OBIs: Parte II: Quando você se vai...

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Você já deve ter tido um inimigo. Aquela pessoa que não pode estar aonde você está, que não pode coexistir com você. Se você nunca teve um inimigo, com certeza ainda terá um. Esses inimigos nos fazem amadurecer, mesmo que há muito custo.

Para contar do cara que mais gostei na empresa, é necessário falar do que eu mais odiei também. Seu nome era Fausto. Nos conhecemos no dia do exame médico, conversamos antes de entrar na sala para fazer os exames. Me pareceu boa pessoa, humilde até.

Pura fachada.

Na empresa, revelou-se o mais insuportável e mesquinho dos presentes. Cada frase que dizia era uma afronta ou uma indireta, principalmente com relação à minha sexualidade. Ele sabia de mim, sem dúvida. Havia vezes em que falava:

—Arthur, não precisa ter medo, estamos no mesmo barco. Preto e viado sofrem o mesmo tipo de preconceito.

Ele era negro e parecia menosprezar a si próprio. Minha presença parecia ser para ele uma ofensa. Vivia falando de mulheres, perguntava várias coisas sobre eu com elas e eu sempre inventava mentiras, tentando convencê-lo como se isso fosse mudar algo.

Eu simplesmente não suportava conviver com ele.

O maior motivo de eu querer sair da empresa no vencimento de seu contrato era ele.

Fui efetivado. David, um dos meus amigos, deixou a empresa. Fausto me viu triste naquele dia.

—Hah, ele saiu e outro entra. É bom que sobram mais vagas pra gente.

Repulsivo.

Eu fazia o possível para ignorá-lo.

Um dia, recebi uma tarefa do inventário de retirar alguns pallets do caminho e isso atrapalhou Fausto em um serviço que ele estava fazendo. Eu estava perto do Alvaro quando tudo aconteceu. Fausto veio até mim tirando satisfações e gritando, dizendo que eu estava atrapalhando o serviço dele. Eu sou marrudo, e na hora só me veio continuar meu serviço. Ele foi pra cima de mim e pegou o meu carrinho no qual levava o pallet. Minhas mãos seguraram junto às mãos dele. Lembro que aquele momento parecer uma eternidade. Íamos nos atracar ali mesmo. No dia, quem estava na liderança era Jonas, um rapaz de uns trinta, aspirante a líder e sonhador que sempre ficava de líder na ausência de Dário, o coordenador oficial. Ele veio nos separar, dizendo:

—Ou vocês trabalham juntos ou não sei aonde vamos parar!!

Minha relação com Fausto não poderia ser pior. Alvaro me chamou de canto naquela noite.

Arthur— ... Toma cuidado com o Fausto. Ele não é como os outros!! Ele é barra pesada!

Lembro que aquelas palavras me abalaram enquanto eu dizia não ter medo dele. Eu estava apavorado e pior: Não sabia o que fazer para que ele largasse do meu pé. Usei a tática de ignorar. Passei a não falar mais com Fausto.

Depois de ser efetivado, Dário chamou a mim e ao Alvaro e nos disse que dali em diante, cada um treinaria uma semana no que chamavam de cabine: Uma espécie de cérebro no centro do galpão, onde dois rapazes cuidavam da parte burocrática da empresa, como notas de entrada e saída, verificação de caminhões e alocação de mercadoria.

Eu fui o primeiro a ser testado.

Fiquei treinando com um rapaz que todos chamavam de nerd. Tinha uns óculos grandes e era anti-social, porém um gênio. Dezenove anos, Roberto parecia ser mais velho.

Ele não soube me ensinar absolutamente nada. Eram muitos procedimentos e um sistema de computador intrincado. Eu simplesmente não entendia nada.

Diário de um ex-virgem gayOnde histórias criam vida. Descubra agora