O primeiro beijo...

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Bom, a primeira pessoa que fiquei na vida foi também uma das mais bonitas. Eu não entendi até hoje como isso aconteceu. O cara era o estereótipo do gay fodão que pega todos e eu tinha lá meus 20 anos, dente encavalado, cheio de espinhas na cara e tentando a sorte na balada pela segunda vez.

A primeira vez que fui em uma balada, arrastado pelo meu amigo Silva que, junto comigo se revelou gay depois de conversas que pareciam sessão de terapia em nossos encontros rumo a explorar São Paulo, caí em uma chamada Clube Z, que era uma balada lésbica. Que sortudos, fala sério?! Não poderia ser mais traumático, considerando que tivemos que passar a noite inteirinha naquele lugar entediante, vendo uma penca de mulher se pegando.

Lembrando agora, fui meio burro, pois lembro que tinham alguns rapazes lá também, e minha timidez não deixou que eu chegasse junto, claro. Lembro até hoje de um gatinho sozinho lá sentado não sei aonde, pois nem sentar podia naquele lugar infernal, tão perdido quanto a gente num mundo de lésbicas canibais se engolindo.

Voltando, só depois de séculos esse meu amigo conseguiu me convencer a ir em outra balada. Sempre fui o cara recluso que não gosta de sair de casa, que prefere um filme a uma balada. Sim, sou desses chatos mesmo. O fato é que acabei cedendo e fomos à Tunnel. Depois que encontrei alguém pra beijar na balada, eu concluí o óbvio: ali era meu lugar.

O ser humano, como bom animal que é, adora repetir seus comportamentos que geram recompensa. Eu, como um bom ratinho em busca de meu queijo, passei a frequentar o lugar. Nessa primeira vez que eu estive lá, conheci o Rony. Fortão, gostosão, me deu aquele sorriso de canto de boca, mascando um chiclete e sentindo-se a ultima bolacha do pacote enquanto eu agarrava a parede com tanta força que podia entrar dentro dela se me esforçasse um pouquinho mais. Ele se aproximou, claro, e perguntou meu nome.

— Arthur. – respondi, com toda timidez do mundo.

— Rony. – falou, mascando seu chiclete como quem não se importa com a conversa. — E ai? De onde você é?

— Eu?... ahn, eu sou de...  – Ele não deu tempo de eu responder. Com uma virada brusca, me deu o beijo, o primeiro beijo da minha vida que eu nunca me esquecerei. Zoeira, já esqueci faz tempo o sabor. Há beijos que ainda lembro o sabor, mas o beijo do Rony não foi desses. Simplesmente o beijo, sem nem tocar os corpos, e o beijo acabou. E depois vieram mais alguns. Devia ter gosto de chiclete, sei lá. Só sei que foi uma ficada de poucos minutos. Rony, com todos os seus músculos e ar cool tinha uma balada toda pela frente.

— Vou dar uma volta, a gente se fala. – E eu realmente acreditei nisso quando ele partiu. Claro que já ouvi tanto essa desculpa hoje em dia que virou algo corriqueiro.

Qualquer dia, quando alguém me disser que vai ao banheiro e já volta, direi que vou junto só pra zoar. Só pra ver a reação da pessoa. Adoro fazer testes de reação com as pessoas, é bem divertido.

Outro dia, entrei no Skype e vi que um babaca que conheci no chat e passei três horas conversando no telefone tinha me excluído sem motivo. Só que a toupeira se esqueceu que tínhamos nos falado no telefone e, só de pirraça, eu liguei lá. Liguei mesmo. Ele atendeu e não sabia quem era, e eu fiquei falando "Ah, você não sabe quem é? Por isso me excluiu do Skype?" Ele ficou mega constrangido e até pediu o contato de volta. Claro que não dei. Apenas falei pra ele aprender como era feio fazer isso de excluir as pessoas sem motivo. Espero que ele aprenda a lição de casa do professor aqui.

Bom, o motivo de eu ter ficado com o Rony foi puramente orgulho ferido. Eu vi meu amigo Silva ficando com um cara e estabeleci a meta de pegar alguém. Eu imagino minha cara de piriguete caçando na balada até achar o Rony. O fato é que consegui e, de quebra, meu amigo ainda viu o Rony e pagou um pau. Arianos são competitivos por natureza e precisam estar no topo da liderança.

Diário de um ex-virgem gayDonde viven las historias. Descúbrelo ahora