justo o suficiente para mostrar todas as curvas do corpo dela, um colar vermelho pendurado no peito, combinando com os brincos dela e, não coincidentemente com o meu vestido.
- Meu Deus, Cora. Você está… - sorrio e olho nos olhos dela - Linda.
Ela dá uma risada que ecoou pelo hall de entrada.
- Você também. O vestido ficou perfeito. Fizemos a escolha certa - olho para baixo, para o vestido vermelho brilhante e para o par de saltos altos, que espero que não sejam a causa da minha morte hoje.
- Obrigada - falo
- Podemos? - ela pergunta oferecendo o braço dela.
Minhas bochechas ficam vermelhas, seguro o braço dela, deixando ela me conduzir para dentro da galeria.
Qualquer que fosse o passo cinco do plano, acho seguro dizer que já passamos dele.
Vamos até um dos vários bares montados pelo enorme salão.
- Oi, vamos querer duas taças de chardonnay - Cora pede me surpreendendo.
Mas, infelizmente ela não consegue. O bartender percebe que não somos temos idade para beber e serve refrigerante em duas taças de champanhe sem dizer uma palavra.
- Foi boa a tentativa - sussurro para ela.
Conforme vamos andando pela exposição de arte juntas, passo a maior parte do tempo olhando para todos os alunos, vestidos em suas melhores roupas, me perguntando se eles realmente estão se divertindo. Não sei como alguém pode gostar disso, nunca fui uma conhecedora de arte, mas a ideia de olhar para uma obra em frente ao artista me deixa nervosa.
- Ah. Essa garota está em uma das minhas aulas de literatura - Cora fala me puxando exibição adentro.
Sigo ela até um local onde tem várias pinturas exibidas. E todas parecem iguais, um monte de figuras em cores diferentes, em telas de 2 metros de altura.
- Lindsay? - Cora pergunta, se aproximando de uma garota alguns centímetros mais baixa que eu, vestida com um blazer vermelho de veludo.
- Cora - a garota sorri - Ei. Que bom te ver aqui.
- Você também - Cora olha para mim - Essa é Camila - ela me apresenta e dou um passo para frente para apertar a mão de Lindsay - Não sabia que você estaria aqui. São seus? - Cora aponta para os quadros.
- Sim, se chamam Lugar de Raça. Trabalhei neles por quase dois anos.
- Me conta sobre o que são.
Lindsay começa explicar sobre como cada quadro representa o apagão de alguma cultura americana e a jornada que ela está tentando traduzir dele que conversou com um vidente.
Tento ouvir no começo, mas tudo parece tão ensaiado, seco, que não consigo prestar atenção por muito tempo. Talvez se eu tivesse convidado Cora para andar de patins, estaríamos nos divertindo dez vezes mais.
- Foi bom te conhecer, Camila - Lindsay fala me tirando dos meus pensamentos. Ela sai para falar com outro aluno.
Olho para a maior pintura com Cora do meu lado e tento entender como essa pintura representa algo diferente, quando as outras dez são iguais a essa.
Além disso, até eu pintaria um desses, mas tenho quase certeza que não é algo que se pode dizer em uma exibição de arte.
Enquanto andamos pelo salão, Cora comenta sobre todos os quadros e esculturas que passamos, tento fazer uma piada sobre como um dos desenhos para uma bunda, mas el não acha graça. Não vejo metade das coisas que ela vê nas obras, mas mesmo assim acompanho ela enquanto ela para e fala com milhares de pessoas diferentes. Queria que fosse só nós duas, mas Cora parece amar esse tipo de coisa, então acho que vai ser para sempre assim…
Enquanto continuamos a andar pelas exibições, uma mensagem de Nic chega no meu celular.
Lauren esteve aqui procurando por você. Ela já foi, mas achei que você deveria saber.
Lauren estava procurando por mim.
Por que será que Lauren estava procurando por mim?
Será que era para se desculpar.
O que será que ela queria.
Será que ela também veria uma bunda naquela pintura…
Sim. Com certeza. Sorrio para mim mesma.
E teríamos rido juntas sobre isso, só nós duas, porque ninguém mais acharia engraçado. Então sairiamos para tomar sorvete e andar pelo campus, conversando sobre coisas que não falamos para mais ninguém.
O bom. O ruim. Não importa, conversariamos sobre tudo.
Nossa como eu sinto—
Não. É como ela disse, nada daquilo foi real, então vou sentir falta do que?
A realidade é que ela é egoísta, arrogante, péssima patinadora, brutalmente honesta, às vezes engraçada, independente, leal, extrovertida e…
- Ei Camila - A voz de Cora me traz de volta para a festa de gala.
- Sim? - pergunto e pisco ao perceber que estamos sozinhas em um canto.
Cora está na minha frente, mexendo nas mãos de uma maneira nervosa, algo que nunca tinha visto antes. Ela pega minhas mãos, me deixando surpresa.
Perco o ar, o lugar parece girar e meus pés parecem gelatina e Cora está na minha frente, olhando nos meus olhos.
Mas a mão dela parece tão… estranha na minha, como se não pertencesse lá. Quando Lauren pegou minha mão na biblioteca, pareceu tão natural, como se pertencesse ali.
- Estou feliz que você veio comigo hoje. Tem algo que eu quero te falar.
Meu peito está tão apertado que dói.
- Eu…uh estou gostando de você - ela fala e sinto um sorriso se formar nos meus lábios ao ouvir aquilo, as palavras que nunca imaginei que escutaria.
É isso. Consegui! Nós conseguimos!
E de novo o rosto de Lauren vem na minha mente, aqueles olhos verdes.
Cora dá um passo para perto, os pé dela encostado no meu.
Lembro de Lauren encostada em uma prateleira da biblioteca, o pé encostado no meu. Me contando sobre a vida dela, sobre o futuro que ela quer para ela.
Cora desliza as mãos para os meus quadris e começa a se aproximar, os olhos dela fechando devagar.
Tento fechar os meus também, mas nada disso parece certo.
E então me lembro…
Lembro da eletricidade que pairava no ar quando eu e Lauren no olhamos naquela noite. Como se uma força incontrolável me puxasse para perto dela.
Me lembro como senti meu coração batendo, como daria tudo para ficar perto dela.
Quando vejo Cora a centímetros de mim percebo, que não importa que ela quão bonita ela seja, o quanto eu achei que ela era perfeita para mim, não é isso. Não pode ser isso. A Cora que eu pensei que amava só existiu na minha cabeça. Ela não era real, mesmo que ela ainda seja linda, engraçada e magnética…
Pela primeira vez, eu entendi.
Tem uma diferença entre fantasia e bem…
Amor.
- Cora - ela congela a poucos centímetros do meu - Cora - repito e ela se ajeita, meus olhos estão marejados, sei o que preciso fazer - Me… me desculpa, mas não posso fazer isso - sussurro.
- O que? - ela pergunta se afastando.
Respiro fundo.
- Cora, eu gostei de você por tanto tempo. Você nem tem ideia. E quando vim para a universidade, queria que as coisas fossem diferentes. Eu queria ser diferente… para você. Mas não sou a pessoa que você conheceu nesse mês. Eu não gosto de rugby, de musicais ou de arte. Odeio esse vestido. Acho que estou parecendo um enfeite de Natal e não consigo sentir meus pés nesse salto. Lauren me ajudou a me tornar a pessoa que pensei que você gostaria, mas… eu acho que acabei me tornando eu mesma - Dou um passo para trás.
- Cora, eu… eu quero ser só sua amiga.
Ela parece magoada e chocada, mas mesmo assim acena com a cabeça e dá uns passos para trás.
- Sinto muito, mas eu preciso ir, tudo bem? - pergunto e aperto a mão dela antes de sair correndo para o lado lado de fora.
Quando chego na calçada pego meu celular para ligar para Lauren o mais rápido possível, mas o telefone nem toca, cai direto na caixa postal.
Desligo e tento de novo.
Direto na caixa postal.
Merda.
Paro na esquina, coloco minhas mãos nos quadris quando percebo o quanto as armadilhas mortais estão acabando com os meus pés.
Me lembro de tudo que ela me disse no show e uma vozinha no fundo da minha cabeça me diz que ir atrás dela é uma péssima ideia, que ela não se importa comigo, que vai me dizer as mesmas coisa e que não tem como nós duas ficarmos juntas.
Mas silencio essa voz, porque tudo que ela me disse aquela noite, não é verdade. Eu deveria ter visto isso na hora, mas consigo ver agora.
Ela não estava fingindo. Momentos como os que dividimos só acontecem se forem verdadeiros.
Preciso falar com ela.
Preciso dizer como me sinto.
Tento ligar de novo enquanto atravesso a rua em direção ao apartamento dela.
Equanto escuto a mensagem da caixa postal dela, vejo algo com minha visão periférica que me faz parar na calçada, com o celular ainda no ouvido.
Uma bicicleta laranja fluorescente trancada na porta da biblioteca.
Claro.
Subo os degraus correndo, pulando dois por vez, agarro o corrimão antes que o pior aconteça.
Ah foda-se esses sapatos.
Tiro os saltos e seguro os dois com uma mão.
Corro pelo andar principal, até as escadas, todos param para me olhar, mão não estou nem aí.

Preciso chegar nela.
Chego no último andar e corro pelos corredores até….
Ali.
Paro, olho para ela, sentada no chão com um livro o colo e mesmo correndo até aqui o mais rápido que pude, pauso os eventos do último mês passam pela minha cabeça só de ver ela.
A festa e as aulas de biologia.
Nossa aposta na cafeteria.
Compras com a minha mãe.
Ping pong.
Limpo.
O show.
A briga.
Cora.
Tudo.
Tudo que me trouxe até aqui.
Até ela.

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