Capítulo Vinte e Dois

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Meu coração quase salta para fora de meu peito. Vejo aqueles olhos brilharem. Não sou eu. É ela.

É ela que está do outro lado do espelho. Esse não é o meu reflexo. É o reflexo dela.

Eu passo a mão no vidro embaçado, para deixar pelo menos o meu rosto aparecer. E eu a vejo sorrir. Os olhos vermelhos continuam a brilhar. Essa não sou eu.

Rapidamente, saio do banheiro, antes que ela pudesse falar qualquer coisa. Não quero passar um minuto olhando para esses olhos vermelhos horríveis.

Não quero quebrar o vidro desse banheiro igual fiz com o do meu apartamento.

Quando saio do apartamento, sinto uma enorme dor na cabeça. Meus joelhos cedem, mas eu não caio.

Você não vai se livrar de mim tão fácil.

Coloco minhas mãos na cabeça. Não sinto mais a dor. Me apoio um pouco na parede e olho para os lados, para ver se alguém mais assistiu essa cena. Me alívio ao ver que não há ninguém aqui.

Pego a chave do apartamento e a tranco. Sinto meu coração bater rapidamente. Caminho até as escadas, mas acabo parando na frente do elevador.

Fico em dúvidas de subir aquelas enormes escadas ou apenas pegar o elevador. Pelo que eu vi, apenas Tomás pode pegar o elevador. Não vi ninguém mais pegando além dele e de seus guardas.

Bom... Não vai fazer mal a ninguém se eu pegar o elevador uma vez...

Aperto o botão e espero as portas do elevador se abrirem. Entro e aperto o botão para a cobertura. O elevador fecha a porta e eu o sinto começar a subir. Fazia muito tempo que não subia por um elevador. Olho para trás e vejo o espelho. Meu coração se aperta, mas eu me alívio assim que vejo que meus olhos não estão vermelhos. O reflexo não é ela.

Vou ver Tomás agora. Esse é um momento terrível para ela aparecer. Ele não sabe o que está acontecendo e se ver meus olhos ficando vermelhos, provavelmente vai pedir minha execução.

Engulo o seco. O elevador para. Ouço um "pling" e vejo pelo espelho as portas do elevador se abrindo. Me viro e então vejo que já estou dentro do apartamento. O chão é todo do madeira. Vejo uma televisão gigante, um sofá que parece ser bem confortável e quatro poltronas, duas à direita do sofá e duas à esquerda, formando um quadrado no meio do apartamento. No centro deles, há um tapete vermelho é uma mesinha de centro. Vejo controles de vídeo game em cima dela, junto à copos com um restinho de alguma bebida preta. Enormes janelas preenchem a parede no fundo e eu vejo uma varanda enorme. Vejo algumas pessoas armadas nela. Nenhuma delas parece perceber que estou aqui.

Saio do elevador e meus sapatos fazem barulho ao pisar na madeira. Por um instante, sinto um pouco de medo de ter ido para o lugar errado. Ando devagar até o quadrado que forma uma sala. Olho para o sofá que está com marcas de que alguém sentou ali recentemente. Vejo o controle do vídeo game ligado e quando olho para TV, vejo que está em uma tela pausada, mas está escuro, como se tivesse muito tempo que ninguém mexeu nos controles.

Ouço o barulho de algo se arrastar e meu coração acelera. Olho para a varanda e vejo um homem passando por uma das portas de vidro.

— O que está fazendo aqui? — ele pergunta parecendo um pouco bravo.

— Eu... ér... — tento dizer, mas nada sai.

Então passos começam a se aproximar do outro lado do apartamento e quando eu olho para o lado, vejo Tomás vindo.

— Tudo bem, Daniel. Pedi para que ela visse aqui. — ele fala.

Me alívio. Por um segundo pensei que iria levar uma enorme bronca.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraOnde histórias criam vida. Descubra agora