Capítulo 19

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Cherry narrando

Eu permanecia calada, Ian não tinha o direito de invadir minha vida daquela forma, falar sobre aquele assunto ainda me doía.
– Eu não tenho que te contar nada -disse tentando controlar minha voz que estava querendo falhar-
– Cherry -falou sereno- Você trabalha na empresa agora, querendo ou não eu vou ter que saber de onde você vem, onde se formou, quantos anos tem, como sabe manusear tão bem uma faca, coisas dessa espécie.
– Mas eu não preciso falar essas coisas diretamente pra você certo ? Eu posso muito bem ter essa conversa com seu pai -eu disse o encarando pra esperar alguma reação que confirmasse o que eu estava falando, e logo ela veio. Ian bufou e virou o rosto olhando para a paisagem do nosso lado, já que o que nos separava de lá, era um vidro que pegava de um canto ao outro do segundo andar do restaurante-
– Prefere falar sobre isso com meu pai do que comigo ?
– Contando que você tem umas mudanças de humor que me tiram do sério e eu não te conheço. Eu prefiro confiar no meu chefe -pisquei e sorri zombeteira-
O moreno estava perdendo a paciência e era lindo ver ele daquela forma, inquieto. Ian passou as mãos pelo cabelo e me olhou.
– Já terminamos ? -eu perguntei agora séria o encarando-
– Vamos almoçar -disse e chamou a garçonete-
O abusado fez o meu pedido e o dele, não demorou muito pra chegar e apesar dele ter feito meu pedido não errou. Quando eu ia colocar a primeira garfada na boca, meu celular começou a tocar. Senti um par de olhos grudados em mim mas ignorei e abri minha bolsa a procura do barulho, era Pietro.
– Com licença -falei para Ian e me levantei indo para o banheiro enquanto atendia o celular-
– Oi
– Oi Cherry, te atrapalhei ?
– A não, é meu horário de almoço. Aconteceu alguma coisa ?
– Estou ligando pra marcar de novo -disse receoso-
– Claro, mas eu tenho que olhar alguns horários meus ainda, posso te ligar mais tarde pra gente combinar isso direitinho ?
– Ta, tudo bem.
– Ótimo, tchau.
–Tchau.
Desliguei o celular e me olhei no espelho, respirei fundo e sai de la voltando pra minha mesa. Ian bebia um gole do seu vinho despreocupadamente enquanto, agora, me olhava ir em sua direção. Sentei-me e olhei para o mesmo que se mantinha me encarando.
– Era uma ligação importante -disse sem graça-
– Tudo bem
Terminamos de comer em silêncio, na hora de ir embora tentei pagar pelo menos minha parte mas Ian não deixou. No carro o silêncio permaneceu até chegarmos no estacionamento onde eu agradeci e sai do carro andando o mais rápido que pude pra despistar ele. Lembrei do dia em que o provoquei no estacionamento, maldito dia.
Entrei na minha sala como o flash e fechei a porta. Dei de cara com sr. Henry, maravilha! Fosse o que fosse eu previa estar ferrada.
– Boa tarde Cherry -sorriu graciosamente-
– Boa tarde sr. Henry -sorri de volta envergonhada-
– Só Henry
– Claro. Aconteceu algo ?
– Ah, nada demais. Sente-se -disse e apontou pra minha cadeira- Ian já passou por você ?
– Bem, não -disse receosa e Henry negou com a cabeça-
– Meu filho se tornou um homem mas em alguns pontos ainda parece um menino -eu abri a boca pra concordar mas lembrei que eu não podia fazer isso a tempo e fechei novamente a boca- Eu pedi pra que ele viesse.
– Ele está com algum problema?
– Ele anda diferente Cherry, se fecha cada vez mais, ultimamente está ficando estressado com mais frequência, parece que anda de segredinhos pra la e pra cá. E isso me perturba, eu sei que não é nada relacionado a algum perigo do trabalho porque se não ele contaria pra família, e eu conheço meu filho. Desde a última vez que ele ficou assim foi pra nunca mais. Mas de repente, está tudo acontecendo de novo.
– Desculpa eu não estou entendendo muito bem, o que já aconteceu com ele?
– Uma desilusão Cherry -disse receoso-
Eu estava em choque, como assim uma desilusão? Ian Fell sofreu uma desilusão? Meu Deus.
– Você parece estar surpresa.
– Me desculpe Henry, é que Ian não parece do tipo que sofre uma desilusão, ele é sempre tão firme. -e bingo. Me arrependi de ter aberto a boca-
– Vocês estão próximos ? -perguntou me olhando agora-
Eu estava perdida, o que eu falaria?
"Ah, claro, tão próximos que estou até apaixonada por ele, que doidera ne?".
– Bom, eu conheço ele como qualquer um aqui, não mais que isso -disse e não menti. Eu realmente não conhecia o homem por quem me apaixonei-
– Entendi -disse desanimado- Mas de qualquer forma eu queria que tentasse falar com ele, tentar aliviar a barra porque eu sei como é difícil pra ele. Pode fazer isso ?
– Eu posso tentar, mas não prometo. Pra ajudar ele, ele tem que me ajudar também, se abrir pra mim, eu não posso forçar esse tipo de coisa.
– Tudo bem, isso já é ótimo -sorriu- Obrigado Cherry -me limitei a sorrir enquanto Henry se levantava e logo em seguida saia da minha sala-
Ótimo, agora eu tinha que dar meu jeito e fazer ele falar. Agora eu tinha um motivo mais forte pra demonstrar o que sinto. É pelo fato de ter medo de ser iludido de novo que ele não se entrega, que fica nessa bipolaridade louca dele. Mas eu estava determinada a acabar com isso, e se não fosse pra ficar comigo, que pelo menos não sofresse ao ponto de se fechar por algo que já passou.

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