XIII

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Lauren

No segundo que Camila disse “Introdução a Ficção”, eu sabia que ela estava na minha sala.
Sorrio para mim mesma enquanto estico as pernas, batendo o lápis no cadernos equanto o professor - ou como ele quer o chamemos, Jon - começa a falar sobre a taxa de presença para a classe e começa uma chamada.
E ela me falou o monte por estar atrasado.
Levanto minha mão quando ele chama meu nome, uma garota com luzes no cabelo que senta duas mesas para frente, se vira para me olhar. Desvio o olhar para eu não ser tentada a dar uma piscadinha para ela. Olho para a porta de madeira.
- Camila Cabello? - Jon chama.
Mas ela não chegou ainda.
- Temos uma Camila aqui? - ele pergunta de novo e como se fosse premeditado, a porta da sala se abre, mostrando uma figura sem ar e com os cabelos bagunçados.
- Aqui. Desculpa. - Camila entra e ajeita os cabelos, quando ela me vê seus olhos se arregalam e em seguida me olha como se fosse me matar.
- Sente-se senhorita Cabello - Jon avisa - a aula começa às 07h
Camila murmura mais uma desculpa e procura por um lugar, antes de se sentar com raiva no lugar vazio do meu lado.
- Por que você não me mostrou para onde ir se sabia que eu estava na sua aula? - ela sussurra para mim quando o professor se vira.
- Camila - eu digo cruzando as pernas - Não consigo ajeitar sua vida amorosa e seu GPS interno. Sou apenas uma mulher.
Ela revira os olhos e pega um caderno e uma cópia do livro Rei das Noites, minha peça favorita de Shakespeare e também o livro designado para as duas primeiras semanas de aula.
Jon começa a aula com os temas das páginas que lemos, mas as palavras que Camila me disse na biblioteca continuam voltando na minha cabeça.
“Bem, você claramente não sente tanto por sua namorada, se não não teria flertado com Cora na festa”
Não consigo nem aproveitar a aula da porcaria da minha peça preferida por que não consigo superar o quanto as palavras dela me magoaram.
O que ela sabe? Ela provavelmente nunca beijou ninguém.
- E você?
Pisco e foco o olhar no professor, que está me encarando, algumas cabeças se viram na minha direção.
Camila ergue uma sobrancelha, claramente amando isso.
Limpo minha garganta e dou um sorriso confiante.
- Quem? - olho para a direita e para a esquerda - Eu?
- Sim. Você - O olhar condescendente dele beira a pena, como se eu não tivesse lido a peça umas cem vezes - Te perguntei quais pontos você acha Shakespeare estava fazendo sobre romance.
- Bom - digo pegando o livro de Camila e abrindo no Ato 1, Cena 5 - Como agora? Mesmo tão rápido uma pessoa pegue a praga? - Leio repetindo a comparação da personagem Olivia do amor a literalmente estar doente - Romance, amor é como a praga - dou de ombros - Se você está se sentindo tão dramático quanto Olívia, pelo menos.
Fecho o livro e o coloco na mesa de Camila antes de continuar.
- Mas também, ela acabou de conhecer a pessoa de quem ela está falando, então acho que drama é algo dela - cruzo os braços e encosto na cadeira - Então acho que você poderia dizer que Shakespeare faz dois pontos. Amor é sofrimento, provavelmente porque você vai se apaixonar por alguém que mal conhece. Além disso, a maioria das pessoas está apaixonada pelo conceito do amor, não pela pessoa em si.
Camila bufa.
- Talvez você esteja projetando - ela fala batendo os dedos na capa do livro. Será que ela percebeu que está falando para a sala inteira e não só para mim? - Tudo dá certo no final, não dá? Para todas as personagens. Olivia, Viola, Sebastian, Duke. Todo mundo vai em direção ao pôr do sol completamente contente com os felizes para sempre de cada um, independente do formato desse final. Ninguém está sofrendo. O amor que sentiam era suficiente, quando foi sentido para a pessoa certa.
As bochechas dela ficam vermelhas e nós duas sabemos que o que ela disse não foi só sobre uma peça.
- Sim, mas quem sabe o que acontece depois disso? - pergunto e Jon concorda com a cabeça
- É um ponto válido - ele fala e sorrio imediatamente - Ninguém consegue dizer quanto tempo a paixão mantém as coisas acontecendo.
O rosto de Camila fica ainda mais vermelho.
- Mas por que as coisas tem que piorar depois disso?
Abro minha boca para responder, mas…ela tem razão.
Por que sempre tem que ser ruim? Por que automaticamente assumo que as coisas vão piorar?
Para mim. Para Camila e Cora. Acho que esse é meu problema, deve ser por isso tenho medo de me entregar.
Talvez Natalie seja a pessoa certa para mim.
E talvez Cora seja a pessoa certa para Camila, se eu conseguir ajudar ela.
O professor se vira para o quadro e começa escrever algo antes de continuar com a aula, mas Camila e eu continuamos nos olhando. Finalmente aceno com a cabeça e olho para meu caderno, é a segunda vez que cedo hoje, mas dessa vez concordo. Não precisa ser ruim.

Quando a aula acaba, Camila já está na porta antes mesmo de eu fechar meu caderno. Pego minhas coisas de qualquer jeito e corro atrás dela, a puxo pelo braço antes de perder ela na multidão que descia as escadas.
- Camila
- O que é Lauren? - ela fala se virando para mim - Tenho que ir para outra aula.
- Próxima aula de biologia, nós vamos no sentar do lado da Cora, okay? Esse é o plano - ela não pode ficar no passo zero para sempre, precisa conseguir o número dela. - E nós temos que tentar chegar mais cedo - solto o braço dela e dou um sorriso - Não vai ter muito tempo para conversar se chegar atrasada.
Ela me olha e vejo que está tentando segurar um sorriso.
- Vejo você às 08h25 - ela fala antes de sair pela porta em direção as escadas.
Dou um sorriso quando a cabeça dela reaparece na porta.
- E Lauren?
Estudo o rosto dela enquanto ela claramente está se esforçando para me dizer alguma coisa.
- Obrigada e me desculpa. Pelo que eu disse na biblioteca.
- Relaxa - o pedido de desculpa dela faz com que eu me sinta melhor. Alcanço ela e descemos as escadas juntas.
Pego meu celular conforme vamos e abro minha conversa com Natalie, mais uma mensagem que mandei e ela não respondeu, ainda está chateada porque dormi depois do turno no food truck.
Aparentemente eu dormi antes de responder ela, o que ela não acreditou quando me ligou na manhã seguinte, falando sobre como eu deveria estar ocupada demais fazendo minhas merdas de sempre para responder, sem se importar com o fato que ela ficou três dias sem me responder antes disso.
Me lembro que ela não estaria agindo desse jeito se eu não tivesse dado motivo no passado.
Guardo meu celular no bolso, frustrada, mas com a vontade de ajudar Camila duplicada.
Quanto antes ela conseguir o número de Cora, mais cedo consigo mostrar algo real para Natalie quando ela vier para cá em um mês.
Meu estômago ronca alto quando saímos do prédio e Camila me entrega o cookie que ela comprou mais cedo, na biblioteca.
Eu pego e ela aponta para direita.
- Tenho aula de história no prédio Posvar agora. Te vejo mais tarde.
Ela se vira e segue na direção que apontou.
- Camila! - grito por ela.
Ela para e se vira para mim.
- Caminho errado?
Aceno com a cabeça que sim e não consigo segurar um sorriso, aponto para o prédio certo e ela segue naquela direção, desaparecendo na distância.
Lauren Jauregui e Camila Cabello, não somos amigas ainda… mas acho que estamos chegando lá.

She Gets the GirlWhere stories live. Discover now