Capítulo 1

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"Deus me fará justiça." — Dumas, Alexandre. O Conde de Monte Cristo.


Quando, em uma noite de bebedeira, Logan se viu sendo expulso da boate em função de uma briga, pensou que, automaticamente, seria demitido do seu importante cargo na Scotland Yard.

Tinha dado lágrimas, suor e sangue para conseguir esse emprego — como sugeria sua tenra idade — e não conseguia aceitar que seu destino, provavelmente, envolvia uma bela de uma demissão.

Já tinha escapado de um afastamento do serviço no ano anterior, quando, depois de uma festa, dormiu ao volante e enfiou o carro em um poste... Mas duvidava que, dessa vez, seus superiores seriam condescendentes.

Logan podia jurar de pés juntos que, quando chegasse em seu escritório na segunda-feira, teria em cima da mesa uma solícita carta de demissão endereçada a ele.

Para sua sorte — ou para o seu azar — não foi o que aconteceu. Em vez de mandá-lo para a rua da amargura, o delegado Doakes, responsável pelo seu setor, enviou-o como líder de um grupo que investigaria um caso em Winchester.

Uma alternativa razoável e consideravelmente melhor que a demissão, não fosse o fato de que sua equipe era composta por apenas duas pessoas, de que ninguém queria assumir o caso — qual é! Winchester ficava em outro estado. Não era, de forma alguma, responsabilidade da polícia metropolitana de Londres qualquer coisa que acontecesse lá — e essa era sua cidade natal.

Pois é. Talvez qualquer outra pessoa, quando pensasse na cidade natal, visse fadinhas e estrelinhas, mas esse nem de longe era o caso de Logan Strauss. Ele detestava seus habitantes, o ar da cidade, a arquitetura de Winchester e, principalmente, o investigador responsável pelos crimes da região.

Ele e Erik Christiansen — o outro investigador —, desde a infância, tinham um histórico brigas e desentendimentos sobre o qual ele não gostaria de falar. Com ninguém.

Os casos de Winchester, que, para o orgulho de Logan, a polícia local não tinha conseguido resolver, envolviam uma série de assassinatos na cidade e em seus arredores.

Uma história intrigante. Um contexto para chamar a atenção de qualquer investigador faminto por mistérios, certo? Errado.

Os assassinatos já aconteciam havia cerca de seis meses e as autoridades não tinham nenhum suspeito. Logan Strauss e sua equipe — composta por Charles Harrisson e Savannah Millers — tinham chegado há mais de um mês e não tinham se deparado com nenhuma pista importante.

A não ser...


Logan ultrapassou a faixa de isolamento e adentrou o armazém abandonado, que agora estava abarrotado de policiais e peritos que fotografavam e analisavam a cena do crime. O sangue corria quente por suas veias e o coração estava ligeiramente acelerado.

Ele não podia acreditar que o assassino tinha agido novamente. Já era a décima vítima naqueles seis meses e ele parecia incapaz de encontrar um vestígio importante que levasse à solução daquele mistério.

Para sua alegria, se ele estava há apenas um mês procurando por pistas sem sucesso, Erik Christiansen estava há mais de cinco, e seu rival logo lhe dirigiu a atenção ao vê-lo adentrar o armazém.

— Bom ver que você continua pontual, Strauss. Estamos nessa merda desse lugar há quase duas horas. — disse Christiansen, colocando as mãos na cintura e chamando a atenção de algumas pessoas em volta.

— Que manhã produtiva a sua. Vou colocar até uma estrelinha no seu relatório. — Logan respondeu com um leve sarcasmo, mas não perdeu tempo para observar a reação de Erik.

Caçadora de CorposWhere stories live. Discover now