CAP. 23 - Trabalho Sujo

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Já se faz quase uma semana... Uma semana que Jack sumiu, após o beijo...
Eu ainda tenho uma pequena pontada de esperança, mas não consigo não pensar que ele pode ter me abandonado.

Ao menos dessa vez ele me deixou comida o suficiente, por isso acho que ele ainda irá voltar.

Todos os dias eu ia para a floresta, principalmente para a cachoeira, explorando ao redor, mas nunca ia tão longe, por medo de me perder.

Após aquela noite no parque, quando vi os vultos, não tive coragem de ir lá sem o Jack. Os dias pareciam iguais, algumas vezes me dava vontade de mergulhar na cachoeira... Mas caso eu me afogasse, Jack não estaria aqui.

Mas ele me ensinou algumas coisas, acho que não teria problema se eu entrasse um pouco na água, ao menos seria algo diferente para se fazer aqui.

Ao chegar no lago, as águas estavam calmas, era possível ver seu fundo com pedras lisas e transparentes em sua maior parte. Tiro o meu vestido, ficando nua, entrando devagar nas águas cristalinas.

Aquele lugar já fazia parte de mim...

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Jack:

-Corram...

Eles gritam, como se alguém fosse escuta-los em meio a noite fria no campo.

Três meninos, o mais velho os guiava para o meio da plantação com uma arma em sua mão, como se adiantasse fugir ou se proteger.

- Estou atrás de vocês! Não olhem para trás!

Mas seus esforços são nulos. Não importa o quanto tentem, mata-los será fácil e prazeroso.

Apareço na frente deles em meio a escuridão, eles gritam desesperados.

- Eu disse! Ele é real! Não era a minha imaginação!

Os outros me olham assustados, eu também ficaria no lugar deles. Seguro o menor no ar, passando minhas garras em meio a sua barriga, arrancando todos os seus órgãos para fora. Os outros dois me olham horrorizados, logo correm chorando em desespero.

Mas pego o segundo irmão pelas pernas, arrancando-as, ouvindo seus gritos de dor, ao mesmo tempo corto o seu pescoço com apenas um arranhão de minha garra.

O mais velho me encara, como se a situação não fosse real. Ouço barulhos de sirenes ao longe, enquanto o garoto aponta sua arma para mim, disparando vários tiros contra o meu peito.

Ele olha incrédulo, mesmo as balas atravessando o meu corpo, obviamente estou de pé.
Quando ele desfoca sua atenção para ver os polícias chegando, eu simplesmente desapareço, enquanto o garoto é preso na frente de seus pais. Louco o chamarão.

Foi uma bela distração. Bela... Bella. Tudo isso para tentar tirar essa mulher dos meus pensamentos e pelo visto não obtive êxito ainda. Porra, como posso ter uma relação assim com alguém? Como a droga do universo deixou isso acontecer???

Ao chegar outra vez "em casa" não encontro essa garota dentro do circo. Estava quase anoitecendo, onde ela pode ter ido?

Isso é fácil, eu posso senti-la aqui. Sinto os seus passos, sua respiração, seus sentidos. Ela estava na água, provavelmente na cachoeira.

Quando a encontro, Bella estava virada para a cachoeira, não me vendo aproximar-se dela. Estava sem suas roupas, apenas a água tentava encobri-la, sem sucesso. Eu posso ver tudo... A água escorrendo em seu pequeno corpo, confesso que não é uma visão que me atrapalha.

Um ser humano tão frágil em minhas mãos, o qual mantenho vivo como prisioneira... O qual eu tenho a droga de uma conexão. A lua encostava em seus cabelos claros, como algo poderia ser tão perfeito... E ser meu?

Eu não queria me entregar a isso, eu não aceitava que tínhamos uma ligação, um demônio como eu e uma mulher frágil e "inocente", ao menos mais que eu... Isso nunca passaria em meus pensamentos... Em tantos anos... Não consigo nem conta-los, tanto tempo já se foi, nada assim nunca me aconteceu.

Ela vira-se em um momento para trás, acaba se assustando ao me ver, mas logo sorri.

- Jack! Você voltou! Mas... Você...

Eu já sabia o que ela iria dizer, eu estava totalmente sujo de sangue por quase o meu corpo todo. Eu iria fazer o quê? Proezas do ofício.

- Sim, eu sei disso.

Tiro a minha camisa, junto do meu suspensório, me aproximando do lago, entrando também.

- Jack... Eu queria dizer que... Sinto muito...

Ela fala ainda um pouco longe de mim.

- Mas fui eu quem te beijei.

Ela sorri sem graça para baixo. Talvez sair após essa situação não tenha sido uma das minhas maravilhosas idéias.

Tento me aproximar mais dela, mas ela recua.

- Está com medo?

Meu sorriso simplesmente aparece com essa frase.

- Não... Mas, eu estou sem minhas roupas e...

- Você é engraçada, sabia?

Em um instante avanço até ela, ela não poderia nem tentar fugir. Seguro em seu corpo nú, tão vulnerável... Iria ser tão fácil...

Seus olhos encaram os meus, ela seria minha pela eternidade...

- Não precisa sentir tanto medo.

Ela arregala seus olhos, como se fosse a maior notícia do século. Talvez fosse. Logo sinto o seu abraço, todo o seu corpo junto ao meu, o seu calor... Algo que eu não tinha a centenas de anos.

- Mas isso não significa que não terá que fugir de mim.

Solto uma risada um tanto assustadora, mas não causa efeito nenhum nela.

- Eu realmente gosto de você Jack...

Escuto suas palavras em silêncio, segurando o seu corpo.
Ainda não consigo aceitar essa concepção... Nós dois juntos, não fazia sentido algum. Eu não posso amar, porra. Sou alguém que causa sofrimento e sente prazer com isso...

Não posso dizer que gosto dela. Não, ela é a minha prisioneira, apenas a nossa ligação nos mantém.
Quero acreditar nisso.

Eu gosto dela.

Cale a boca.

Jack Risonho - O SacrifícioWhere stories live. Discover now