Prólogo

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East Sussex, 2000

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East Sussex, 2000.

Os baques do salto alto contra a madeira faziam com que todas as crianças do orfanato, já familiarizadas com aquele som, se aquietassem e tentassem aparentar o mínimo de etiqueta.

Sempre que a diretora seguia até o terceiro andar, com suas roupas formais e o batom excessivamente vermelho, era sinal de que ela trazia consigo um casal ansioso pela adoção.

As crianças sabiam disso e todas se tumultuavam nos corredores, embora silenciosas, para observar aqueles que poderiam ser seus futuros pais. Seus coraçõezinhos batiam acelerados e os olhos se enchiam de expectativa de que, finalmente, pudessem vir a fazer parte de uma família.

Para o azar dos pequenos, dessa vez, o casal em questão já tinha um alvo certo.

— Eu sei que é só durante essa semana, mas eu devo alertá-los mais uma vez — a diretora disse, enquanto o jovem casal a seguia pelos corredores. — Ela pode ter algumas manias bastante... Perturbadoras.

— Ela é uma criança sozinha, senhora Hall — o homem argumentou e sua mulher, rapidamente, concordou com a cabeça. — Os pais e os irmãos morreram recentemente . Ela não está acostumada com o orfanato e seus novos colegas. Nada mais normal do que ter criado uma válvula de escape...

A diretora estreitou seus olhos e os dirigiu para o homem. Trabalhava no orfanato há mais de quinze anos e podia dizer, com todo conhecimento de causa, o que era ou não normal para uma criança de sete anos.

— Ela mal se comunica com alguém que não sejam seus amigos imaginários — falou a senhora Hall, por fim parando de frente para uma das portas de carvalho do corredor. — E eles podem se tornar bem reais de vez em quando, se é que me entendem.

— Só vamos ficar com ela durante o Natal e o Ano Novo — a mulher, abraçada ao marido, abriu um sorriso sereno. — Não há nada que possa nos assustar.

E então, ao som da declaração da ruiva a sua frente, a diretora do orfanato abriu a porta e deixou que o casal vislumbrasse a garota.

A pequena estava sentada e encolhida em um dos cantos. Seus cabelos volumosos estavam jogados sobre os ombros e ela mirava um ponto fixo enquanto cantarolava uma música.

Frère Jacques, Frère Jacques, dormez-vous? Dormez-vous? — cantava baixinho e em francês, e nem se deu ao trabalho de virar o rosto para observar seus visitantes. Sua voz, melodiosa e contínua, chegava até a ser um tanto tenebrosa. — Sonnez les matines! Sonnez les matines. Ding, daing, dong. Ding, daing, dong.

A ruiva mirou a diretora do orfanato, que tinha as duas sobrancelhas arqueadas como se dissesse "eu avisei". Entretanto, ignorando qualquer primeira impressão, a moça se desvencilhou do marido para se ajoelhar na frente da menina.

Assim que o fez, a criança elevou seu olhar para encará-la, e aí a ruiva quase engasgou. As íris da garota eram cinzas de um tom tão gelado, mas tão gelado que seus olhos pareciam o espelho para um mar de icebergs.

A mulher limpou a garganta e tentou não se mostrar muito assustada.

— Hm... — começou a falar. A pequena a observava com a expressão imutável. — Eu sou francesa e logo reconheci a música. Frerè Jacques era uma das minhas favoritas quando eu era criança. Você fala francês? — Deu um sorriso débil e observou a menininha negar com a cabeça. — Mas então como aprendeu a cantar em francês tão bem?

A órfã inclinou um pouco o pescoço e observou um ponto fixo a alguns centímetros de distância. Deixou seu olhar estacionado lá como se observasse alguma coisa, mas não havia nada — a mulher constatou ao se virar na mesma direção.

— O senhor Dupin me ensinou — a pequena disse, por fim.

— Quem é o senhor Dupin? Um dos funcionários do orfanato?

A menina negou veementemente.

— Seu amigo imaginário? — tornou a arriscar e, com os olhos brilhando, a garotinha assentiu. — Ele está aqui agora? O senhor Dupin está aqui? — A ruiva a observou, mais uma vez, fazer que "sim". O marido e a senhora Hall estavam estáticos próximos a porta, sem querer tomar parte no estranho diálogo. — Onde ele está?

A criança novamente inclinou o pescoço e olhou para um ponto fixo no nada. Dessa vez, o obstáculo invisível que preenchia seus olhos parecia estar muito mais próximo.

Ela levantou sua mãozinha e indicou um ponto acima do ombro da ruiva.

— Logo atrás de você — falou e a mulher sentiu um vento frio próximo a orelha, quase como se alguém tivesse soprado seus cabelos. — Ele diz que gosta da tatuagem que você tem nas costas. São dois pássaros, não são?


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