Capítulo Oito

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"E aí gente? Estão gostando de como está ficando?"

O alarme do carro não para por um instante. Não consigo nem imaginar quantos zumbis isso pode estar atraindo.

Os animais mortos-vivos nos encaram como se fossemos um bife e eles estivessem morrendo de fome. Mas na verdade, é mais ou menos isso mesmo que está acontecendo.

O cachorro em cima do carro rosna. Suas patas se preparam. Ele mexe a cabeça e então, pula.

Em um movimento automático, puxo a flecha na corda do meu arco e atiro contra o animal que estava pulando em minha direção. A flecha atinge seu pescoço e o animal cai no chão, com o objeto cravado em sua pele.

— Vamos! — digo ao dar meia volta e correr.

Seguro meu arco firmemente na mão. Todos me acompanham pela rua. Passamos por carros parados, lojas, casas e destroços. Os cachorros vão passando por cima de tudo que temos que dar a volta para atravessar.

Olho para trás e vejo Niall dar um tiro em um dos animais que já estava quase abocanhando seu calcanhar. Os cachorros zumbis são bem mais rápidos que os cachorros normais.

Meus passos se aceleram cada vez mais. Consigo ser bem mais rápida que todos eles, mas não posso deixá-los para trás.

Ao passarmos ao lado de um ônibus, meu coração quase sai pela boca. Um zumbi pula e me agarra. Eu caio no chão. O zumbi agarra os meus braços e me prende, me deixando desprotegida de seus dentes. Eu tento me soltar, mas o zumbi é forte.

De repente, eu vejo seu corpo voar para ao lado com um chute. Ao meu lado, Harry estende a mão para me ajudar. Seguro sua mão e me levanto o mais rápido possível. Um cachorro pula em nossa direção, mas como reflexo, eu bato a ponta de meu arco contra seu corpo. O animal vai para o chão com tudo.

Mais três cachorros se aproximam rapidamente e então nós retomamos a nossa corrida, ignorando o zumbi no chão.

A tarde já está acabando. Minha barriga já começou a pedir por comida. Temos que nos abrigar em algum lugar antes que fique de noite.

Seguimos para uma avenida. As ruas estão lotadas de carros, caminhões e ônibus.

Meu pulmão arde e meu coração está palpitando. Olho para as casas por perto e percebo alguns edifícios que não são muito altos. No meio da avenida, eu vejo um caminhão parado perto a um dos edifícios baixos. Percebo que posso pular em cima do edifício pelo caminhão.

— Do outro lado da rua! — grita Harry, apontando para o outro lado. — Naquela loja! Podemos nos esconder lá!

Na minha mente, surge uma ideia maluca, mas que pode dar certo.

Olho para trás e vejo os animais se aproximando. Se eu for fazer isso, preciso fazer isso agora.

Enquanto os outros atravessam a rua, eu fico para trás. Deixo eles seguirem para a loja, mas eu desvio meu caminho. Corro para o meio dos carros. E como o esperado, os cachorros me seguem, por eu ser a pessoa mais perto deles.

Corro entre os carros, sem olhar para trás. Meu pulmão arde a cada pisada no chão. A adrenalina percorre meu sangue.

Não solto meu arco por nada.

— CLAIRE! — ouço Harry gritar.

Eu olho para trás e o vejo desviando sua trajetória também. Não! Droga, não era para ele fazer isso!

Eu deveria ter lhes falado o que ia fazer, mas não tive tempo.

Não posso parar agora. Tenho que continuar. Tenho que continuar a minha ideia.

Pulo em cima do capô de um carro, que dispara. Não ligo para o alarme. Pulo para outro carro, e para outro e para outro. Vou indo por cima dos carros até chegar em um ônibus. Salto, segurando em seu teto.

Olho para trás e vejo Harry pulando em cima dos carros e os cachorros vindo junto.

Me puxo para cima do ônibus e então fico de pé no teto dele. Pego uma flecha e a ajeito no arco. Atiro contra os cachorros que correm praticamente ao lado de Harry. O garoto finalmente pula para o ônibus. Eu o ajudo a subir.

— O que está fazendo? — pergunta ele sem conseguir respirar.

— Não dá tempo de explicar. — falo, ofegantemente.

Olho para os animais e os vejo bem perto do ônibus. Não sei se eles vão conseguir subir no ônibus, mas não fico esperando eles chegaram para ver isso.

Retomo a corrida em cima do ônibus. Pulo para cima de outro ônibus e então para cima de um caminhão. Corro por cima da carreta do caminhão, indo em direção ao caminhão da frente. Um zumbi pula no capô dele e sobe na carroceria. Não paro. Ao chegar na ponta, pulo para a carreta do caminhão da frente. E então, percebo que pulei ao mesmo tempo que o zumbi.

Nossos corpos se chocam no ar. Nós caímos juntos, com ele em cima de mim. Metade do meu corpo fica para fora da carroceria do caminhão que queria chegar.

O zumbi empurra meus braços fortemente. Meu coração para ao sentir minhas costas indo para trás e escorregando para fora do caminhão. Faço uma coisa que nunca fiz antes, agarro nos cotovelos do zumbi e tento me puxar para perto, para não cair.

Sapatos colidem contra o metal do meu lado e percebo que Harry está aqui. Ele empurra o zumbi, que escorrega para fora da carreta do caminhão. Ele me ajuda a levantar.

Olho para trás e então vejo os cachorros pulando de ônibus e ônibus. Eles conseguiram pular em cima do ônibus.

— Vamos! — falo.

E então, nós corremos.

Eu e ele pulamos para cima do edifício que eu havia planejado pular. Nossos pés atingem os cascalhos e nós caímos. Rapidamente, pego a pistola de meu coldre e a ergo.

— O que vai fazer? — Harry praticamente grita ao perguntar isso.

Disparo certeiramente no local onde fica a gasolina em um carro qualquer. Três tiros são o necessário para que uma explosão se forme.

Uma fumaça gigantesca sobe e eu pulo para trás. Um barulho ensurdecedor quase destrói meus tímpanos. Meu coração quase pula de meu peito. Outra explosão.

Pedaços metálicos voam por todas as partes. Tapo os ouvidos e me jogo contra o chão.

Vidros. Metais. Fogo.

Explosões e explosões são seguidas uma da outra. Fecho os meus olhos fortemente. Meu coração dói de tão forte que está batendo.

Então, eu percebo o que eu fiz. Percebo que fiz errado. Percebo que posso ter acabado com tudo.

Abro meus olhos. Eu posso ter matado todo mundo.

Eu não deveria ter feito isso. Eu não poderia...

Mais explosões. Minha cabeça dói. Imagino pedaços de ferro atingindo Niall. Imagino a explosão pegando Demi. Imagino um carro voando em Dylan. Imagino um ônibus pegando Ari.

Lágrimas veem aos meus olhos. Eu não deveria ter feito isso.

Os carros vão explodindo um atrás do outro. O barulho das explosões é retida centenas de vezes. Eu não consigo tirar minhas mãos do ouvido. Não consigo parar de tremer. Não consigo respirar.

Por um minuto penso estar mergulhando em uma imensa escuridão. Uma escuridão sem fim. Os rostos de todos de quem acabei de matar aparecem na minha mente como um filme.

O que eu fiz?

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraWhere stories live. Discover now