Capítulo Vinte

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Estou em um prédio. Em um dos andares mais altos. Em um corredor onde as paredes são de vidro e o chão de um metal tão branco e limpo que eu vejo meu reflexo.

Pelas janelas, eu consigo ver os prédios da cidade. Mas a cidade não está destruída. Pelo contrário. Está limpa. Alguns aviões passam por cima dos prédios. O sol ilumina tudo e o céu azul me dá uma sensação de relaxamento. Vejo dirigíveis. Sorrio ao ver tudo aquilo.

Mas não é real. Eu sei que não é real. Dias assim acabaram.

Suspiro. Olho para frente. Meu sorriso se vai. Ela. A de olhos vermelhos. Ela está fazendo esse sonho. Ela está fazendo isso e sua presença arruina meu único sonho bom em anos.

Quando olho para a cidade novamente, vejo uma enorme nuvem negra começar a cobri-la. Raios caem dela e fazem sons ensurdecedores. Bom, o momento feliz acabou.

Olho novamente para ela. Olho para baixo e vejo o piso começar a rachar. Os pedaços rachados começam a subir e flutuar no ar ao nosso redor. Olho para a outra de mim, cercada por pedaços do chão.

Os pedaços vão se multiplicando. A outra de mim começa a correr entre os milhões de pedacinhos brancos no ar que até alguns segundos atrás era o chão. Vejo o corpo dela colidir contra os pedaços sem gravidade e fazer eles girarem no ar. Cada vez mais pedaços vão subindo e cada vez mais rápido. O chão agora se encontrava no ar e os pedaços batem no meu corpo. Vejo a outra Claire se aproximar cada vez mais e então, pular em minha direção.

Meus olhos se abrem. Não estou suando ou com a respiração ofegante. Não estou nem um pouco assustada. Eu estou bem. Eu já sabia que iria acordar. Eu já sabia que estava sonhando.

Tento me lembrar o que aconteceu antes de eu adormecer. Eu estava em meio a um campo de um parque no Brás. Me lembro do ataque da LPB. Me lembro da mulher enfiando a seringa em mim.

Meus batimentos cardíacos aceleram. Eu fui capturada pela LPB?

Olho para o teto. Vejo um cano de ferro segurando um tecido marrom. Um pouco de luz do sol entra por alguns furos no tecido. Sinto meu corpo afundado em um colchão e minha cabeça em um travesseiro.

Uma cama? Luz do sol? Com toda a certeza eu não estou no Centro.

Então eu me lembro do homem que estava com Niall. Me lembro que ele atirou contra os soldados do Centro. Onde estou? Para onde eles me levaram?

Me sinto estranha. Insegura, mas confortável. Essa cama é a coisa mais gostosa que eu já deitei na minha vida. Por um momento, tenho vontade de ficar aqui para sempre.

Então, me lembro de Harry. Me lembro do tiro que ele levou.

Isso é o suficiente para que eu erga meu corpo e sente na cama. Quando olho para baixo, me vejo com roupas limpas. Minha camisa está do avesso. Alguém me trocou? Olho ao redor e percebo que estou em algum tipo de barraca. Vejo o chão em grama. Vejo uma cadeira. E vejo uma pessoa sentada nela.

Levo um susto ao ver a pessoa. É uma garota. Ela tem um cabelo vermelho forte, como se tivesse pintado. Sempre achei muito bonito cabelos pintados, mas pensei que nunca mais iria ver um assim. A garota aparenta ter mais ou menos a minha idade ou ser até mesmo um pouco menor. Seus olhos são castanhos e ela veste roupas escuras. Por mais de suas vestes e seu cabelo serem mais do estilo de quem não tem sentimentos, seu rosto e sua altura a deixam fofa. Suas bochechas são rosadas e redondas. Ela é bem bonita. Com certeza não é da LPB.

Quando ela percebe que eu acordei, ela se levanta da cadeira e sorri. Suas bochechas ficam mais vermelhas em instantes e a deixam mais fofa.

— Oi! — ela diz com a voz meiga.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraWhere stories live. Discover now