Capítulo 56

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Cherry narrando

Tudo bem que eu sempre tentei me manter firme nas piores ocasiões, mas dessa vez eu confesso que estava com medo das pernas falharem e eu me espatifar no chão. Eu não estava receosa por talvez ver Caio novamente depois de acreditar feito boba que ele morreu naquele acidente, mas nervosa por temer a vida, não só a minha, mas de todos que estavam ali, do primeiro ao último. Eu tinha consciência que essa minha junção com Ian trouxe problemas para pessoas que não tinham nada a ver com nada. E eu estava ali não só por mim, mas por todos. Quando eu paro para analisar minha relação com o moreno parece que os contras sempre se destacam mais que os prós, as pessoas sempre se machucam perto de nós, e nós mesmos, sempre machucamos um ao outro. Mais meu coração nunca aprendeu a andar lado a lado com a razão, e era por isso que eu fazia dos contras os nossos prós, porque eu amo esse homem.

Depois que nós saímos da casa do tal senhor fomos em direção ao local que Sanches havia nos mandado, não demorou muito para que chegássemos e pudéssemos invadir, porém, antes que eu desse o primeiro passo para dentro daquela nojeira, Ian me puxou e me beijou sem pretexto, sem explicação, sem avisar. Eu não recuei, apenas o acompanhei até ele mesmo separar nossos lábios e sussurrar um "eu te amo" antes de passar na minha frente e adentrar o local.
Quando dei meu primeiro passo lá dentro já pude ouvir o estrondo dos tiros comendo nos corpos alheios.
Olhei ao redor para ter certeza de quem ainda estava por perto, comigo. Depois de contatar quem estava ali sai explorando o lugar atrás da pessoa que eu realmente queria encontrar. Mesmo com meu coração bom que sempre acreditara no melhor das pessoas, ou que sempre havia uma luz no fim daquele longo e cansativo túnel, eu tenho que dizer que deixei alguns rastros de corpos por aquele lugar, mas eu precisava fazer aquilo. Na minha boca havia um corte razoável enquanto na minha testa havia um pequeno e minhas mãos estavam sangrando por acertarem a parede em um golpe falho. Mas no geral, eu estava bem. Isso até sentir uma mão na minha boca e literalmente ser arrastada por um brutamontes que devia ter quase três vezes o meu tamanho e força.
Não sei por que diabos de lugares eu passei, sei que nesse exato momento eu estava bem onde eu queria estar desde que Lara esteve na minha sala.

- Cherry -ele exclamou como se me procurasse há anos e sorriu-

Eu não conseguia falar. Parecia que o mundo tinha engolido todas as palavras que eu queria claramente jogar na cara dele. Minhas mãos começaram com uma tremedeira descomunal, pareciam estar em uma balada. E eu dei graças por estar sentada ou minhas pernas não suportariam meu peso e eu ia me estabefar no chão.

- Diz alguma coisa -ele pediu enquanto puxava uma cadeira e se sentava na minha frente-

As forças que eu achava que tinha perdido de repente vieram com tudo e num lapse eu colei minha mão em seu rosto. O brutamontes fez menção de vir pra cima de mim mas foi impedido com um pequeno gesto de Caio, e assim saiu da sala deixando apenas nós dois ali.

- Eu imagino que você esteja confusa e não saiba de que lado ficar ainda. Mas eu quero te dizer que tudo que eu fiz foi por você Cherry, foi porque eu te amo. Ian Henry Fell te roubou de mim e eu não aceito isso. Você é e sempre vai ser minha -disse acariciando meu rosto-
- Tire suas mãos imundas de mim -proferi com raiva enquanto desviava meu rosto de seu toque-
- Calma meu amor
- Amor? -sorri irônica- Como pode me chamar assim depois da desgraça que você causou na minha vida ? Como tem a capacidade de aparecer pra mim na maior naturalidade e dizer que tudo que fez foi por amor ? Você é um psicopata Caio, precisa de ajuda -lágrimas já escorriam pelo meu rosto-
- Não, eu só preciso de você Cherry. Só preciso daquela vida que planejamos juntos.
- Você quer dizer daquela vida que planejamos enquanto eu, iludida, achava que você era o cara mais perfeito do mundo ? Deixa eu te atualizar: O conto de fadas acabou Caio. Eu não sou mais aquela menininha vestida de mulher que você conheceu. A única coisa que eu sinto por você é nojo.
- Não fale assim, você não sabe o que diz- falou sereno enquanto analisava cuidadosamente o meu rosto- Tenho que cuidar de você. Essas pessoas com quem você se envolveu não são bons exemplos de sanidade.
- Claro -ri de nervoso- E você é um ótimo exemplo de sanidade ne ? -ele concordou com a cabeça me olhando- Tô vendo.
Fiz menção de me levantar da cadeira mais Caio segurou no meu pulso e me olhou no fundo dos olhos.
- Nós tínhamos planos, nos casarmos, ter filhos, formar uma família unida e feliz - Eu puxei meu braço e fui pro canto da sala. Através de uma parede de vidro pude ver Ian subindo as escadas.
- Ele não pode nos ver -Caio disse e eu pude sentir seu corpo quase colado ao meu. Sua respiração calma batia no meu pescoço e um nojo crescia gradativamente dentro de mim-
- Sai da minha frente - disse tentando me afastar do mesmo- Se você tocar um dedo nele eu juro que mato você.
- Eu não vou fazer nada com ele, já não sei meu primo -disse sorrindo vitorioso-
Em um ato rápido dei um chute em seus documentos e corri porta a fora. O brutamontes não estava por ali e meu medo maior era que ele estivesse dando o famoso "jeito" em Ian.
Comecei a descer as escadas o mais ligeiro que consegui e em algum dos lances encontrei Ian quase sendo atirado escada abaixo. Dei um grito que chamou a atenção do brutamontes e ele pode perceber que agora havia uma arma apontada para ele. O mesmo soltou Ian na falha tentativa de pegar sua arma e atirar em mim primeiro, porém eu fui mais rápida. Só que o estrondo do tiro não havia surgido só de mim mas de trás do brutamontes também. Quando o mesmo caiu no chão pude ver Pietro com sua arma apontada pra frente. O mesmo me olhou por alguns segundos e subiu as escadas sem dizer mais nada. Desci até onde Ian se encontrava e apoiei o seu corpo em mim, antes que eu pudesse perceber o Moreno atirou no vidro da sala de Caio, e em segundos o mesmo estava desmoronando.
- Não force seu idiota - disse para o moreno- Você quase morreu agorinha.
- Mas você me salvou. -sorriu e eu o encostei na parede-
Seus olhos castanhos refletiam o brilho do seu coração. Eu sabia que Ian me amava. E por mais que fosse complexo passar uma vida do lado dele, era exatamente essa a minha escolha. Sem sombra de dúvidas. Eu daria a minha vida por ele assim como eu sei que ele daria por mim. Porque dentre tantos erros, esse foi o meu maior e mais bonito acerto. E eu sabia bem disso.

Se não fosse por você...Where stories live. Discover now