Capítulo 60

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Ian narrando

Estávamos todos reunidos na casa de meus pais. Eu, Cherry, Laysla e Davi, meus irmãos, meus pais e até mesmo a tia de Cherry com seu novo namorado. Minha morena estava radiante, sorrindo tão espontaneamente que me recordei por instantes de quando nos conhecemos. Já havia se passado dois meses depois da morte definitiva de Caio.
Todos estávamos tão bem, tão leves. Davi finalmente se prendeu a alguém e fico feliz por esse alguém ser Lay, ela é uma mulher realmente respeitosa e os dois dão certo. Minhas sobrinhas estavam rodeando Cherry e quase a deixando louca. Quando ela me percebeu encostado no para-peito da porta a observando eu sorri e me virei entrando na casa sabendo que logo ela apareceria lá dentro. Com o tempo Cherry passou a ser mais observadora do que já era. Ela já me conhecia como ninguém e me decifrava inacreditavelmente bem.
Ela podia dizer o que eu queria ou sentia apenas ao ver meu olhar. Acho que parte dessa boa intuição dela já existia antes mesmo de eu invadir a sua vida, afinal de contas ela era psicóloga e o seu papel era interpretar as pessoas para ajudá-las.
Nesses dois meses descobri tanto de Cherry que eu não conhecia e julgava conhecer. Ela sempre parecia me surpreender. Eu a olhava e procurava os seus defeitos. Tinha de haver algo devastador, não podia ser que ela fosse só qualidades, só coisas boas, só seriedade e paixão. Mas por mais que eu procurasse ainda não havia encontrado e as vezes me sentia frustrado por ter ao meu lado uma mulher tão maravilhosa enquanto eu, bem, apenas tento ser bom o suficiente. Contudo, eu sabia que Cherry me amava. Eu podia ver isso em cada ato seu.
Eu a observava diariamente, eu via como ela agia e tratava todos com tanto carinho, minhas sobrinhas amavam Cherry, meus pais, todos gostavam dela. Eu enxergava como ela amava estar ali, com pessoas de quem ela gosta e se sente acolhida.
Mas dentre tudo, eu estava observando atentamente a relação dela com minhas sobrinhas, ela se dava tão bem com crianças, as meninas a respeitavam e a obedeciam. Ela tinha um carisma contagiante. E por muitas vezes me peguei planejando uma vida ao lado de Cherry. Me peguei sonhando acordado em formar uma família com a mulher da minha vida, ter filhos, vê-los crescer aos cuidados da mãe atenciosa que ela seria.
Eu tinha uma surpresa pra morena. Meu irmão, Davi e Laysla tinham me ajudado a escolher e me encorajaram também. Eu não sabia se estava na hora certa de dar um passo tão grande, mas eu queria ter a certeza de que não perderia ela, por mais que ela me provasse isso todo dia. Eu precisava de mais. Porque o que eu sentia por essa mulher parecia ultrapassar os limites.
Eu me sentia completamente impotente ao falar de Cherry, ela me desestabilizou de uma forma grotesca. Aquele controle de tudo que eu sempre tinha sobre minhas mãos tinha simplesmente se esvaiado depois de sua chegada. Nada parecia estar mais ao meu controle, ela parecia dominar tudo, desde os meus pensamentos até minhas ações. Eu me esforçava diariamente para não deixar que ela percebesse o efeito que causava em mim. Eu dominava a situação o máximo que eu conseguia. Cada toque, fala e gesto seu me causava vibrações elétricas por todo o corpo. Seu gênio decidido me surpreendia sempre e me divertia.
Cherry era como um pássaro, eu a amava, mas isso não era motivo para prendê-la. Ela tinha que se sentir livre e assim tudo ficaria bem.

ouvi seus passos se aproximarem da sala e eu já a esperava sentado na beira do sofá com meu antigo violão no colo. Ela estava maravilhosa, com um vestido longo branco e no pé usava uma rasteirinha. Seus cabelos estavam soltos e maiores do que quando nos conhecemos. Seus olhos azuis brilhavam intensamente e eu sorri vendo a cara de surpresa dela. Eu nunca havia tocado para ela. Nunca havia nem chegado perto de qualquer estrumento musical quando estava com ela.
Apontei o lugar no sofá a minha frente e entendendo meu gesto, ela se sentou e continuou me observando.
Comecei a dedilhar as cordas do violão como quem lembra vagamente dos sons produzidos por cada uma delas.

Logo comecei a tocar uma música que descrevia exatamente o que Cherry havia causado em mim e na minha vida desde que apareceu.

Eu tava fechado e decidido
A nunca mais deixar ninguém brincar comigo
No lugar do coração pus uma pedra Não me apaixonar virou a regra
Fiquei cansado de fazer o papel de babaca
Eu tava solto por aí, emendando ressaca
Mas o destino veio disfarçado de acaso E te colocou do meu lado
E aquele bobo voltou
Quando a gente se beijou eu tremi na base
Se eu mandasse no tempo, eu dava pause
E nunca mais te soltava
Meu Deus, aonde você tava?
Eu tremi na base
Se eu mandasse no tempo, eu dava pause
E nunca mais te soltava
Meu Deus, aonde você tava?

Se não fosse por você...Where stories live. Discover now