Capítulo 24 (Parte I)

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Siberia Lindell

Eu tinha demorado quarenta minutos no banho. Era um tempo exagerado, era demais, e eu sabia que a água do Planeta Terra não tinha nada a ver com o que eu estava sentindo. Sentindo. Eu tinha usado mesmo essa palavra?

Me sentei na cama e percebi parte do colchão ceder ao meu peso. Fixei meu olhar no vazio e dei um sorriso seco.

Merda. O sabor de bile, na minha boca, não era normal. O coração apertado, muito menos.

Espera! Quem disse coração? Eu não tinha coração. Desde que acordei do coma, após a morte da minha família, eu tinha um buraco negro no lado esquerdo do peito e nada mais. Eu não sentia. Não me importava, não me apegava. Era como uma impenetrável muralha de gelo e sempre tinha me orgulhado disso.

Eu via espíritos, cadáveres, ouvia histórias dramáticas e me enfurnava nos assassinatos mais mirabolantes. Nada nunca tirou de mim qualquer reação. A apatia e a indiferença sempre foram minhas grandes companheiras, então talvez, por esse motivo, agora eu não sabia explicar o que estava acontecendo.

"– Eu... Vou considerar a proposta da Missandei.

- Você quer voltar com ela?

- Quem sabe? – ele balançou os ombros. – Acho que esse é o melhor para todo mundo"

Ah, droga. Para a puta que pariu com esse pensamento!

Não fazia nem uma hora que tínhamos conversado na sala. Então por que, meu bom Deus, eu tinha remoído esse diálogo pelo menos trezentas e sessenta e sete vezes? Eu queria carregar uma placa de neon enorme escrita: "FODA-SE". Foda-se se o Strauss ia voltar com a Missandei. Eu não tinha absolutamente nada a ver com isso.

A menina era até legal e coisa e tal... Bonita, tinha os peitos maiores que os meus. Logan com certeza saberia o que fazer com eles. Ele ia achar ótimo, se deleitar e seria feliz para sempre. Missandei era uma garota normal. Ela poderia amá-lo. Ela poderia desejá-lo e a ninguém mais.

Era perfeito. Era o que ele merecia. Ele não precisaria mais ficar mendigando minha atenção.

Me joguei de costas na cama e admirei o teto. Eu tinha a impressão de que aquela seria uma das noites que eu não conseguiria dormir. O que era uma bosta. Poucas coisas no mundo vinham antes de "dormir" na minha listinha de preferências:

Trepar com o Strauss

Pudim

Comer

Trepar (no geral)

E aí vinha dormir.

Talvez fosse porque o oba-oba com Logan era meu Top 1 afazeres-favoritos-do-mundo que eu estava tão incomodada. Se ele voltasse com Missandei, significava que ele seria exclusivo dela. E, merda, minha pepeca ia chiar.

Eu teria que comprar um vibrador bem grande e grosso para compensar a perda. Eu daria o nome dele de "Meu Detetive". Aí, toda vez que eu o estivesse usando, eu fecharia os olhos e fingiria que nada mudou:

"- Vai, meu detetive. Vai. Isso. Isso. Ah, merda. Como o senhor é gostoso!"

Seria mais ridículo e traumático do que a vez que Logan me fez latir na cozinha...

Virei para o lado e ouvi um zunido ao longe. Era uma música. Uma música que eu conhecia bem: o toque do celular do Strauss. E nem era o pessoal, era o do trabalho mesmo.

Sentei-me imediatamente no colchão e reuni as sobrancelhas. Eram três horas da manhã. Para que alguém estivesse ligando naquele horário... Oh, não. Oh, merda!

Caçadora de CorposOnde as histórias ganham vida. Descobre agora