O fim: Parte III: Ironias e superficialidades natalinas

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Após me formar em Designer Digital, as coisas começaram a esquentar. Fiquei doente na semana seguinte da apresentação (um problema no intestino do qual demorei um pouco a me recuperar) e surgiu uma entrevista de uma produtora de animação para fazer. No dia eu estava muito mal, mas pelo telefone, a mulher perguntou:

— E ai, quando pode vir?

— Eu estou livre qualquer dia.

— Vamos resolver hoje então.

Fui, debilitado, quase me arrastando, mas chegando lá não estava sentindo dor nenhuma. Me assustei quando vi que o local era uma casinha humilde (eu esperava um prédio de uns 20 andares). Ela levou meu pendrive para a sala de produção, onde tinham dois rapazes (um deles muito lindo) e ficou admirada com a animação que fiz para o TCC. Depois fomos para a outra sala e ela me disse dos planos deles de criar um curta metragem em animação (ou seja, não era exatamente um emprego fixo). Mesmo assim fiquei contente pelas portas da área estarem finalmente se abrindo.

Saí de lá e a dor voltou...

Dois dias depois o telefone tocou. Uma vaga para Logística, minha área antiga, oferecendo um horário ruim, porém um salário como nunca tinha visto antes. No início pensei em nem ir à entrevista, mas com a ajuda do Silva pensei melhor e fui. No momento, se vier bom salário em logística, é lucro, pois poderei pagar os sites de estágio (um absurdo site de estágio pago...) e também suprir alguns desejos que tenho desde que saí da última empresa.

Uma semana após terminar a faculdade, a vida colocou diante de mim a oportunidade de Designer e de Logística.... Santa ironia. Esperei a resposta dos dois lados, o que viesse é lucro. E enquanto não vinha nenhuma, continuei correndo atrás das duas áreas. Só havia uma certeza no ano que entraria: Eu iria trabalhar em algo e daria os primeiros passos para construir minha carreira e independência.

No quesito "homens", estava tudo bem tranquilo e parado. Voltei a entrar em um site de "relacionamento" (aquele que mais parece uma feira), mas quase nada acontecia por lá. A maioria das pessoas era dotada de uma superficialidade astronômica.

O último que conheci foi um rapaz de 26 anos. Quando adicionei ele, as fotos pareciam bem legais, fomos conversando e o papo foi interessante. Às vezes eu sou tão inseguro que se a pessoa gostou de mim, eu já me afobo e dessa vez eu o chamei para ir ao cinema precipitadamente. Mandei umas fotos minhas e ele curtiu, mandando algumas dele. Foi ai que eu vi onde me meti. Era o cão chupando manga..... e eu já tinha dado meu celular.

De noite, me mandou duas mensagens, uma com o horário do filme e outra dizendo:

"Arthur, curti muito vc, espero podermos ter algo ^^"

Bom, eu não via mais possibilidade de encontrá-lo, então no dia seguinte esperei ele no msn.

"Oi, Arthur, tudo bem? Viu os horários do cinema? O que acha?"

"Ahn, tem algo que eu preciso dizer... Não podemos mais nos encontrar."

Dei a velha desculpa do rolo que estava enrolado e do dia pra noite desenrolou, e que por estar com outro, não poderia encontrá-lo.

"Tudo bem, Arthur... Já estou acostumado, ninguém me quer. Melhor mesmo eu ficar sozinho. As pessoas sempre me trocam. É normal."

Me bateu aquele mal estar, olha o que eu proporcionei para o rapaz cheio de esperanças em seu natal... E o pior é que eu me identifiquei com ele. No fundo eu também era sempre trocado por algo, vivendo histórias incompletas. E depois eu ainda chamava os outros de superficiais. Mas algo que aprendi é que não podemos fazer nada de forma forçada, e eu não estava no pique de sair com alguém por hora.

O natal estava chegando e nessa época minha tendência é a de não ficar muito bem... É a velha história de que a lembrança de velhos natais é sempre melhor do que os atuais. Mas iria tentar fazer desse ano algo diferente, nem que fosse pela indiferença.

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now