Capítulo 16

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- O Luminol acendeu. – disse Charles, abrindo a porta da sala de reuniões sem bater.

Logan estava com as pernas esticadas sobre a mesa. Os olhos, antes de ser interrompido, estavam grudados em fotos e laudos do caso de Edwin Marshall. O policial detestava ser interrompido no meio da leitura. Era mandão, perfeccionista e manipulador, então, se estivesse em seus dias normais, provavelmente mandaria Charlie sair da sala, bater na porta e entrar de novo.

Como estava em um bom dia – sabe-se lá Deus por que -, apenas suspirou e fez sinal para que ele se aproximasse.

- Borrifamos luminol na parte de trás da caminhonete. – Charlie repetiu. Os cabelos estavam avacalhados e o jaleco desarrumado no corpo, de modo que ele parecesse um cientista maluco. – Acendeu. Em vários pontos.

Luminol era uma substância química frequentemente utilizada em investigações criminais. Quando em contato com o ferro da hemoglobina, a substância liberava uma luz azul forte e perfeitamente visível, que permitia que os investigadores identificassem pontos onde sangue havia sido derramado.

- Ótimo. Já pesquisaram o tipo sanguíneo?

- "A positivo". O mesmo de Surya Ananda.

- Ainda não é o suficiente. – Logan retirou as pernas de cima da mesa e coçou o queixo.

Estava sozinho na imensa sala de reuniões. A luz acinzentada do dia entrava frágil pelas persianas, o ambiente tinha isolamento acústico e era o local perfeito para que ele meditasse ou tirasse algumas horas para se focar inteiramente no serviço.

Antes, o escritório de sua casa era o lugar onde procurava por paz e plenitude. Era só entrar ali que sua mente começava a funcionar como uma máquina. As engrenagens de seu cérebro pareciam trabalhar mais rápido assim que se recostava na poltrona acolchoada do seu santuário, mas as coisas estavam mudando.

A casa alugada já não era mais seu retiro de tranquilidade. Pelo contrário. Sempre que estava lá, suas faculdades mentais eram afetadas pela presença de Siberia. Ela e seu cheiro adocicado e inebriante; seus olhos, que eram dois focos de mistério em um rosto angelical. O rebolado da garota tirava Logan do sério. Sempre que o detetive queria se concentrar em um bom artigo científico ou em um fascinante romance histórico, lá estava Lindell: de pijama curto, cabelos desgrenhados e andar enlouquecedor.

- Mas você não acha muita coincidência? – Charlie perguntou. Os óculos, assim como suas roupas, estavam desarrumados.

- Hm? – Strauss voltou à realidade.

- Que o sangue seja compatível com o de Surya Ananda... Veja só, semana passada, o vice-prefeito foi acusado de assassinar a secretária em rede nacional. E agora recebemos essa ligação anônima. – ele balançou a cabeça para os dois lados, pensativo. – Para mim, Lance Galloway é o culpado.

- Quem sabe? – Logan deu de ombros, embora soubesse a verdade.

Na semana anterior, ele e Siberia tinham voltado ao local do crime para procurar por pistas. O gabinete de Lance Galloway estava contornado por várias faixas de isolamento, seguranças e alguns veículos da imprensa.

Depois de inventarem algumas mentiras e vasculharem toda a área, Lindell começou a ter a sua típica reação. Os joelhos fraquejaram, os lábios ficaram roxos e, de uma hora para outra, lá estava ela, conversando com Surya Ananda.

O detetive mais gostoso da Scotland Yard poderia ter rido e debochado. Poderia ter dado as costas e persistido na negação de que o sobrenatural não existia... Mas essa seria a maior tolice. Já tinha presenciado fenômenos o bastante para concordar com aquela loucura. Acreditava piamente na sua garçonete do Rye e estaria disposto a enfrentar tudo e a todos que tentassem contradizê-la.

Caçadora de CorposWhere stories live. Discover now