Se não fosse por você...

Capítulo 42

Cherry narrando

Entrei na cafeteria procurando por Pietro, logo o avistei na mesa do canto, mais afastado de toda a movimentação do lugar. Com passos largos fui até ele que se levantou para me cumprimentar e em seguida nos sentamos.

-Bom, você disse que queria conversar - Seus olhos extremamente claro me encaravam com curiosidade agora e eu me preparava para lhe fazer um questionário sem esquecer que Ian estava ouvindo tudo-

- Quero falar sobre Caio - eu disse séria e Pietro franziu a testa-

- O que quer falar sobre ele ?

- O quanto o conhecia Pietro ? -indaguei sem o dar tempo para pensar-

- Porque isso agora ?

-Me responda, quanto conhecia de seu irmão ?

- Conhecia bem, muito bem eu imagino.

- Então sabe onde quero chegar

- O que ? Cherry eu estou confuso, me diga, onde quer chegar.

- Ele não me amava ne ?

- Não, espera. Você está pirando -disse cruzando os braços e balançando a cabeça negativamente sem me olhar-

- Está mentindo pra mim

- Não estou mentindo pra você -disse olhando em volta-

-Qual é Pietro ? Sabe que esse jogo eu sei jogar muito bem. Os braços cruzados o sinal negativo com a cabeça olhando o ambiente procurando por pessoas específicas. Não tente me enganar.

- O que estão fazendo aqui ?

- Não importa. Sabia da traição de Caio não é ?

- E vai mudar alguma coisa se eu disser que sim ?

- Agora ? Bem, não. Mas você poderia ter mudado minha vida se tivesse me contado antes.

- Eu não soube a tempo Cherry. Quando descobri ele já havia falecido. Fui enganado também.

O observei bem antes de continuar.

- Quando soube ? E porque mesmo assim não me contou ?

-Soube mais ou menos um mês depois, achei que não faria diferença.

- E fez - falei mais para mim do que para ele-

- O que ?

- Nada. Eu preciso ir - disse me levantando mas Pietro se levantou junto e segurou meu braço-

- Se isso te trouxe problemas eu posso resolver Cherry

- Eu não preciso que resolva meus problemas pra mim

- Claro -sorriu irônico- Você tem um namorado que já faz isso

- Ele não é meu namorado, e mesmo que fosse você não tem literalmente nada a ver com isso. Só me faça um único favor, me esquece e vai cuidar da tua vidinha medíocre. -cuspi as palavras em sua cara e soltei meu braço de sua mão saindo dali logo em seguida-

Lá fora tirei o microfone e joguei no chão e segui rumo ao meu carro.

- Hey - ignorei- Cherry -continuei andando- Mas que droga, será que da pra parar -Ian disse entrando na minha frente e me fazendo parar bruscamente antes de trombar com seu corpo.

- O que você quer ? -perguntei olhando no fundo dos seus olhos-

- Não acreditou em mim ne ? Quando eu disse que o Caio te enganou. Olha só, eu não precisava mentir pra você Cher, afinal de contas eu não sei se percebeu mas eu também fui enganado, tô nessa tanto quanto você, e também quero saber qual o real motivo disso tudo. Não precisa confiar em mim se não quiser, mas não se envolve com esse tipo de gente sem que eu saiba, eu só estou tentando te manter segura, será que dá pra fazer esse esforço ?

- Não é que eu não acreditasse em você, só que... -respirei fundo- É complicado -eu disse por fim-

- Eu sei, fica calma ta. A gente vai conseguir sair dessa, mas tem que confiar em mim. Olha pra mim Cherry -colocou as mãos em meu rosto e me encarou- Confia em mim ?

Me limitei a balançar a cabeça positivamente.

- Ótimo, vem vou te levar pra casa -disse pegando na minha mão e me guiando-

O caminho até lá foi totalmente silencioso e de certa forma eu dei graças por isso, não estava mesmo no clima pra conversa, além de tudo que já estava acontecendo na minha vida, ver Ian de novo me deixava fragilizada de alguma forma que desconhecia.

Eu amava o cara que se encontrava do meu lado naquele momento. O cara gentil, passivo, companheiro, confiável, preocupado, protetor etc etc. Mas tinha um lado dele no qual eu ainda não tinha me acostumado e ainda me aterrorizava. Pode parecer clichê e no fundo até é, mas eu sempre fui do tipo de pessoa que procura sempre enxergar algo bom, alguma esperança nos outros. Na minha cabeça sempre viveu a ideia de que as pessoas tem muito mais a mostrar umas as outras do que realmente mostram. E que cada qual tem sua dor e não podemos julgar o outro nem comparar a nossa dor com a do outro pois não sabemos o quanto realmente dói nele. Só poderíamos julgar outra pessoa se vestíssemos a pele dela, coisa que não acontece, então as ações de cada um, só condizem a cada um. Mas mesmo ciente disso, eu ainda esperava que as pessoas que agiam de forma terrível, se redimissem e tentasse consertar as coisas. Eu não enxergava isso como um problema, eu só via esperança na humanidade, e isso não é ruim. E não adianta dizer que não tem esperança, é como acordar todos os dias, basicamente nem eu nem ninguém sabe o dia de amanhã, não sabemos se vamos ao menos acordar, mas mesmo assim a maior parte de nós coloca o despertador pra tocar cedo pra não se atrasar pros nossos compromissos, e a outra parte acredita que não precisa de despertador, que vai levantar em alguma parte da manhã. Isso é ter esperança, esperança de que no outro dia nós iremos acordar e tratar dos assuntos inacabados.

- Obrigada por me trazer -falei antes de abrir a porta do carro e descer-

- Cherry, espera - Ian disse rodeando o automóvel-

Olhei pra ele que agora se encontrava na minha frente e esperei para ouvir o que ele tinha a dizer.

- Não foge de mim ta ? Olha, eu sei que fui um idiota ultimamente e que eu deveria te colocar a par do que estava acontecendo, mas eu preciso de você aqui. Preciso de você perto de mim, porque a gente ta no mesmo barco, tudo que um dia eu achei que fosse verdade não era. Eu acabei caindo na real e descobri que de repente a coisa mais real que eu já senti foi por você, é por você. E aquilo tudo, de casamento, foi uma grande farsa na minha vida. -chegou mais perto de mim e mais uma vez colocou suas mãos em meu rosto- A única certeza que eu tenho na minha vida agora, é você. Não me deixa no escuro. -me deu um beijo na testa e se afastou-

Depois disso eu só ouvi o barulho do motor sendo ligado e vi o carro entrar em movimento sumindo do meu campo de visão em poucos segundos.