CAP. 29 - Novo Acompanhante

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- Eu.. não entendo, como você está aqui?

- Horas... eu iria lhe perguntar o mesmo.
Vejo que você está viva aqui, intrigante.

- Eu não deveria estar?

Ele sorri incrédulo, não estava entendendo nada daquela situação.

- Querida... aqui apenas existem almas vagando por este parque eternamente...

- Então... você está morto??

- Faleci aos 29 anos, pelas mãos de Jack, assim como todos aqui.

Quando olho para o auditório o lugar estava repleto de crianças sentadas em suas cadeiras vermelhas... aquilo era horripilante, algumas estavam desmembradas ou da pior forma imaginável!
Coloco as mãos em minha boca com essa cena.

- Meu Deus!...

- Não querida... aqui Deus não existe...

Seu olhar vai ao meu outra vez.

- Então... como você veio parar nesse inferno?... e como está viva ainda??

- Dei a vida pelo meu irmão...

Encaro o chão buscando conforto em minhas memórias...

- Um sacrifício!

Ele exclama em compreensão.

- Talvez isso nunca tenha acontecido durante todos esses anos...
Mas por que... por que ele a mantém viva?

Isaac toca os meus cabelos, como se estivesse conferindo se eu era real.

- Eu não sei... também zelei pela minha vida desde que cheguei aqui. Jack me machucou algumas vezes...

Meu cenho franze, abaixando a manga do vestido, mostrando alguns hematomas feitos por Jack.

- Ah, minha querida... eu sinto muito por isso, mas poderia ter sido muito pior.

Ele pronuncia tocando levemente em meu machucado.

- Mas isso ainda não explica os motivos de você estar viva!

Eu queria contar para ele que temos uma ligação, mas não confio totalmente nesse homem.

- Ele não lhe trata tão mal assim... já os vi andando por aqui algumas vezes e vocês estavam de mãos dadas.

- Não é o que parece...

- Cuidado com os sentimentos, eles podem te matar.

Sinto seu toque em minha mão, era profundamente fria.

- Venha comigo senhorita, iremos dar um passeio por aqui. Você merece conhecer todo esse parque.

Bem, não havia porque eu negar tal proposta. Isaac me guia para fora do teatro, mas ainda tenho dúvidas... todos ali eram crianças, menos ele.

- Isaac...

Falo tocando um de seus ombros.

- Sim querida?

- Por que.. você não é uma criança como todos os outros que estavam nos observando no teatro?

- Horas, porque Jack me matou quando eu era um adulto!

- Pensei que ele só matasse crianças.

Ele sorri de canto, como se não quisesse falar sobre o assunto.
Prosseguimos em silêncio andando lentamente por todo o parque.

- Obrigado por costurar o vestido Isaac..

- Era uma peça tão única... seria uma pena deixá-lo rasgado por aquele monstro, não é?

Concordo com a cabeça... mas eu não via Jack como um "monstro" realmente... não, ele cuidava de mim, do jeito dele, claro.

Mas ele matou todas essas crianças... deixando-as presas aqui, nesse parque, isso era horrível. Como ele poderia fazer esse tipo de coisa com crianças inocentes...

- O que você acha da cachoeira?

Pergunto em busca de algum assunto.

- Sinto muito... mas apenas posso ficar aqui no parque.

- Mas como o vestido foi parar em minha cama?

- Tive apenas uma pequena ajuda.

Ele sorri carinhosamente. Eu não entendia o que ele queria comigo, talvez fosse só curiosidade para me conhecer, mas aquilo era estranho.

Isaac não parecia um homem ruim, afinal ele foi assassinado por Jack...

O dia estava chegando ao fim e não tínhamos visto nem metade do parque.

- Esta quase anoitecendo, acho melhor eu voltar agora.

Ele olha para mim, concordando com a cabeça. Vamos em direção a entrada do parque com o silêncio nos seguindo.

- Lhe desejo sorte querida... por favor, venha me ver mais vezes, será sempre bem-vinda aqui... conosco.

Ele abre um sorriso um tanto assustador em seu rosto, aceno com a cabeça para concordar.

- Ah... irei lhe pedir uma coisa senhorita... não conte ao Jack que nos viu aqui, não sabemos o que ele pode fazer contra você.

- Claro, será um segredo então, muito obrigado pelo passeio Isaac.

- Foi uma honra milady.

Viro-me dando um aceno com a mão, entrando na floresta. Após algum tempo andando chego ao circo e deito-me na cama.

Não param de acontecer coisas inusitadas... então eu não estava sozinha aqui, e todas aquelas almas, meu coração se parte apenas por pensar nelas.

Isaac era gentil, não foi rude uma única vez, ao menos tenho com quem conversar agora... como se ele falasse muito... mas era melhor do que falar com as paredes.

Sim, agora tenho aonde ir, fico feliz por isso...

Jack Risonho - O SacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora