XXIX

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Lauren

Subo as escadas até o meu apartamento o mais rápido possível.
A cabeça girando, entro com tudo e quase dou de cara com Normani.
- Você está bem? - ela pergunta, está com um cup noodles na mão - Você parece um pouco… - a voz dela some um pouco e ela me analisa - Nervosa
Nervosa?
Lauren Jauregui não fica nervosa.
Muito menos por causa de Camila Cabello.
- Sim, estou bem, tranquilo - falo e acabando dando uma risada esquisita quando vou em direção ao meu quarto - Totalmente bem! - falo antes de fechar a porta atrás de mim. Me encosto na mesma e deslizo até o chão
Que porra foi essa?
Fecho meus olhos e aperto as minhas mãos, mas ainda assim consigo ver o rosto de Camila, se aproximando, os lábios perto o suficiente para…
Balanço a cabeça para dissipar essa imagem da cabeça.
- Fala sério Lauren, não torne isso mais do que é - falo para mim mesma enquanto estico as pernas.
Não beijei ninguém em um mês. Isso é praticamente um recorde!
Não é à toa que esse encontro falso me deixou assim.
Mas meu cérebro continua voltando. Para a pista de patins, para o cheiro floral do perfume dela, a sensação da mão dela na minha. A biblioteca, os olhos castanhos dela, enchendo meu estômago de borboletas. Não pareceu falso.
- Merda.
Desço mais, até ficar completamente deitada no chão, encarando o teto.
Eu gosto de Camila.
O pensamento vem do nada e me choca no primeiro momento, mas então repito as palavras várias vezes, encontrando a verdade assustadora nelas.
Eu gosto de Camila.
Primeiro date andando de patins Camila.
Não consegue convidar uma garota para sair Camila.
Se veste como uma senhora de sessenta anos Camila.
Dou um grunido e viro de barriga para baixo, balançando as pernas no ar, pensar sobre como Camila se veste me fez pensar na Sra. Cabello, como sorriu o tempo todo, o jeito carinhoso que olha para a filha. A piscadinha conspiratória que ela me deu quando nos conhecemos.
… O quanto ela vai me odiar quando eu inevitavelmente partir o coração de Camila, porque aparentemente Natalie está certa.
Natalie.
A garota com quem eu tenho uma história. Que disse que me ama, apesar de todos os motivos pelo qual ela não deveria. A garota pela qual eu passei o mês inteiro me esforçando para provar que sou boa, que eu consigo ser real, honesta e me abrir com as pessoas.
Só que… tudo que eu fiz foi me abrir com a garota errada.
Pela primeira vez eu não me senti encurralada ou horrível. Foi tão fácil, hoje na biblioteca, duas semanas atrás no quarto dela.
Acho que sou exatamente o tipo de pessoa que Natalie disse que eu era.
Alguém que não pode ser confiada.
Acho que isso é pior. Isso nunca me aconteceu antes. Flertar, sair e transas casuais, claro. Mas… nunca o que quer que isso seja.
Mas de qualquer maneira, isso não importa.
Camila gosta de Cora. Perfeita, sol e arco-íris, tudo-que-Camila-sempre sonhou-Cora. Elas fazem mais sentido de jeitos que nós nunca faríamos. Cora defendeu ela na noite da festa, quando eu fui bem babaca. Elas são da mesma cidade. Ela não é…
Como eu.
Quebrada. E destinada a machucar Camila independente do quanto eu me esforço para que isso não aconteça.
Continuo no chão, deitada em posição fetal, até que eu consiga guardar todos os meus sentimentos errados em uma caixinha. Uma caixa escrita NÃO ABRA.
Vou consertar isso.
Não vou perder a cabeça agora porque fiz meu trabalho bem até demais.
Camila pertence junto a Cora, eu junto a Natalie. Natalie que me ama independente dos meus defeitos.
Nessa sexta-feira nós duas vamos sair e conquistar nossas garotas. Então vai ser como se nada disso tivesse acontecido.

Na tarde do dia seguinte, estou cortando uma montanha de cebola tão grande, que poderia fazer a população inteira de Pittsburgh chorar.
Passo os braços pelos olhas, esfregando a dor.
- O dia tá bonito hoje - Jim fala, fumando um cigarro na frente do galpão - Nós precisávamos. Fazia tempo que não tínhamos um dia bonito.
Mesmo com o tempo ruim, vendemos tudo duas vezes na semana, mas descobri que Jim ama ser dramático.
Hoje, não estou no clima. Termino de cortar as cebolas e pulo do caminhão, tiro as luvas de plásticos que estava usando e a jogos no lixo.
Encosto na lateral do caminhão, pego meu celular e vejo uma mensagem de Natalie.
Ela voltou a falar comigo depois que paguei para alguém da banda comprar um Frappuccino de Caramelo para ela no Starbucks antes do show deles em Chicago. Honestamente, estou ficando um pouco cansada disso, está cada vez mais difícil encontrar maneiras para fazê-la falar comigo. Especialmente quando sinto que isso está acontecendo sempre.
Já estou em Ohio! Te vejo na sexta 😉
Hesito antes de responder, mas respiro fundo mando:
Mas posso esperar!
E adiciono um monte de emojis.
Guardo meu celular no bolso e vou ajudar Jim a cortar as batatas. Ele me olha eu pegar o cortador e terminar em tempo recorde duas caixas de batata. O suor escorrendo no meu rosto.
- Tá bem? - ele pergunta com um sorriso divertido no rosto.
- Não é nada - reviro os olhos enquanto coloco outra batata no cortador - Só problemas de garotas.
Não espero que ele responda, mas Jim dá uma risadinha - Já estive no seu lugar. Não conseguia tirar as garotas de cima de mim antigamente.
- Sério? - pergunto e ele sorri antes de pegar o celular. Depois de alguns segundo ele vira a tela e me mostra uma imagem borrada de um Jim no ensino médio, de cabelo curto, vestindo uma jaqueta de atleta e com duas líderes de torcida embaixo de seus braços musculoso. Parecia uma pessoa completamente diferente.
- Nem fodendo - falo balançando a cabeça entre a foto e o Jim do presente.
Ele guarda o celular.
- Loucura o que dez anos de álcool e drogas fazem - ele vai até o depósito e pega mais um saco de batatas e coloca nos meus pés - Estou sóbrio agora, graças a uma clínica de reabilitação em Erie e as reuniões semanais no AA, mas eu perdi tudo. Meus amigos, família, minha noiva.
Com um longo suspiro ele se senta na porta do caminhão e acende um cigarro.
- Ela era meu amor de escola, mas ela me deixou depois de uma semana de bebedeira. Não posso culpar ela - o olhar dele está distante, ele dá mais um trago no cigarro - Álcool era a minha maneira de fugir de tudo, sabe?
Eu concordo com a cabeça, sentindo raiva pensando na minha mãe. Como álcool era a fuga dela, tudo na vida dela ficando para trás no segundo que ela pega uma bebida. Fugindo de responsabilidades, de relacionamentos, da habilidade de funcionar como um ser humano normal, que dirá ser uma mãe.
Então penso em mim. Eu não bebo, mas… com certeza fujo de algumas coisas, só de que uma de uma maneira diferente.
- Eu entendo - dou um longo suspiro olhando para as batatas.
Ele grunhe e se levanta e aponta o dedo para mim.
- Qualquer que seja o problema, não fuja. Não termine sozinha como eu, garota.
- Jim. Que merda você tá falando? Você tem tipo… quarenta anos.
- Eh. Tanto faz - ele balança a mão para mim e volta o cigarro para a boca no caminho de volta ao galpão.
Vejo ele ir, mas algo que disse fica em mim. Fugir.
Penso em Natalie, como ela disse que me amava naquela noite em Philly. Como ela abriu meus olhos para algo que eu nunca tinha percebido sobre mim mesma. Como estava certa sobre nós.
E aqui estou, sabotando isso. Como sempre faço.
Por que eu fugiria de Natalie para ficar sofrendo por uma garota que gosta de outra pessoa?
Não posso ser mais a pessoa que corre, como minha mãe. Preciso ficar e se não conseguir fazer funcionar com Natalie, não vou conseguir com mais ninguém. Preciso tentar.
Estou decidida.

She Gets the GirlWhere stories live. Discover now