Se não fosse por você...

Capítulo 20

Ian narrando

Eu estava nesse exato momento na minha sala, a pasta que continha toda a vida de Cherry se encontrava em cima da mesa na minha frente agora. A decisão entre ler e tentar fazer com que ela me conte era terrível. Já passava da minha hora de ir pra casa mas eu ainda estava ali, pirando. Ouvi batidas na porta e me apressei em guardar a pasta.
– Entre
A morena entrou fazendo meu coração quase pular pela boca. Maldita! Por que ela me causava isso só de aparecer na minha frente. Deu um sorrisinho, pediu licença e adentrou minha sala.
– Veio me contar ?
– Quer mesmo saber ?
– O que aconteceu ? -eu sabia que ela não entregaria o jogo tão fácil assim-
– Você não me conhece Ian -riu da minha pergunta- Não pode saber se quero algo só porque resolvi te contar, você tem uma pasta com a minha vida toda em mãos, ou melhor na gaveta -dito isso ela caminhou até o meu lado e abriu a gaveta tirando a pasta de lá e a abrindo-
Eu ainda a encarava sem acreditar no que ela estava fazendo, a mesma rodeou minha mesa e puxou um cadeira pro meu lado retirando tudo que havia dentro da pasta-
– Eu nasci em Hallstatt, Áustria.

Morava com meus pais até meus oito anos de idade -começou a dizer e colocou duas fotos na mesa em minha frente-

São meus pais -apontou para as fotos e eu as peguei analisando melhor- Como eu ia dizendo, até os oito anos, eles foram assassinados logo em seguida -olhei para Cherry que havia falado falhado e engoliu em seco mas não me olhou- Desde então passei a morar com minha tia Lúcia -colocou outra foto em cima da mesa-

Em Buenos Aires, com 18 anos me mudei pra ca, fiz minha faculdade e na mesma conheci Caio -falou e engoliu em seco mais uma vez. Eu estava preocupado, ela não levantava a cabeça pra me olhar desde que começou a falar, só olhava para os papéis em suas mãos-
–Cherry -disse como quem falasse que ela não precisava fazer aquilo-
– Não, me deixa terminar. Eu conheci Caio na faculdade -ela finalmente levantou a cabeça mas se encontrava com os olhos fechados, apertou os lábios um contra o outro, abriu os olhos e continuou- Viramos os típicos amigos, mas acabamos por namorar. Ele era criminalista também, ele e seu irmão. Foi ai que aprendi atirar facas -deu um sorriso fraco- Não só facas, aprendi um pouco de tudo, ele disse que me protegeria mas que todo cuidado era pouco. O irmão dele me odiava, sentia-se excluído pois sempre teve Caio como um apoio, e naquele momento Caio estava pra virar meu noivo. Estávamos indo viajar, Pietro, o irmão de Caio, ajudou a fazer nossa escolta, em determinado momento, Caio desviou sua atenção por meros segundos, e nós batemos o carro, o lado de Caio foi o mais afetado e ele morreu na hora, eu fiquei em estado grave no hospital, entrei em depressão depois da morte do cara que eu julgava amar, e Pietro me culpava pela morte do irmão. -Cherry respirou fundo e uma lágrima escorreu. Eu sabia que ela estava se segurando pra não desabar. Eu nunca imaginaria que ela já tinha passado por tanta coisa assim, limpei sua lágrima- Antes disso acontecer, Pietro havia tentando me estuprar, mas desistiu. Tempos depois se declarou apaixonado por mim -olhei incrédulo-
– Ta de brincadeira comigo ? -perguntei contendo minha raiva por um babaca qualquer ter tocado nela contra sua vontade-
Eu estava cuspindo fogo, passei as mãos pelo cabelo e minhas pernas ficaram inquietas de tanta irritação.
– Eu realmente queria estar brincando, mas não estou. Pietro reapareceu a algum tempo, jurando transformar minha vida em um inferno.
– A bebida, o cara da boate -eu conclui me lembrando de que um cara tentou a dopar e ela apenas concordou com a cabeça-
– Ele está tentando mudar, estamos... -interrompi ela-
– Estamos ? Você está vendo esse cara ? -perguntei sem acreditar que ela poderia estar fazendo algo do tipo-
– Ele pediu ajuda Ian. Assumiu que só me culpava porque se sentia culpado por tentar algo com a noiva do irmão que sempre o ajudou. Pediu desculpas e tudo mais.
– Desculpa não muda porra nenhuma Cherry -esbravejei e me levantei andando de um lado pro outro da sala-
– Pelo menos ele está tentando. Eu não disse que gosto dele, disse que estou tentando ajudar, isso que faço -Cherry falou mais alto agora me olhando- Queria saber da minha vida não é ? Me jogou contra a parede e me deu a condição de falar ou você leria tudo sobre mim, ai está. Não reclame, e não me venha achando que tem algum, por mínimo que seja direito de se intrometer nos meus assuntos, porque você não tem. Eu nem sei quem você é de verdade. -Cherry jogou as palavras sobre mim furiosa e se levantou deixando as folhas em cima da mesa e indo em direção da porta.
–Cherry -chamei- Espere -mas ela nem me olhou e continuou andando-
Corri até ela e entrei em sua frente quase batendo na porta devido ao pouco espaço entre Cherry e a mesma.
Passei meus braços pela sua cintura e a puxei colando nossas corpos e a abraçando, ela não lutou contra, passou os braços em volta do meu corpo e se encaixou. Minutos se passaram e Cherry ainda se encontrava nos meus braços, frágil como uma garotinha e eu sentia a necessidade de protege-la, meu coração estava mais acelerado que o normal e eu tinha a sensação de que ele poderia sair pela boca a qualquer momento, eu já ficava desesperado só de pensar que a qualquer segundo Cherry sairia dos meus braços e iria embora pra sua casa. De certa forma, eu fiz ela ficar assim com essa história de saber da vida dela.
– Me desculpe -eu pedi baixo e dei um beijo no topo da cabeça dela- Não foi minha intenção...
Cherry permanecia calada.
– Vem, vou te levar pra casa -eu falei desvencilhando meu corpo do dela que me olhou e logo em seguida passou a mão em minha camisa eu olhei para onde sua mão estava e percebi o que ela estava mostrando, suas lágrimas molharam a região do meu peito perto do ombro.
– Desculpe por isso -deu um sorriso fraco-
– Está tudo bem -disse passando a mão em sua bochecha-
Em um ato rápido e que me deixou surpreso mas bastante satisfeito, Cherry passou seus braços pelo meu pescoço e colou nossos lábios.