Caçadora de Corpos

Capítulo 20

- Entra! – Siberia gritou, puxando um doce de framboesa com os dentes. O que era aquilo, afinal? Parecia meio uma bala, uma gelatina comprida... Não interessava. Ela só sabia que estava gostando para caramba do sabor. De esticar aquele negócio até arrancar um pedaço.

Estava no pequeno escritório destinado a ela na sede de Winchester. Como eles não estavam fazendo nada com aquele espaço, por que não emprestá-lo à "perita" mais sexy da Scotland Yard?

Lindell resmungou e suplicou no ouvido dos seus superiores, até que lhe cedessem aquela salinha. E ela estava feliz ali. Podia conversar com seus espíritos em paz e até já tinha dado um toque pessoal no ambiente.

A samambaia que tinha colocado no canto era chuchu, e em cima da mesa havia uma miniatura de Buda e uma caveira mexicana de plástico.

A porta se abriu revelando um Strauss taciturno e ilegível. Seus olhos pareciam vagos, severos, e a menina - que estava com os pés sobre a mesa - apenas girou um pouquinho a poltrona.

Ele se aproximou vagarosamente, e algo nos seus passos fez com que Lindell se lembrasse de um executor indo em direção ao condenado. Credo em cruz!

- Você sabe o que é isso? – ele enfim perguntou, estendendo um pedaço de tecido azul bem diante dos seus olhos.

- Minha calcinha! – respondeu radiante, tomando-a da mão do detetive. – Obrigada. É uma das minhas favoritas. Pensei que nunca mais fosse vê-la!

Uma veia pareceu se sobressaltar na testa de Logan. Ele respirou fundo, para não perder a paciência, e prosseguiu:

- Você sabe onde ela estava?

- Ah! Hm... Er... Na casa do Erik? – arriscou.

- E por que estava lá?

- Porque nós transamos...?

O detetive cruzou os braços e deixou que as pálpebras se fechassem dolorosamente. Era como se aquela fala tivesse desferido um golpe profundo e difícil de suportar. Uma lança parecia ter acabado de perfurar seu coração.

Abriu os olhos mais uma vez, mantendo-a em foco, e sua voz saiu mais baixa:

- E é só isso o que você tem a me dizer?

- Errrr... Foi bom? – sugeriu com um sorriso amigável, e o rosto dele se fechou ainda mais. – O que você quer ouvir? Uma comparação? Bom, ele certamente não gosta muito de preliminares... E fala bem menos e-

- Não é o que eu quero saber. – cortou. Seus olhos estavam mordazes, acusatórios, e a postura predatória como se estivesse prestes a avançar em alguém. Ele encarava Lindell fixamente e a menina deixou o saco de doces de lado, percebendo que o detetive estava realmente para poucos amigos. – O que eu quero saber é por que. Por que você transou com o Erik? Porque, sei lá, você gosta dele? Porque acha que ele pode estar interessado em você? Siberia... – Expirou como se estivesse exausto. – Você sabe... Sabe que ele está te usando para me atingir, não é?

- Como ele atingiria o senhor?

Oh, céus. Não era possível que ela não tinha percebido. Não era possível que ela não sabia o quanto era importante para Logan!

Ele respirou fundo, preparando-se para continuar o assunto:

- Erik pensa que eu tenho um carinho especial por você. – falou baixo e se sentou no canto da mesa.

- Carinho especial?

- Acha que, te tocando, vai me deixar com raiva.

- E deixa?