Capítulo Três

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Abro os olhos. Estou de pé. No terraço do meu prédio. Quer dizer, do prédio em que eu morava antes de ter fugido das pessoas que confiavam em mim.

Eu nem preciso olhar em volta para saber o que estou fazendo aqui. Estou dormindo. Estou sonhando que estou aqui. E logo ela vai aparecer. Ela, não eu. Aquela não sou eu. Aquela nunca será eu.

Me viro. E lá está ela. Minha altura, meu cabelo, o meu rabo de cavalo, a minha boca, as minhas roupas. Mas não são os meus olhos.

— Saudades? — ela fala.

Eu sinto raiva. Não quero ela aqui. Não quero sonhar com ela. Não quero que ela fique mexendo com a minha mente. Eu quero acordar.

— Por quê? — pergunto. — Por que você não vai embora?

Ela ri. Uma risada medonha e sinistra ao mesmo tempo.

— Não tem como eu ir embora. Eu sou você. — ela fala.

Não.

— Você NÃO sou eu. — eu me irrito. Ela sempre tenta esse truque. "Eu sou você, Claire".

Não, você não sou eu. Eu não tenho esses horríveis olhos vermelhos.

— Então o que eu sou? — ela pergunta.

E então eu abro os meus olhos novamente. Estou ensopada de suor. Harry está virado de costas para mim. Percebo que já tem luz entrando pelas tábuas da janela.

Então o que eu sou?

É o que eu estou tentando descobrir há semanas. Mas de uma coisa eu sei. Você não é eu.

Me levanto da cama. Sinto pena de Niall que teve que ficar a noite acordado vendo se invadiam a casa. Não estamos seguros aqui. Não estamos seguros em lugar nenhum.

Pego o meu arco e a aljava. Faço o meu rabo de cavalo e então vou com cuidado para não acordar Harry até a porta. Eu a fecho silenciosamente. Desço as escadas e então vejo Dylan observando a janela. Ele se vira para mim.

Ergo as sobrancelhas. Tenho certeza de que vi Niall vindo vigiar e dele entrando no quarto...

— Não era Niall que estava aqui? — pergunto.

— Trocamos de turno. — ele explica.

Bom, pelo menos ninguém fica sem dormir. Sinto minha garganta seca e meu estômago roncar. Estou com sede e fome. O bom é que não temos água potável e a única comida que ainda prestava eram aqueles enlatados que começamos de almoço e janta. Não tem mais nada nessa casa que sirva para comer.

Precisamos sair para procurar. Igual fazíamos no prédio. Temos que ser Sinistros novamente. Mas dessa vez, sem aquela multidão que sempre ia junto. Sem alguém no comando e sem muita organização nem veículos que nos levem para o shopping. Pelo menos não teremos Louis aqui.

Fico imaginando se Zayn tivesse colocado Louis nessa equipe também. Eu iria ter dado um tiro no meio da testa dele no segundo que pudesse. Ainda não acredito que ele pode fazer aquilo comigo.

Balanço a cabeça, para espantar o pensamento. Não quero lembrar dele agora. Ponho o arco na mão e vou na direção da porta.

— Aonde vai? — pergunta Dylan.

— Buscar o café da manhã — falo.

Quando estou abrindo a porta, Dylan vem me impedir de sair. Ele pega meu pulso e fecha a porta. Fico brava e acabo perdendo o controle:

— Eu sei que é perigoso lá fora! Mas a gente precisa pegar as merdas dos suprimentos! Não temos mais enlatados! Não temos nem água e eu estou morrendo de sede, então acho melhor você soltar meu pulso antes que eu arranque sua mão com uma faca de cozinha.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraWhere stories live. Discover now