Se não fosse por você...

Capítulo 16

Cherry narrando

Acordei em um pulo procurando a gaveta de fundo falso onde eu guardava algumas facas dos treinos que eu fazia, com o mínimo de barulho que consegui fazer, retirei uma de lá e sai do quarto em passos lentos e silenciosos, olhei cada cômodo de cima e logo em seguida desci as escadas com a maior cautela que alguém poderia ter. Eu não estava ficando louca, ouvi um barulho e me pareceu ser bem real pra ser considerado um mero sonho. Não havia ninguém na sala, não que eu pudesse ver muita coisa com todas as luzes da casa apagadas, terminei de descer os últimos dois degraus e quando olhei pra frente, entre a sala e a entrada da cozinha havia um homem, mirei bem a faca e sem pensar muito joguei. Eu estava prestes a acertar uma faca no miserável do Ian que havia acabado de ligar a luz, só que já era tarde pra eu avisar. Porém eu tinha me esquecido de que o filho da mãe é treinado, o mesmo pegou a faca antes que o acertasse e me encarou estreitando os olhos.

-Que é? -eu perguntei como se fosse normal atirar facas nas pessoas no escuro e acertar a mira-

-Que é? -repetiu minha pergunta com ironia- Que diabos você pensou que estava fazendo Cherry?

-Acertando um maldito cara que invadiu minha casa no meio da madrugada. Quem você pensa que é hein? -indaguei irritada-

Fui até ele e tirei a faca de sua mão, logo em seguida lhe dei as costas e voltei a subir as escadas mas ouvi seus passos atrás de mim e me virei.

-O que está fazendo?

-Subindo as escadas com você

-Pois pode descer -disse debochada- Não está na sua casa filhinho de papai -cuspi as palavras-

-Não brinca com fogo Cherry

-É ? porquê ? -perguntei agora frente a frente com ele o encarando-

-Você vai se queimar todinha -disse sexy-

Ooh Deus, assim ficava bem difícil de controlar a vontade de pular em cima dele e o agarrar.

Ainda me encontrava no mesmo lugar, sem tirar os olhos dos dele, apenas arqueei uma sobrancelha, o mesmo soltou um sorriso

-Vim terminar o que começamos

-Novidade: não começamos nada -disse debochada e me afastei dele-

-É o que você diz, mas não foi bem isso que aconteceu -continuava com o maldito sorriso dançando nos lábios enquanto me seguia-

-Ian, eu não estou brincando. Não sou seu fantoche, idiota! -ouvi ele bufar e parar de andar, me virei e o encarei-

-Eu sei que agi feito um idiota com você, não era minha intenção, na verdade você entendeu tudo errado

-É ? E que tal me explicar -cruzei os braços- Tenha um ótimo argumento ou furo seus olhos com essa faca.

Ele abriu a boca umas três vezes mas nada saiu, olhei bem para ele, eu sabia que ele queria falar algo, mas não conseguia. Simplesmente parecia não sair de forma alguma e ele ficou mudo, ali, na minha frente. Diferente de todas as vezes em que já me deparei com casos assim, eu não sabia o que fazer. Ian parecia vulnerável e eu nunca tinha o visto daquela forma, e aquilo me atingia em cheio na boca do estômago, eu sabia bem que sentimento era esse. Essa angústia que eu estava sentindo ao vê-lo de tal forma, eu já sabia que ia acontecer, mas mesmo assim arrisquei. Eu literalmente brinquei com fogo, e como ele mesmo disse me queimei toda. Quando me dei conta de meus devaneios vi Ian se virar e descer as escadas, ele iria embora, eu não impedi, não podia fazer nada.

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Levantei com certa dificuldade da cama, eu não sei o que me doía mais, a cabeça, o corpo ou os olhos por não conseguir prega-los o resto da madrugada inteira. Fui direto para o banheiro fazer minhas higienes e tomar um banho. Depois do banho tomado, vesti um vestido branco longo e calcei uma rasteirinha, desci as escadas afim de fazer algo pra comer me surpreendi encontrando Lay na minha cozinha com a mesa do café da manhã quase toda posta.

-Bom dia meu amoor -Lay disse me dando um abraço e um beijo-

-Bom dia, que animação é essa? -perguntei colocando um pouco de café em uma xícara e tomando o um gole do mesmo-

-Não é animação, é meu espirito normal -disse e nós rimos- Mas e você ? Não ta com uma cara muito boa.

-Não dormi muito bem -disse sem ânimo me lembrando de Ian- Perdi o sono -disse sem querer dar explicações essa hora-

Laysla parou de fazer o que estava fazendo e me encarou

-Não tenta me tapear Cher, eu te conheço como uma mãe conhece seus filhos. Vai me conta, o que houve?

Respirei fundo antes de começar

-Ian esteve aqui essa madrugada

-Como é? -arregalou os olhos e sorriu maliciosa- Espertinha

-O que? Não Lay. Não fizemos nada, eu o provoquei na boate depois de ele aparecer e dar uma de minha babá, e ele veio aqui dizendo que queria terminar o que começamos.

-E porque não terminou? -perguntou confusa-

-Ele ja tinha vindo aqui antes disso -Lay fez menção de querer falar algo mas neguei com a cabeça e a mesma entendeu que era para esperar- Disse que eu não podia trabalhar na Henry's, e mais meio mundo de coisa, enfim, deu a entender que ele não me achava capaz de trabalhar lá. E ontem tinha um cara bêbado enchendo meu saco e o Ian apareceu e botou o cara pra correr, depois me beijou. Achei que ele estivesse jogando comigo, então entrei no jogo o provocando e depois o deixando na mão, mas ai ele apareceu aqui dizendo que iríamos terminar o que tínhamos começado, enfim, conversa vai conversa vem, eu disse que não era fantoche dele

-Iae?

-Deixa eu terminar Lay -disse impaciente-

-Ta, vai

-Ele disse que agiu como um idiota comigo, mas que não era a intenção, e que eu havia entendido errado, então eu pedi pra que ele me explicasse. Só que... -respirei fundo- Ele abriu a boca umas três vezes e nada saia, mas eu podia ver Lay, ele queria falar algo, só não conseguia, e pela primeira vez me peguei em uma situação dessa sem saber o que fazer. Eu sou uma psicóloga poxa, eu lido com esse tipo de coisa o tempo inteiro, nunca tive problemas, mas...

-Você está apaixonada pelo Ian -Lay não me deixou terminar de falar, apenas jogou as palavras na minha cara como se não fossem nada-

-Eu não posso Lay. Eu sei que não sou dessas de ficar fugindo dos sentimentos, mas o Ian é um campo minado, não faria bem a nenhum de nós dois. Eu nem conheço ele, nem sei quem é ele de verdade. Ele entra na minha casa sem ter a chave a hora que bem entender, sabe-se lá o que mais ele faz.

-Você ainda não o conhece Cher. Você vai trabalhar na mesma empresa que ele, provavelmente ele vai ter que passar por você, usa isso a seu favor. É o que você tem por agora. Eu nunca te vi desistir de algo, muito menos sem nem ter começado, não é agora que vou ver, não vou deixar você fazer isso, ele pode ser o cara certo dessa vez.

Respirei fundo. Lay tinha razão apesar de tudo. Ian podia ser o campo minado que fosse, eu estava apaixonada por ele. Nunca fugi de nada, muito menos de sentimentos, não seria agora que eu fugiria.